16- Não Era Inteligente

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A interação com a turma parecia melhor a cada dia, me sentia em casa com tão pouco tempo de convivência e isso era maravilhoso, nós nos abraçávamos, fazíamos massagem uns nos outros, carinho, eu apenas evitava esse tipo de contato com Alice, justamente porque não queria levantar suspeitas, não por mim, mas pra protegê-la, pois ainda me preocupava, e muito, em não prejudicá-la, independente do meu lado ruim passar as horas me dizendo pra ligar o "foda-se".

Como falei, nossa peça estava definida, assim como a maioria de nossos personagens e, sobre Sophia, ela me tratava muito bem em vista da fama que tinha. Lembro que em um momento em que estava falando algo com Alice, Sophia elétrica e com jeito ranzinza surgiu pelo lado oposto me puxando pra me cumprimentar, reclamando que eu havia chegado e não havia falado com ela.

Sophia parecia feliz e as pessoas comentavam sobre ela estar melhor, o que a fazia rir e zoar de si mesma, confirmando assim que antes se comportava como uma pessoa extremamente antipática, chegando a ser um tanto quanto grosseira pelo que entendi das histórias a seu respeito.

Naquela noite de quarta, dia quatro de maio de 2016, já do lado de fora do teatro, estava Sophia, ao lado de Alice, e a mesma deu a entender sobre ir pra minha casa e perguntou inclusive se eu morava longe. Alice pareceu desviar o olhar, creio que pela ideia de que ela sabia onde eu morava, mas não podia interferir, ou se manifestar, pra que não se levantasse a ideia do como ela sabia de tal informação... ao menos foi a sensação que tive, posso estar errada.

Respondi que não morava tão distante, mas que ela não iria pra minha casa, então zoamos um pouco a respeito e, por fim, decidiram ir para casa de Alice, até me chamaram, mas soltei alguma desculpa qualquer pra não ter que fazer isso, afinal, acho que ali eu já sabia que o namorado estava dormindo lá devido a viagem que sua mãe e padrasto estavam fazendo.

Lembro de uma conversa, em tom de brincadeira, que creio ter ocorrido entre Alice e Lívia, onde a mesma comentou a respeito de seu namorado estar em sua casa a alguns dias e que ela queria que ele voltasse pra casa dos pais, dando a ideia de que já estava chato, ou algo assim... enfim.

Eles foram, Sophia, Léo e Felipe, junto com Alice, foram de metrô e eu segui meu caminho normal para casa, só vi depois a foto que havia registrado aquele momento de interação entre eles... é... realmente só posso falar a respeito do meu lado da história, pois creio que muita coisa aconteceu na minha ausência e sobre isso fica difícil comentar, ou explicar, porque mesmo que as pessoas me contem, ainda fica a dúvida sobre o que é ou não verdade.

As pessoas têm o costume de contar suas histórias de forma que venham a se beneficiar com elas, eu mesma estou lutando pra tentar evitar esse tipo de costume humano, porque muitas vezes parece inevitável, embora que, pelo menos pra mim, não seja essa a minha intenção.

No dia seguinte fui então de metrô e, não me lembro o porquê, mas fiquei alguns minutos sentada nas escadas da saída do mesmo, já no Bairro de Alice, e cheguei a tirar uma foto minha ali. Confesso que estava meio tensa, a única coisa que me tranquilizava era a presença dos demais, porque mesmo sabendo que estavam lá, ainda me sentia estranha por estar indo ficar algum tempo no mesmo ambiente que o namorado dela.

Bom, lá estava ele, sem camisa. Diogo era um magro definido, cabeludo e barbudo, quase um hype ou Jesus Cristo, e digo isso pra que fique mais fácil de se compreender a respeito de sua aparência, então imagine desta forma: "Jesus" pela aparência, "hype" pela lerdeza em se expressar e falar... lá estava ele.

Conheci também sua cadelinha, uma graça chamada Buffy por causa daquela série que deu início a toda aquela situação... mentira... mesmo que não fosse esta série, quando algo tem que acontecer, outras razões fazem com que aconteça, ou quando queremos que aconteça, qualquer desculpa se torna motivo.

Me sentia completamente constrangida e não sei dizer como Alice devia estar, pois mal olhava pra ela, só sei que houve uma oportunidade de sair dali, já que Léo ia na rua comprar alguma coisa e queria companhia, então é óbvio que me voluntariei, pois precisava espairecer.

Fomos a um mercadinho depois de pararmos pra comer algo e acho que aquele era meu primeiro contato a sós com Léo, que era um rapaz loucamente divertido e muito bonito em minha opinião, com o físico em forma graças ao circo, bissexual, embora tenha mais tendência homo do que hétero... ele era alguém que certamente eu ficaria sem pensar duas vezes. – Riu. – Voltamos.

Sophia estava espalhafatosa como sempre, comportava-se como se estivesse em casa, disse que ia fazer o "negrinho", nome tradicional em sua terra para o nosso famoso brigadeiro, mas é lógico que fiquei com receio de que ela na cozinha não desse certo, mas enfim, – Riu – ela tentou e eu inclusive registrei esse momento, que por sinal foi feito a pedido dela.

Sentamos pra assistir o filme, mas, pelo que me lembro, Felipe havia precisado ir embora, então sentamos Diogo com Alice numa ponta, Léo e eu no meio e Sophia na outra ponta. Se eu disser que prestei atenção no filme estaria mentindo e com certeza essa frase ainda será muito usada, pois era mais ou menos como eu pensava, pensava no que realmente deveria estar fazendo ou pensando, mas no fim, fazia o oposto.

Juro que tentei ser o mais simpática que pude, mas não conseguia nem olhar pra Diogo, porque não sou hipócrita, não consigo abraçar e beijar, ou sorrir enquanto minha vontade era ter pra mim o que era dele... pensei que conseguiria ao menos ser educada... naquele dia sim, mas em todos os outros sei que nem sempre consegui.

Fomos embora naquele dia às pressas, pois nós tínhamos uma apresentação e estávamos em cima da hora, com isso precisamos pegar um Uber pra conseguir chegar a tempo e, no caminho, não me lembro o assunto que fez aquele comentário surgir porque é sempre assim, é sempre quando você menos espera que as coisas acontecem, Alice disse:

– Não é inteligente ficar com alguém com quem se estuda, é querer ter dor de cabeça.

Pois é... são coisas que me fazem me perguntar se a pessoa é burra, ou se quis mandar um verde pra "alguém" ali, isso eu sendo realmente intransigente ao pensar a respeito, mas pelas circunstâncias da época, creio que, se tenha sido indireta, então foi pra mim e meu lado ruim logo se ativou com vários pensamentos ruins, xingamentos e etc ao meu próprio respeito, até porque não me trato com muito carinho.

Sei que aquela noite, graças a apresentação, fui obrigada a encerrá-la vendo-a vestida de forma sensual enquanto cantava... Alice ainda estava gordinha, o que normalmente não me atrairia, confesso e por isso, sinceramente, se eu olhar de forma fria, não havia razões físicas pra eu estar naquela situação, só sei que foi assim que terminou a minha noite, com ela sensual cantando depois de dizer que não era inteligente ficar com alguém com quem se estuda... – Pausa. – como eu queria ter conseguido parar por ali.


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LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1जहाँ कहानियाँ रहती हैं। अभी खोजें