15- Eu Era Bissexual

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Eu queria seguir minha vida, mas não sabia como fazer, tentava de todas as formas tirar aqueles pensamentos de dentro de mim, mas quando percebia, estava eu lembrando dela e pensando, ou criando situações e conversas novas, tanto que costumava chegar em casa, tomar um bom banho, apagar a luz do meu quarto, me deitar na minha cama e colocar algumas músicas pra tocar, ali viajava dentro da minha cabeça, dentro do único lugar onde ninguém poderia me julgar e parecia inofensivo, mas era na verdade uma das coisas que mais me afundavam no sentimento que já existia dentro de mim.

Na semana seguinte fui cedo pro curso, não me lembro o porquê, mas isso era comum, pois sempre tive o costume de chegar com bastante antecedência, ainda mais quando meus compromissos são na parte da tarde, aí que chego cedo mesmo, ou seja, aquele seria apenas mais um dia comum, se, durante o caminho, Felipe não tivesse postado a seguinte mensagem no grupo da turma:

– Alguém falou com Sophia hoje? Tem horas que ela não fica online.

– Não sei. – Respondi. – Mas estou perto do Teatro, posso passar na casa dela e ver como ela está, só não sei chegar lá.

Lívia e Felipe foram me orientando a como chegar no pensionato onde Sophia morava, pois nunca havia ido até lá, mas estávamos preocupados, já que havia um problema de saúde, ao menos era o que a mesma dizia ter, não que tenhamos descoberto o contrário, mas vindo de quem vinha, tudo era possível.

Cheguei na portaria e perguntei por ela, a senhorinha que me recebeu tentou interfonar, mas ninguém atendia, de qualquer forma Sophia havia sido vista naquele dia, só não estava atendendo pra poder liberar minha entrada, o que no fim deixou de ser necessário, pois, mesmo não me conhecendo, a senhora me deixou subir e assim o fiz.

Peguei o elevador e quando a porta se abriu, lá estava ela toda desarrumada carregando coisas, pois estava acontecendo uma mudança, devido a uma obra que seria feita no andar onde antes residia.

– Ta fazendo o que aqui? – Me perguntou surpresa.

– Você sumiu né criatura, ta geral preocupado contigo, aí vim aqui ver se tava viva.

Ela sorriu, pareceu achar fofo, então me contou sobre a mudança de quarto e que, devido a isso e a falta de internet, havia ficado offline por todo aquele tempo, mas que estava bem.

Faltava ainda bastante tempo até a aula, então me ofereci a ajudar, e com isso, fui carregando suas coisas, rindo e zoando, cheguei a tirar uma foto escrota dela com um gorro de natal na cabeça pra mandar pra turma e avisar que estava tudo bem.

– Deita aí, vou ali em cima e já volto, pode dormir se quiser. – Me disse ela apontando para seu colchão que estava no chão.

Me deitei, até pensei em cochilar, estava com sono, mas não cheguei a dormir, só fiquei ali em silêncio pensando na vida como sempre, até que ela voltou dizendo que ia tomar um banho pra se arrumar e irmos para o curso, o que, por mim, não tinha problema, já estava ali, não custava esperá-la.

Sophia saiu do banheiro falando comigo, se não me engano estava criticando uma senhora que estudava conosco em nossa turma e que pouco conhecia, já que estava com eles não a muito tempo, mas que mesmo assim havia sido o suficiente para concordar com sua opinião, embora pareça escroto ficar falando de alguém pelas costas, mas quem nunca fez que atire a primeira pedra.

Acontece que num determinado momento, após criticar a tal senhora, inclusive mencionando que ela parecia ser bissexual devido ao seu comportamento invasivo sempre com teor sexual, Sophia retirou a toalha para colocar sua blusa e eu, "cavalheira" que sou, baixei meus olhos para não ver nada que ela realmente não quisesse me mostrar, já que não sabia de minha sexualidade.

Muitos poderiam ter se aproveitado para vê-la, analisá-la, pois realmente era muito bonita, quanto a isso não havia o quê ser questionado, ao menos a maioria das pessoas teriam a mesma opinião, mas eu não sou assim, não gosto de desrespeitar ninguém e manter os olhos nela seria uma forma de desrespeito.

De qualquer forma fomos para o curso e fiquei com aquilo na minha cabeça, me senti mal porque sabemos que este é um costume feminino, o de trocar de roupa na frente de uma amiga, algumas até aprendem que não há nada demais e teoricamente não há mesmo, mas creio que cada um deve se colocar em seu lugar e saber que, se sou bi ou lés, não devo me aproveitar de certos costumes, prefiro que me mostrem algo por vontade própria do que ver por infantilidade minha.

Pensei e repensei, respirei fundo e lhe mandei uma mensagem contando-lhe sobre minha sexualidade, mas não mencionei mais nada além disso, queria apenas alertá-la a não trocar de roupa na minha frente sem saber o que realmente estava fazendo. Sophia foi muito simpática a esse respeito, não mudou comigo por conta disso, entendeu que era algo novo e que precisava de discrição, ao menos penso que tenha sido assim, pois não comentou a respeito na frente de ninguém antes que eu mesma o fizesse.

Aquela foi a primeira vez em que falei, mesmo que por escrito, o que eu realmente era... aquela foi a primeira vez, em tantos anos de vida, em que assumi, não só pra outra pessoa, mas pra mim mesma, quem eu era, ou o que eu era... eu era bissexual.

Por fim, nós, que já tínhamos nossa peça de segundo período determinada, sendo a mesma a junção de algumas cenas de peças diferentes do mesmo autor e, como haviam lançado um filme referente a uma das histórias envolvidas, combinamos, ao menos alguns de nós, que íamos assistir ao tal filme na casa de Alice, onde eu teria, ainda sem saber e para minha "alegria", a companhia de seu namorado.


Obs: Comente, vote e compartilhe. Bju

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Where stories live. Discover now