83.

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--- Harry On ---
Tinha mesmo de apanhar os semáforos todos vermelhos? Que nervos… O Niall ligou-me há pouco a dizer que a Bia não estava bem. Ela decidiu ir visitar o Jack e saiu de lá completamente de rastos. Sinto-me um estúpido por não ter estado ao seu lado quando ela lá foi. Sou um mau namorado por isto… Segundo o Niall quando ele a foi buscar ela simplesmente o abraçou e chorou. Chorou mesmo “debaixo” das palavras reconfortantes do próprio Niall. Ele lá a conseguiu acalmar e levou-a para nossa casa. É estranho dizer que a casa da Bia também é minha, mas é verdade. Ele também me disse que eu vou ter de explicar porque menti dizendo que ia gravar qualquer coisa para o CD. Em parte é mentira, pois não gravei nada para o CD, mas eu fui gravar sim, mas outra música e uma só música. O dia de hoje era para ser terminado da melhor forma, relembrando um momento que eu tive com a Bia e jamais vou esquecer. Agora fiquei mesmo fulo por saber que se calhar a minha namorada está mais insegura do que devia a meu respeito. Isto além dela ter precisado de mim e eu não ter estado a seu lado. Eu deveria ter atendido a porcaria do telemóvel, mas não fui a tempo. E agora tenho os semáforos contra mim.
Esta viagem desde o estúdio até casa foi muito longa. Longa até demais. Finalmente avisto o prédio e estaciono num dos lugares vagos. Apresso-me a sair e a chegar à entrada. Passo pelo porteiro que me cumprimenta e dirijo-me ao elevador. Assim que chego ao andar correcto respiro fundo ao olhar para a porta. Levo a minha mão à campainha e dou um toque. Não sei que vou encontrar, mas apenas quero saber como está a Bia. A porta abre-se mostrando um Niall com uma cara preocupada, mas que me sorri ligeiramente.

Niall: Até que enfim. Entra… Pensei que tivesses a chave.
- A Bia ainda não me deu a cópia. Como é que ela está? Afinal o que aconteceu?
Niall: Ela foi visitar o Jack e a conversa que tiveram deitou-a abaixo emocionalmente. Nunca a vi naquele estado. Ela chorou bastante e acabou por adormecer.
- E ela contou-te o que falaram?
Niall: Muito por alto. Eu tentei acalmá-la da melhor forma, mas não foi fácil. Ela está frágil. Posso perguntar-te uma coisa?
- Claro.
Niall: Onde é que te meteste hoje que não foste às aulas? A Bia disse que tu tinhas ido gravar, mas…
- Sim eu fui gravar, mas não para o nosso CD. Fui ao estúdio gravar uma música. Uma única música.
Niall: Um single?
- Sim. A letra fui eu que escrevi e mostrei ao Richard. Pedi acima de tudo para ser apenas eu a cantar pois é especial para mim e para a Bia.
Niall: A música é para ela?
- É… Ela está triste comigo, certo?
Niall: Um pouco. Mas de certeza que ao saber o que realmente estiveste a fazer ela vai ficar contente. (olha para as horas). Bem se não te importas eu vou andando.
- Claro. Vai lá.
Niall: Toma conta da tua menina. Ela precisa de ti. Agora mais que nunca. (sorri e aproxima-se da porta)
- Niall… (chamo e ele olha-me) Obrigado por teres tomado conta dela.
Niall: Fiz o que qualquer amigo faria. Agora é a tua vez de cuidares dela.

Vejo o Niall fechar a porta atrás de si deixando-me sozinho naquela sala. Respiro fundo antes de fazer com que os meus pés andem até ao quarto onde a Bia está. Rodo a maçaneta da porta com cuidado de modo a fazer pouco barulho. O quarto está com pouca luz devido às cortinas fechadas. Entro fechando a porta atrás de mim e olho para a cama onde a Bia dormia. Aproximei-me dela e ao vê-la noto que as suas bochechas estão vermelhas e ainda molhadas devido às lágrimas. Suspiro e sento-me ao seu lado. Olho em volta e vejo uma manta sobre a cadeira e apresso-me a buscá-la. Com cuidado coloco a manta sobre o corpo da minha namorada. Um aperto no meu coração aparece como que a dizer que eu só estou bem se ela estiver. Reparo que na mesa-de-cabeceira está um envelope com o meu nome. Acho estranho, mas pego nele e abro vendo o seu conteúdo. Um sorriso na minha cara é inevitável pois dentro do envelope encontra-se umas chaves – as chaves desta casa. Volto a colocar as chaves no criado mudo e olho para a Bia com um ligeiro sorriso. Levo a minha mão à sua face e passo os meus dedos por ela fazendo uma pequena festa. De seguida as minha mão percorre os seus cabelos começando a brincar com eles.

Não sei ao certo quanto tempo já passou desde que aqui estou. Vejo a Bia aos poucos a despertar. Ela abre os olhos e ao olhar para mim os seus olhos mostram muita tristeza e mágoa, o que me deixa também triste.

- Ei…
Bia: Harry… (fala ainda com voz ensonada e embargada)
- Estou aqui.

Ela abraça-me forte e aninha-se nos meus braços como quem procura o seu porto de abrigo. Oiço um pequeno soluçar e deduzo que ela está a chorar novamente. Odeio vê-la assim. Até parece que fui atingido pelo pior pesadelo de todos.

- Não gosto de te ver chorar. Se eu pudesse carregava comigo toda a tristeza que te assombra. (puxo-a para o meu colo e dou-lhe um beijo no topo da cabeça)
Bia: Eu não me queria sentir assim. (esconde a sua cara na curva do meu pescoço)
- Queres contar-me o que vocês falaram?
Bia: Ele… Ele pediu desculpa. Desculpa por tudo o que me fez passar a mim e à minha mãe. Eu acho que foi sincero, mas por outro lado não consigo esquecer. Ele falou na minha família e disse que os meus pais fizeram um bom trabalho comigo, mas no fim eu explodi. Disse-lhe coisas que tinha vontade de dizer há bastante tempo atrás. Finalmente consegui dizer tudo o que senti em relação ao que aconteceu.
- Ficaste mais aliviada?
Bia: Sim, mas sinto-me péssima.
- Não tens de te sentir assim. Todos sabemos que o que aconteceu sempre te abalou e muito. O que tu passaste não é fácil de esquecer. Tu tens bom coração e lá no fundo até o desculpas embora não esqueças.
Bia: Acho que foi a última vez que o vi. Saí de lá com uma sensação estranha.
- Pode ser só impressão tua.
Bia: Assim espero… Já as vistes?
- Vi quem? (olho-a meio confuso)
Bia: As chaves…
- (olho para a chaves) Sim.
Bia: (noto-a pensativa) Ainda queres viver comigo?
- Óbvio que sim. Não mudei de ideias. (observo-a meio atónito com a pergunta) O que te faz pensar isso?
Bia: Apenas insegurança…
- Não precisas de estar insegura. Eu sei bem o que quero. E neste momento o que eu mais quero é viver contigo.
Bia: Porque me mentiste?
- Sobre a gravação de hoje? (ela assente) Já deduzia que irias perguntar isso.
Bia: Então…
- (interrompo) Eu hoje estive a gravar sim, mas não para o CD da banda. (ela olha-me confusa) Lembras a música que te cantei e que escrevi quando te magoei?
Bia: “Don’t let me go”?
- Essa mesmo. Pois bem, eu mostrei ao Richard e ele fez-me cantá-la. No fim ele perguntou se eu gostava de editá-la e eu aceitei. Mas com uma condição.
Bia: Qual?
- Apenas seria um single e seria dedicado a alguém especial. Esse alguém és tu.
Bia: Eu? (o seu olhar é brilhante)
- Quem mais poderia ser. És tu que eu amo e a letra foi escrita para ti. (beijo-a delicadamente)
Bia: Amo-te. (trocámos um beijo carregado de amor e carinho)

Ficámos mais uns minutos ali abraçados e a namorar. Eu tinha a necessidade de a fazer sentir bem e protegida.

- Sabes que vais ter de contar aos teus pais que foste ver o Jack, não sabes?
Bia: Sei. E também sei que o meu pai e o Zayn vão odiar saber.
- Eles podem não aceitar inicialmente, mas acredito que não vão ficar zangados contigo. Apenas fizeste o que o teu coração mandou.
Bia: Será que posso pedir-te para estares comigo quando eu lhes contar?
- Isso nem se pergunta. Eu estarei a teu lado.

A muito custo lá nos arranjámos e eu decido levar a Bia a casa. Ela está nervosa e posso ver que mesmo que por fora esteja bem, ela está a fazer-se de forte. Tenho plena noção que o Zayn e o James não vão aceitar que a Bia tenha ido visitar o Jack, mas espero que não a façam sentir-se pior do que já está. Bom, mas um de cada vez. Primeiro o James e depois o Zayn.

Assim que entramos em casa dos Malik o meu mundo tem um ligeiro colapso. O Zayn está por cá, assim como a Perrie e a Jessie. O olhar da Bia percorre a sala e ao ver que o seu estado não é o melhor, todos desatam a fazer perguntas.

Ellen: Bia o que aconteceu?
Bia: Ainda bem que aqui estão todos. Assim conto de uma vez. (olha para mim e eu aperto a sua mão para lhe dar segurança)
James: Que se passa?
Bia: Eu fui visitar o Jack. (engole em seco)
Zayn: Foste o quê? (fala meio irritado)
James: Como foste visitá-lo? Eu devo ter ouvido mal.
Bia: Não, não ouviste. Eu fui visitá-lo e acreditem que foi o que mais me custou fazer.
James: Eu tinha-te pedido que não o fosses ver. Caramba, Bia. (fala meio exaltado)
Ellen: James não precisas de falar assim.
Bia: Eu apenas fiz o que o meu coração mandou. (diz de lágrimas nos olhos)
Zayn: O coração Bia? O teu coração disse-te para ires visitar aquele “monstro”?
James: Já esqueceste o que ele te fez? O que fez à tua mãe? À nossa família?
Bia: Não, não esqueci. (a sua voz soa mais fraca que a deles) Só peço que me compreendam. Eu precisava de o ver. Para fechar definitivamente o capítulo da minha vida.
Zayn: Compreender o quê? Compreender que aquele homem quase destruiu a minha família? É isso que queres que eu compreenda? Desculpa Bia, mas não consigo.
Bia: Por favor. Não me façam isto. Não agora.
James: Bia, eu pedi tanto, mas tanto…
Bia: Pai por favor. Foi ele que me criou. Entende isso por favor. Eu tinha mesmo de lá ir.
James: Até pode ter sido ele a criar-te, mas ele não é teu pai. (fala quase gritando)
Bia: Mas foi o pai que tive durante anos.
Zayn: Se ser pai é bater na mulher e nos filhos então temos um conceito muito diferente de pai.
Bia: Sabes, eu sei o que é crescer sem pai.
James: Mas porque insistes então a tratá-lo por pai? Sabes que isso me dói. (diz exaltado) Eu é que sou teu pai!
Bia: O pai que me abandonou. (fala impulsivamente)

Vejo o James levantar a mão em direcção à Bia. Como instinto eu agarro-lhe o braço impedindo que ele toca na filha.

- Não faça isso ou vai perder todo o respeito que ela tem por si.

Olho nos olhos do James e apesar de ver desilusão vejo também arrependimento do que acabou de acontecer. A Bia está em choque a olhar para o pai, assim como o Zayn está petrificado a olhar para a irmã. A Perrie envolve a Ellen num abraço visto ela estar com lágrimas nos olhos.

James: Bia… Eu não queria… (aproxima-se dela e vejo que ela se afasta)
- Não te aproximes. Tu ias bater-me… Tu ias…

Ela baixa o olhar e vira costa correndo para o quarto onde apenas se ouve a porta bater com alguma força.

