27- Não Percebi

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Existem poucas datas das quais eu não possuo absoluta certeza a respeito, o que talvez pra você, leitor, não faça muita diferença, mas pra mim faz, pois me ajuda a enxergar o andamento das ocorrências e entender certas coisas, fato é que tudo que estou relatando realmente aconteceu, nisto você pode acreditar... mesmo que sendo apenas a minha versão.

Enfim... sexta-feira, dia vinte e quatro de junho de 2016, fui ao Centro da Cidade com Alice, nosso objetivo era encontrar uma roupa que lhe servisse para seu personagem, assim como também qualquer outra coisa que pudéssemos usar em nossa peça.

Haviam muitas pessoas como de costume, as ruas estavam cheias e, creio que por isso, em poucos momentos, ela tenha segurado em minha mão para que não nos perdêssemos. Alice procurava por um vestido, seu personagem seria Julieta, a qual sonhava em fazer e via ali talvez sua única oportunidade de realizar tal desejo, já que a diferença de idade entre elas era grande.

Entramos numa loja de fantasias e lá estava um vestido que, sinceramente, achei que ficou lindo no corpo dela, mas como não sou boa em demonstrar minhas opiniões, não sei se consegui lhe passar o que realmente achei a respeito, espero que sim, tanto que o comprou, na verdade compramos, pois foi em meu cartão, o qual emprestei pra isso. Me sentia o tradicional "marido" acompanhando a "esposa" em suas compras, era mais ou menos assim de uma forma positiva. – Riu.

Paramos num Mc Donald's, não sei se antes ou depois de comprarmos o vestido, mas ali seria nosso almoço. Enquanto eu comia meu sanduíche, Alice comia sua salada, lembrando que ela era vegetariana e, por isso, confesso que não me senti bem em vê-la comer apenas aquilo, mas era o que tinha.

Por fim cumprimos nossa missão, compramos seu vestido e mais algumas coisinhas pra nossa peça e, se não me engano, de lá fui com ela até sua casa. Lembro que sua cadelinha fez a maior festa quando chegamos, não que isso me conquiste de primeira, normalmente os cães fazem festa pra quase todo mundo, – Riu. – mas confesso que sempre gostei de ver a pequena Buffy ficar toda alegre ao me receber, houve um tempo em que até senti saudades dela.

Não tenho certeza se a seguinte informação aconteceu nesta sequência, mas uma amiga de Alice, que fazia parte de seu grupo de Cosplay, iria até sua casa com algum objetivo referente ao tema já mencionado e, como eu não tinha nada pra fazer entre o horário em que a encontrei no Centro e nosso ensaio a noite, fui com ela até sua casa através de um convite feito pela própria.

Percebi em Alice uma preocupação quanto a limpeza da casa e por isso comecei a ajudá-la, já que não me custava nada e, de qualquer forma, me sentiria mal em estar ali enquanto ela ficava indo de um lado para o outro limpando e arrumando minuciosamente cada canto e enfeite que possuíam.

Esta era a situação quando sua amiga chegou e não sei o porquê, mas me pediu pra descer e abrir a porta, então foi o que fiz, mas quando estava já nos últimos degraus, escutei:

– A Ana ta descendo pra abrir pra você. – Disse Alice da janela.

– Que Ana? A tal Ana? Ela tá aqui? – Perguntou a menina.

"A tal Ana"... eu parei por um segundo ao ouvir aquilo e não entendi o que significava, mas é lógico que meu instinto se voltou pro que seria "positivo", ou ilusório, por isso sorri, naqueles segundos antes de abrir a porta... eu sorri. Nós subimos e continuei ajudando-a na questão da casa, mas me lembro de Alice levá-la pra conhecer seu quarto e de ouvir sua amiga dizer:

– Nossa, sua cama é no alto com essa mesa e estante de livros embaixo, que legal, só deve ser complicado pra fazer "coisas" sem fazer barulho né.

Apenas sei que riram e em todo o tempo ficava me perguntando sobre o que eu estava fazendo ali, me sentia idiota, rastejando por migalhas de atenção, afeto, ou sei lá mais o quê, mas juro que tentava ser apenas sua amiga, o problema era que os meus sentimentos, quando resolviam perturbar, não precisavam de ajuda, sozinhos conseguiam fazer um grande estrago.

Minha hora de ir embora chegou, eu precisava ir, mas fui? Não, mesmo sabendo que haveria alguém me esperando, afinal iriamos pro mesmo lugar, por isso comecei a empurrar com a barriga, por mais nervosa que estivesse ficando, já que tenho neurose em chegar nos locais dentro do horário combinado... mas era Alice e eu queria poder estar mais um pouco com ela.

De repente sua mãe chegou, afobada, parecendo nervosa, como se estivesse atrasada pra alguma coisa e começou a reclamar da casa, da limpeza que Alice tinha acabado de fazer, dizendo que era mentira, sendo que eu a havia visto limpar e assim compreendi o que talvez já tenha mencionado a respeito, o porquê parecia tão preocupada com a limpeza e organização tempos antes.

Por fim estávamos atrasadas e Alice, quando lhe falei do meu colega de cena que possivelmente já estaria me esperando, parecendo surpresa, me perguntou:

– Por que não foi embora antes?

– Não percebi a hora. – Menti.

É... parece que já menti mais de uma vez sim, mas nossa, que mentira horrível essa minha, não é mesmo?


Obs: Comente, curta e compartilhe. Bju

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Where stories live. Discover now