28- Menos do Diogo

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Domingo, dia vinte e seis de junho de 2016, o dia da apresentação, o dia em que joguei meu orgulho no fundo do baú e fui, mesmo que meu outro lado ficasse de vez em vez me dizendo o quão idiota era aquilo que estava fazendo, mas Cosplay era algo importante para Alice e não importava se pra mim não fosse, só de ser pra ela já me fazia considerar.

Cheguei no evento perdida, não fazia ideia da quantidade de gente que participava de coisas assim, eram muitas pessoas fantasiadas de todo tipo de coisa possível e imaginário, todas parecendo bem empolgadas com o que estava acontecendo enquanto eu começava a considerar aquilo algo interessante, já que também gosto deste universo.

Quarenta reais, foi o valor que paguei pela meia... pois é... meia... se não tivesse levado minha carteira de estudante teria que pagar oitenta reais pra entrar e nem me lembro se tinha esse dinheiro, mas provavelmente pagaria se não houvesse escolha, pois havia dito que iria e faria tudo que estivesse ao meu alcance pra cumprir isso.

Entrei e andei por todo o espaço, eram dois andares e o pátio externo, todas essas áreas envolvidas no evento. Caminhei por longos minutos a espera das apresentações, acho que cheguei a mandar sms ou whats avisando que estava ali, não porque quisesse que ela me achasse ou algo assim, só queria que soubesse que eu estava lá.

As apresentações começaram e avistei, no canto direito por trás do palco, o grupo de Alice, acompanhados também por seu namorado. Respirei fundo, não de raiva obviamente, raiva eu só teria por mim. Caminhei até aquele local, queria apenas ser notada e fui, Alice me olhou e sorriu, mas não fiquei muito ali, meu objetivo já havia sido conquistado... eu estava lá e ela sabia disso... Diogo também, por falta de opção, mas enfim, fazia parte.

Voltei pra frente do palco e permaneci na espera enquanto os demais grupos se apresentavam. Como comentei havia algo em jogo, algo pelo qual os grupos disputavam, com isso pareciam realmente se esforçar, mesmo que alguns fossem bem fracos, havia outros que eram bem organizados e aparentemente antigos no ramo.

Finalmente chegou a vez dela e assim ao palco eles vieram. Foi bem legal, cheguei a bater uma foto. Diogo também participou, não era nada muito expressivo, na verdade nem dava pra reconhecê-lo, mas ele tava lá, houve inclusive uma declaração de amor e agradecimento de Alice pra ele pelo Facebook por causa dessa participação.

Terminando a apresentação dela não fiquei ali parada, não queria encontrá-la... encontrá-los... não me sentia bem na presença do rapaz, não conseguia ser nem educada com ele, me sentia hipócrita, não podia cumprimentá-lo enquanto queria roubar sua namorada pra mim, até porque, por mais que estivesse tentando realmente ser apenas sua amiga, a verdade era essa, a todo momento esse era o meu desejo, sempre.

Caminhei mais um pouco pelo espaço, fiz por fazer, me sentia vazia, então olhei a hora, respirei fundo novamente e dali parti, mas não fui pra casa, na verdade peguei um ônibus e fui pra outro bairro, onde havia uma Igreja da denominação a qual eu estava afastada, era domingo e faltava pouco pra reunião das dezoito horas começar.

Fazia boas semanas que não entrava numa Igreja e ainda dei o "azar" daquele dia ser dia de santa ceia. Mas, por que azar? Simples... em minha denominação aprendemos que só se toma a santa ceia quando se tem a intenção de viver conforme o que está escrito na Bíblia, do contrário você pode estar trazendo condenação para sua vida, sendo que, participando da forma "correta" você se edifica, se fortalece, se santifica e etc.

Obviamente eu não poderia participar, pois não pretendia voltar a frequentar as reuniões, não pretendia deixar de falar palavrões, beber e, principalmente, não deixaria minha liberdade em estar com quem quisesse estar... parece feio de se pensar, mas essa era a verdade, me afastei sem um objetivo claro, não o fiz porque queria putaria, fiz por diversas razões, mas uma delas era pra apenas viver, sem precisar me martirizar pelo "certo ou errado", o problema é que independente de estar dentro ou fora eu ainda não era livre.

Não participei da santa ceia e não pude dizer, durante a oração, que largaria tudo de "errado", ou qualquer coisa desse tipo. Me senti desconfortável, por mais que estivesse morrendo de saudade de estar ali, não me sentia encaixada dentro da Igreja e não me sentia encaixada fora dela, era como viver em cima do muro, não por uma ideia de indecisão, mas por uma ideia de querer estar em ambos os lugares ao mesmo tempo e não poder.

Cheguei em casa tão inútil quanto me sentia ao sair e nem podia transparecer, minha irmã não sabia e não entenderia, na verdade vivíamos brigando tanto naquela época que nem sei se me sentia bem ao chegar em casa... provavelmente não... mas não havia nenhum outro lugar pra onde pudesse ir.

Eu não era ninguém na fila do pão, repeti isso várias vezes pra Alice, não na ideia de reclamar de algo, mas na ideia apenas de dizer a mim mesma qual era a minha posição dentro daquela história, mesmo ela começando a dizer que não, que eu era alguém muito importante, chegou a afirmar que estava acima de todos... menos do Diogo, logicamente. Por fim Sophia ficou realmente sem falar comigo. O que dizer de sua atitude? O que dizer de todas as suas atitudes? Não sei, só sei que éramos amigas, eu apenas não sabia o tipo de amiga que ela era.

Obs: Comente, curta e compartilhe. Bju ;)

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Where stories live. Discover now