Ellen: Que foste fazer James? Tu sabes o que ela sofreu e ias fazer o mesmo que o Jack.
James: Eu não queria. Eu juro que não queria. (senta-se no sofá e leva a mão à cabeça)
- A violência não leva a lado nenhum. E se me permitem dizer, todos vocês estão errados em relação aos motivos que levaram a Bia a visitar o Jack.
Perrie: O que é que tu sabes?
- Ela foi visitá-lo para colocar um ponto final na perseguição que ele faz. Ele agradeceu todo o trabalho que vocês (olho para a Ellen e para o James) tiveram para tornar a Bia na pessoa que é hoje. Ela disse-lhe tudo o que sentia em relação a ele e ao que ele fez. Posso garantir que ela lá no fundo até o pode ter desculpado, mas jamais vai esquecer pelo que passou. Eu vi o estado em que ela estava depois de o visitar e digo-vos que se ela já estava emocionalmente em baixo ainda ficou pior. Ela pode ser forte, mas é mais sensível do que imaginam.
James: Eu só quero que ela entenda que apenas lhe quero bem.
- E ela sabe disso, James. Porque achas que lhe custou tanto ir vê-lo? Porque achas que ela chorou só de pensar na tua reacção e na do Zayn? Para ela, vocês são o que ela tem de melhor e apenas nos quer proteger. Ela foi vê-lo, mas sempre com o pensamento em vocês. Ela precisava mesmo de o fazer para se libertar das sombras do passado.
Zayn: E achas que deu resultado? (pergunta num tom bastante baixo)
- Dava se vocês a compreendessem e não a deitassem abaixo. No momento em que ela mais precisa vocês viram as costas. Imaginem como ela se sente ao ver que tanto irmão como o ai estão contra ela. Que não a apoiam incondicionalmente. Zayn quando à pouco falaste do conceito de pai, não esqueças que um pai não serve apenas para criar um filho. Envolve muito mais que isso. Quando te vejo com a Jessie garanto que sentes que eras capaz de tudo por ela, ou estou enganado? (assimila as minhas palavras olhando a Jessie) James o mesmo aconteceu quando você olha para a Mel. Por isso vocês os dois sabem o que é ser pai. Agora coloquem-se no lugar da Bia e pensem no que ela passou por não ter crescido com o seu pai. O Jack era a única referência paternal que ela teve durante anos.
Ellen: James ela é tua filha e tu tens de lhe mostrar que a amas e apoias mesmo com todos os erros que ela cometa.
James: Fiz asneira e da grossa. (suspira)
Zayn: Eu quero que a minha filha sinta que estou do lado dela para o bem e para o mal.
Perrie: Amor eu sei que a Jessie já sente que és o pai dela. (pega na sua mão para o reconfortar)
- A Bia tem uma personalidade forte e todos nós a amamos como ela é. Não a façam sofrer. Ela não merece.
James: Eu tenho de falar com ela.
Zayn: Eu também.
- Não façam isso hoje. Deixem para amanhã.
Perrie: O Harry tem razão. A Bia precisa de espaço. Se vocês lá forem agora, o mais certo é começarem novamente a discutir.
Ellen: E aposto que nenhum de vocês quer isso.
James: Eu só quero a minha filha de volta.
Zayn: E eu a minha irmã.
- E vocês vão tê-la de volta. Mas vai levar o seu tempo. A Bia que está trancada naquele quarto não é a mesma Bia que todos conhecemos. Ela está frágil e para mim custa saber que ela novamente se vai fechar no mundo dela.
Ellen: Harry só tu a consegues tirar daquele “mundo” dela. Por favor traz a Bia de volta.
- Eu posso ajudar sim, mas depende muito do Zayn e do James. Agora se não se importam vou vê-la.

A Ellen e o James assentem e eu caminho até ao quarto da pessoa que mais precisa de mim neste momento. Por momentos penso que a porta está trancada, mas depois de a tentar abrir apenas reparo que está aberta. Entro e vejo o corpo da minha namorada na cama encolhida e com lágrimas nos olhos. Ela repara em mim e levanta-se vindo-me abraçar começando a chorar. Custa tanto vê-la assim, mas eu sei que ela precisa de chorar. Eu apenas quero estar com ela para ela se sentir segura.

- (pego nela e deito-a na cama abraçando-a) Amor…
Bia: Fica comigo. Não me deixes… (fala com a cabeça escondido no meu peito)
- Eu não vou a lado nenhum.

E assim nos deixámos ficar. Ela a chorar e eu a tentar acalmá-la com as minhas palavras.

Hate and LoveWhere stories live. Discover now