LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1

11- Alice

Queria e espero conseguir expressar meus reais pensamentos e sentimentos, mesmo sabendo que isso não será possível, pois nem nós sabemos todos os nossos sentimentos e pensamentos, mas uma coisa eu sei... não foi fácil, ainda mais quando a TPM atacava.

Não sei se já falei antes, mas realmente não tenho a intenção de acusar ninguém, não tenho a intenção de me fazer de vítima, odeio isso na verdade, minha intenção é apenas colocar isso pra fora, registrar um dos momentos que mais influenciaram minha vida e, quem sabe, poder com isso não só aprender, como também passar algo de bom.

Como já disse, não tenho a menor intenção de me defender, mesmo que me doa mencionar meus erros... não sou besta, eu os conheço... fui egoísta, fui orgulhosa, fui um monte de coisas, mas ao mesmo tempo me doei de tal forma que sinto lágrimas surgirem sorrateiras em meus olhos enquanto escrevo... na realidade não é a primeira vez que elas surgem durante esse processo.

Até conhecer Alice meu foco era profissional, eu trabalhava pra isso, me sacrifiquei ao ponto de conseguir perder dezessete quilos em meio a enxaquecas e outras dificuldades mais, o único desvio de meu foco se chamava Rafael, que era um rapaz o qual conheci em um de meus trabalhos, já mencionado aqui, e que só havíamos trocado alguns beijos, mas você pouco lerá a seu respeito, porque eu mesma pouco lembrava de sua existência.

Cheguei ao começo de tudo que aconteceu, mas percebi que pouco falei a respeito daquela menina de olhos sorridentes e tristes, talvez porque seja difícil, mas acho que vale tirar este breve momento para uma pequena observação a respeito daquela que, sem querer, abalou minhas estruturas.

Até aqui eu possuía uma visão a respeito de Alice e não sei se deixei claro o quanto me afetou saber que ela sofria de depressão... lembro como se fosse hoje, eu deitada em meu quarto escuro, deitada do avesso na cama escutando enquanto olhava pro teto e sentia meu coração apertar.

Sua cadelinha de anos havia morrido e pouco depois seu namorado a trocou por sua ex, que também era uma de suas melhores amigas pelo que entendi... tudo junto... hoje creio que existam muitas outras razões e que esta possa ter sido a gota d'água, mas não importa, na ocasião eu lhe disse:

– Não importa qual seja o seu problema, se ele lhe machuca já é motivo suficiente para que eu respeite e leve a sério.

Alice era uma moça de vinte e seis anos muito inteligente, estudiosa, formada em letras por uma faculdade pública, passou alguns meses na Europa estudando, fala duas línguas, isso sem mencionar japonês, o qual aposto que arranha por causa de sua paixão por desenhos do gênero, ela é extrovertida, simpática, prestativa e eu sempre me perguntava como conseguia ter tempo pra fazer e saber de tanta coisa.

Livros... Mangás... Séries... Desenhos... Filmes... ela escreve também, chegou a me mandar algo... ela tem muito mais atributos do que apenas a aparência e eu vi isso... – Chorou. – eu vi um coração lindo e acho que é também um dos motivos da minha dor... ela é maravilhosa do jeito que é... uma menina escondida dentro de uma mulher e me nego a acreditar que tenha me enganado quanto a isso.

Saber de sua dor realmente me abalou, nasceu em mim um desejo muito grande de poder ajudá-la, mas certamente eu não sabia como fazer, porque uma coisa é você ajudar alguém comum, outra coisa é ajudar alguém por quem se cria um desejo... um sentimento... as coisas se misturam, não como dúvida, mas como mistura mesmo, você sabe o que é melhor, mas aí vem o seu instinto e te rasga inteira por dentro.

Eu tinha tanto medo de prejudicá-la que evitava qualquer contato, evitava inclusive olhá-la, a maioria de nossas conversas eram através de Whatsapp, ainda mais depois do que houve, porque realmente acreditava que Diogo era o melhor pra ela, ele era tudo que eu não poderia ser, principalmente por causa da minha religião, já que tinha a intenção de voltar, ou seja, eu não tinha nenhuma intenção séria com Alice, na verdade não tinha intenção nenhuma com nada, as coisas apenas foram acontecendo.

A questão é que até aqui eu conhecia um lado dela que me fazia sentir tanta vontade de protegê-la que se pudesse teria feito, inclusive de mim mesma se tivesse tido essa noção... mas não tive, ou tive, mas o que sentia acabava sendo mais forte do que minha própria razão.

Muitas foram as vezes que a ouvi dizer sobre o quanto sua existência prejudicava as pessoas ao seu redor, mas por muito, muito tempo, era eu que me sentia estragando sua vida porque, por mais que quisesse evitar, por mais que Diogo fosse a melhor opção, o que ardia dentro de mim era tão forte que algumas vezes não conseguia conter, por isso pensava demais, porque se fazendo isso não consegui me controlar dentro do que acreditava ser o certo, deixá-la em paz e seguir com a minha vida, quanto mais se não fizesse... eu queria estar com Alice e nem era apenas sexual... eu só queria estar com ela.

Resumindo, Alice era uma moça de vinte e seis anos muito inteligente, estudiosa, formada em letras por uma faculdade pública, uma jovem extrovertida, simpática e prestativa, que passou alguns meses na Europa estudando alemão, voltando de lá falando duas línguas, ela é apaixonada por livros, mangás, séries, desenhos e filmes de vários tipos e gêneros, e que também escreve, mas também é uma moça que sofre de depressão... linda... simplesmente linda.

Obs: Comente, curta e compartilhe. Bju.