35- Era o que dizia

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Um momento que pra mim era pra ser bom, gostoso e até romântico, mesmo que a situação não cooperasse por si só, já que estávamos no "quartinho da Sophia" e não em um ambiente decente por livre e espontânea vontade... que era o meu real sonho, confesso, se transformou em tristeza.

Alice chorava... eu a abracei bem apertado e a sentia estremecer devido a força de sua emoção... meu coração se partia mais uma vez... me sentia um monstro... me sentia destruindo sua vida, mesmo que não a tivesse forçado a nada, pelo contrário... enfim... sentia tanta coisa e nada ao mesmo tempo.

– Tá assim por causa do Diogo, não tá? – Perguntei, embora a resposta fosse óbvia. Ela confirmou com a cabeça. – Desculpa...

Me emociono só de lembrar... acho que de todas as vezes, ou de todos os momentos que tive com ela, aquele foi, sem dúvida, um dos mais emocionantes que vivi, não apenas pelo sexo, mas por todo o contexto... não fui eu quem fui atrás, não criei nenhuma situação, pelo contrário, estava realmente tentando fazer o que achava ser o melhor pra Alice e lá estávamos nós... "eu sempre vou atrás do que quero" me disse ela uma vez... queria acreditar que essa frase ali se aplicava, mas né... complicado.

Em silêncio estávamos enquanto a mantinha em meus braços, envolvendo-a com firmeza para que lhe passasse segurança, uma forma muda de dizer "está tudo bem, vai ficar tudo bem", embora eu acredite que realmente cheguei a dizer estas palavras em algum momento ali. De qualquer forma, de repente, do silêncio, sua voz surgiu baixa dizendo:

– Não posso me apaixonar por você.

Fiquei muda... aquelas palavras bateram em meu coração como uma porrada e ecoaram em minha mente. Ainda me sentia envolvida por elas quando a ouvi dizer:

– Não consigo não deixar você entrar.

Lembrei de uma conversa em que falávamos sobre afastar pessoas de nossas vidas, ou algo assim, e ela dizia que as bloqueava por dentro e não as deixava entrar em seu coração, que esse era o melhor começo, então quando essas novas palavras saíram de sua boca e essa lembrança me surgiu, o que deveria me encher de alegria, me inundou de uma tristeza tão grande que nem sei explicar, só sei chorar... que é o que estou fazendo agora enquanto escrevo.

– Você sabe que vou te magoar, não sabe? – Me perguntou.

– Sei. – Sussurrei sem nem pensar muito.

– As pessoas sempre vão embora da minha vida e vai doer pra caralho quando você for.

– Eu não posso dizer que não vou. – Respondi. – Mas posso dizer que não quero ter que ir.

De fato eu não fazia ideia nem da metade do que estava por vir, de qualquer forma aquela simples conversa parecia ser a mais sincera que já tivemos a nosso respeito até então... talvez seja por isso que ela seja tão especial pra mim... talvez seja por isso que ela ainda me emocione ao ponto de precisar ter um rolo de papel do meu lado neste momento... "eu não posso me apaixonar por você"... essa frase ecoou em minha mente por muitos meses, por um lado ela me gerava esperança, mas por outro era muito triste.

O clima começou a amenizar, ela começou a se acalmar... – Pausa. Silêncio. – parei uns dez segundos agora olhando pro computador e enxergando aquele momento... poucas pessoas amei na vida e ela certamente foi uma delas... se ela merecia?... quem sou eu pra julgar, nem eu e nem ninguém, talvez só Deus, porque Ele seria o único que teria visto todos os lados de todas as histórias.

– Você foi a primeira mulher que chupei. – Confessei tímida e sorrindo.

– Ué, mas você não ta pegando geral? – Perguntou rindo parecendo realmente curiosa.

– Cara, não sei de onde as pessoas tiram isso, mas pow, também não é assim né. – Ri.

– Chupar mulher é muito bom. – Afirmou sorrindo.

– Se você diz. – Brinquei. – Enfim, acho que é melhor a gente dormir.

Alice concordou, mas antes que o fizéssemos, eu a beijei e disse:

– Amanhã é outro dia né, deixa eu só aproveitar esse agora. – Ri e a beijei novamente.

Ela se virou em seguida e, como sempre, eu a abracei de conchinha, assim nós dormimos, mas só Deus sabe o que aquele momento significou pra ela, só sei que pra mim foi um mistura de muita coisa... coisas boas... coisas ruins... coisas que me encheram o coração e dificultaram demais que eu a esquecesse.

Cheguei a lhe dizer que não investia nela porque considerava que Diogo era melhor opção do que eu, só não lhe disse o porquê pensava daquela forma. Também lhe disse que ele não merecia aquilo, mas não sei em que momento essas coisas entraram em nossa conversa, porque sim, foi uma conversa, breve, mas foi.

Gostaria que a mente humana fosse melhor do que é, gostaria de lembrar de maiores detalhes, mas infelizmente não os possuo, nem pra apresentar aqui, nem pra me lembrar no silêncio do meu quarto... quanto mais o tempo passa, menos me lembro... quanto mais o tempo passa, menos eu sinto... mas era apenas amizade o que ela queria... não é mesmo?... ao menos era o que dizia.


Obs: Já sabe né rs

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Waar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu