25- Dois Pés Atrás

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Sophia tinha uns comportamentos estranhos, que na época eu os considerava "fofos", como querer sempre estar comigo, mesmo nos momentos em que estaria com Gustavo... pois é... ela estava tendo um caso com o surfista casado, com quem metade da turma parecia ter fogo, e mesmo assim fazia questão da minha companhia.

Lembro dela me mandar mensagem perguntando que horas chegaria pro curso, dizendo pra eu chegar mais cedo e ficar com ela, ou pra ir em mercado, ou pra ficar no quarto dela, ou pra ficar junto quando encontrava seu amante.

– Mas se você marcou de encontrar o Gustavo, por que você quer que eu esteja junto? – Perguntei uma vez rindo.

– Ah, não tem nada demais você ficar junto com a gente.

– Segurando vela? Ta de sacanagem, né? – Ri.

– Não, nada haver.

"Nada haver" disse ela, como se fosse algo realmente normal levar sua amiga pra estar junto do "ficante" que, por ser casado, você tem poucas oportunidades a sós, já que eles pareciam tentar manter uma certa discrição ao que estava acontecendo, mas a questão é que houve uma outra atitude também muito estranha, a qual acho que possa ter gerado alguns de meus problemas, mesmo que pareça loucura, ou apenas coisa da minha cabeça, enfim, apenas prestem atenção, pois é agora que a história começa realmente a se enrolar.

A apresentação de Cosplay da Alice estava se aproximando, faltava menos de uma semana e me lembro que Sophia me fez uma pergunta por mensagem:

– Me ajuda com umas coisas no domingo de tarde?

Naquele momento senti meu peito arder, ela já havia me mandado esquecer Alice, creio já ter mencionado isso, nós nem falávamos do assunto, infelizmente não tive dela o feedback que tanto precisava, de qualquer forma sei que não tinha o porquê esconder, não devia nada a ninguém, muito menos a ela, mas, tentando evitar que me enchesse o saco, porque sou dessas, não sou de falar sobre coisas pessoais também pela ideia de me importunarem com suas opiniões, respondi:

– Vou estar livre depois das 18h.

Talvez um ser humano normal se contentasse com aquela resposta e seguisse a vida, ou tentaria se ajustar ao meu horário, ou se convenceria de que não daria, parece que é o que as pessoas fazem, mas não Sophia.

– O que você tem de tão importante que não pode vir mais cedo? – Perguntou ela.

Eu não sei dizer se ela estava ciente da apresentação, sei que havia uma postagem no Facebook de Alice falando a respeito e como Sophia surgia as vezes dizendo ter visto algo que eu havia postado, querendo se mostrar participativa, ou interessada, ou até stalker, se pararmos mesmo pra analisar, posso então pensar que a mesma desconfiava de algo e por isso tenha insistido... ou não, ou apenas perguntou por perguntar, o problema é que ela não era o tipo de pessoa que, na maldade, faz as coisas por fazer, Sophia é meio lerda dependendo do assunto, mas se for algo de seu interesse, vira uma cobra.

– Vou na apresentação de Cosplay da Alice ali no Centro. – Confessei ligando o foda-se.

Parece bobo porque, como eu disse, eu realmente não tenho nada a esconder, mas havia em mim um sentimento de preservação quanto a Alice e falar pra alguém que sabia da história, mesmo que superficialmente, que eu iria lá vê-la, também parecia que a estava expondo, embora que talvez o maior sentimento fosse o de trouxa, pois me sentia trouxa de ir lá, gastar quarenta reais, só pra assistir uma apresentação de algo que nem tenho vivência... mas eu ia.

Sophia ficou nitidamente revoltada, disse que se eu fosse não falaria mais comigo, ou seja, uma atitude infantil, mas afinal, era apenas uma jovem de apenas vinte anos, então não levei aquilo tão a sério, eu queria ir, por mais trouxa que fosse fazer isso, havia dito à Alice que o faria e sou uma pessoa de palavra... ao menos faço de tudo para ser, então se havia afirmado isso, tentaria cumprir ao máximo.

Quarta-feira, dia vinte e dois de junho de 2016, Sophia começou a cumprir sua promessa, não falou comigo a noite inteira e obviamente que não fui atrás, porque mesmo que não devesse ir na tal apresentação, não o deixaria de fazer por causa de sua chantagem, mas sim pelos demais motivos já existentes, de qualquer forma não compreendi seu comportamento e muito menos o que virá daqui pra frente, ao menos aquela atitude me serviu pra uma coisa, me serviu pra ficar com os meus dois pés atrás, o que já deveria ter desde o começo, mas fui boba.


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LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1حيث تعيش القصص. اكتشف الآن