LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1

01- Primeiro Dia, Primeiro Olhar

Eu trabalhava e estudava, era uma guerra, pois ambos entravam em conflito de horários e eu costumava ter muitos problemas por causa disso, mas não podia perder meu emprego, ainda mais porque era ele quem pagava meu curso de teatro, então, depois que um colega de turma trocou seu horário pra noite no meio do segundo período e eu comecei a trabalhar com figuração em um canal de televisão, tive uma reunião muito séria com meu chefe/tio e resolvi que aquela também era a melhor atitude que deveria tomar, e foi o que fiz.

Viver sem uma base sólida, não saber o que vai acontecer amanhã, ter um sonho a realizar e não saber nem por onde começar... alguém entende esse sentimento? Acho que sim, não é mesmo? Eu estava tão cansada dos problemas que os meus horários geravam, estava tão cansada de tentar ser a melhor pessoa do mundo, de lutar em me manter firme em minha religião, seguindo o "certo e errado", "sim sim não não"... parece bobo pra muitos, mas a experiência que tive dentro da fé cristã foi única e vê-la se desfazer por entre meus dedos foi uma das piores dores que passei, e passo.

É fácil criticar aquilo que não se entende... eu entendo... eu li a Bíblia, pelo menos o Novo Testamento inteiro e muitos livros do Antigo, sei o que tá escrito sobre homossexualidade, não preciso de nenhum fanático me dizendo... eu sei... eu sofro... sofro não por causa de pessoas idiota e sem noção, sofro porque aparentemente a pessoa que mais amo, que é Deus, tem problemas sérios com o que sou, mas vou te dizer uma coisa, várias foram as vezes que situações ocorreram ao meu favor mostrando, ou confirmando, que existem coisas que não importam tanto quanto parecem importar em determinadas situações, Ele simplesmente me ama, Ele simplesmente cuida de mim... desculpem os ateus, cada um com a sua opinião e fé.

Eu vinha assistindo filmes e séries com temáticas homossexuais, exclusivamente lésbico, e sentia meu coração arder, não por uma sacanagem, ou promiscuidade, mas porque via mulheres demonstrarem um amor tão bonito umas pelas outras, mesmo que algumas conflituosas, impedidas pela religião, e isso ardia dentro de mim pelo relacionamento que eu não havia podido viver e que era a coisa mais linda que já havia experimentado na vida.

Infelizmente, àquela altura, eu já não era mais apaixonada por Amanda, nós lutamos tanto pra fazer o que acreditávamos ser o certo, que consegui tirar aquele sentimento de dentro de mim, o que foi e é uma grande pena... um dia conto-lhes a este respeito, prometo, mas voltando ao assunto.

Cheguei no meu primeiro dia na turma nova, aparentemente dia trinta de março de 2016, cheguei afobada porque tenho muita preocupação com horários, cheguei e diante do teatro estavam três pessoas aguardando o horário pra entrar, destas conhecia somente uma, que era Felipe, que em minha turma anterior havia participado de nossa peça de conclusão do primeiro período.

Felipe estava ali acompanhado pelo motivo de tudo, de toda uma felicidade e sofrimento, ou quase da maior parte, que você lerá daqui pra frente... ela estava ali e eu não a notei... não a notaria, ainda mais na correria em que estava e com os problemas que enchiam minha cabeça.

Cumprimentei o rapaz que conhecia, Felipe, e ele me apresentou às outras duas moças, mas como disse, eu estava apressada, então pouca atenção lhes dei, logo entrei, precisava trocar de roupa, pois costumamos vestir roupas mais confortáveis e flexíveis por causa das aulas que mexem muito com nossos movimentos, e foi quando o primeiro contato aconteceu.

Já dentro da sala, aguardando a chegada da professora, eu estava em pé, só Deus sabe pensando no que, provavelmente tímida por estar numa turma nova, quando meu amigo, Pedro, o que havia trocado de horário assim como eu, sorrindo, disse:

– Ana! – Eu o olhei. – Dá uma voltinha.

Tive aqueles breves segundos de raciocínio que você tenta compreender o porquê de alguma coisa. Ele estava sentado ao lado dela e estava contando-lhe sobre a grande quantidade de peso que eu havia perdido, pois quando entrei para o Teatro resolvi emagrecer, o que não foi fácil, mas consegui, eliminei dezessete quilos em cinco meses e mais três após minha dieta.

Dei a tal "voltinha" solicitada, embora me sentisse constrangida pela ideia da ação. O assunto entre eles parecia ser leve, mas o olhar dela pra mim parecia diferente, havia um sorriso em seus olhos e outro muito leve em seus lábios, e foi, naquele momento, que a primeira pulga surgiu atrás de minha orelha, foi ali que eu realmente a percebi pela primeira vez, como dizem por aí, por causa daquele "maldito sorriso".

Não a reparei de forma estética com pensamentos de interesse, na verdade, quanto a isso, minha primeira impressão foi negativa, então realmente não sei o que me motivou a mergulhar de cabeça na novela que se iniciou aqui... na novela que se iniciou naquele primeiro dia... naquele primeiro olhar... por fim achei que era apenas coisa da minha cabeça, como sempre acho.

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