17- Era Pedir Muito?

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Por mais puta comigo mesma que ficasse, continuava mandando mensagens para Alice dando como motivo o fato dela ter depressão, precisar de apoio e, sinceramente, creio nessa minha boa intenção, até porque sou dessas mesmo, mas não posso ser idiota e dizer, ou pensar, que essa era minha única razão... não era.

Eu dava "bom dia", perguntava como estava, realmente me importava em saber, tentava animá-la, elogiava e no fim me sentia tão imbecil por estar me comportando daquela forma, por estar me permitindo estar naquela situação, mas me fazia de durona, tentando ignorar a existência de meus sentimentos... foi um processo muito difícil esse de assumir, mesmo que apenas para mim, o que estava sentindo, mas não por sentir e sim pela rejeição.

Lembro de um dia, o qual não sei em que período aconteceu e não tenho como resgatar essa informação, mas provavelmente tenha sido num quinta-feira, dia doze de maio de 2016, quando fomos ao Subway, eu e Alice. Praticamente nunca havia comido lá antes dela e não fazia a menor questão porque as comidas de lá me parecem muito saudáveis, o que pro meu paladar não é algo agradável, mas um dia ela me chamou e fui. Me lembro que na volta fiz mais uma investida, que pra mim era como se devesse ser a última, fiz me tremendo de medo e vergonha porque ainda estava em processo de mudança e ainda me sentia muito assim.

A chamei pra vir pra minha casa, me coloquei em sua frente, olho no olho, já na entrada do teatro, e fui bem mais clara, eu a "paquerei", caminhei calmamente em sua direção com a clareza de que queria beijá-la, dando-lhe apenas tempo necessário pra se posicionar a respeito.

Alice recuou dizendo que não podia, inclusive acho que disse algo sobre querer e poder a respeito de ir pra minha casa, mas eu estava com tanta coisa acontecendo por dentro que já era um enorme esforço sustentar aquela aparência de "predadora", aparência de cafajeste talvez, pra ainda conseguir prestar atenção no que falamos naquele momento.

Por fim eram coisas assim que me faziam não olhá-la com maus olhos, mas porque eu fosse um ser irresistível, até porque nunca me olhei dessa forma, de qualquer maneira não estou falando daquela época, digo em tempos que vieram depois, quando me lembrar desses momentos amenizavam meu lado ruim que insistia em culpá-la por tudo.

Essas coisas voltavam em minha mente me dizendo que Alice não era o monstro que meu outro lado tentava me dizer que era, eu a olhava e via que talvez fosse apenas uma pessoa tentando resistir a uma tentação, mas por outro lado também pensava que talvez ela apenas tivesse pena de mim e não conseguisse dizer o que realmente sentia, que seria um grande nada.

Já me ferrei muito na vida por ideias assim, por uma necessidade absurda da verdade, talvez a MINHA verdade, então com o tempo comecei a me cansar disso, porque, infelizmente, as pessoas mentem e muitas são muito boas nisso, elas simplesmente mentem ou por vício, ou pra não expor alguém, ou apenas pra não se expor... ou por alguma outra razão que eu desconheça.

Naquele tempo a olhava com bons olhos, não queria ter que mudar minha visão pra conseguir me desprender, não achava justo, acho sim que romantizei demais o que houve entre nós enquanto que pra ela aquilo havia sido algo mais prático... apenas sexo... só que eu estava tão preocupada em não machucá-la, não magoá-la, não destruir sua vida que sei lá... parece confuso, mas era, muito, como disse, eu estava em transição, estava saindo daquele pensamento religioso e fechado pra um mundo cheio de "talvez", ou seja, ainda não estava acostumada a isso.

Insisti, mas ela não cedeu. Ficamos um bom tempo ali, Léo chegou a passar por nós voltando pra aula, mas continuamos ali e nem me lembro da conversa, só sei que nada aconteceu, por fim apenas fomos embora, pois já era bem tarde pra voltarmos pra aula, então dali fomos embora e, se não me engano, foi também o primeiro dia em que confessei o ciúme que estava começando a sentir dela com Sophia, sobre o qual negou haver algo, é lógico, mas eu sou escorpiana.

Houve uma conversa em minha casa, no dia em que lá dormiu, onde Alice me mostrou fotos de algumas meninas as quais ela as achava lindas, todas com o mesmo perfil de Sophia e, com o retorno da mesma, eu não sei, apenas sei que juro não me lembrar nem quando e nem o porquê comecei a sentir isso, mas comecei a desconfiar que talvez surgisse algum interesse ali, não por parte da jovem hétero, mas sim daquela que me negava pelo namorado.

Sei que em um determinado momento daquele período um novo rapaz foi incluído à turma, seu nome era Gustavo, rapaz aloirado, com aparência de surfista, cabelos compridos, ginga na voz, um típico carioca praiano, jogador amador de futevôlei, ou qualquer outro esporte do tipo.

Sophia logo ficou de olho nele e o rapaz, assim como milhares, logo grudou nela, mesmo sendo casado, o que deixou Felipe bastante desconfortável, porque todos nós desconfiávamos que havia um sentimento ali rolando antes da entrada de Gustavo, mas a questão ali não era essa, eu não tinha problema com isso, mas parecia que outra pessoa começava a ter.

Gustavo foi designado a fazer par com Alice em sua cena, ele seria Romeu e ela a Julieta. Eu o vi fazer uma brincadeira a ela, uma brincadeira com ar de insinuação e a vi responder como se o estivesse correspondendo, tanto fisicamente como também no olhar... – Pausa. – foi quando tudo que sofri pela ideia de tê-la "prejudicado" se virou contra mim e mesmo assim ainda tentava defendê-la, afinal, havia sido apenas uma brincadeira... certo?

Sim... lhe contei sobre o meu ciúme a respeito de Sophia, era apenas um desabafo, não estava cobrando nada, até porque não era ninguém pra cobrar, ou reclamar de alguma coisa, mas as coisas eram confusas pra mim, talvez tenha realmente passado essa impressão, o problema é que não era essa a minha intenção, no fundo apenas queria me livrar daquele sentimento, só queria voltar ao meu estado anterior... era pedir muito?


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LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Where stories live. Discover now