30- Arraiá

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Sexta-feira, dia 01 de julho de 2016, como se nada tivesse acontecido, Sophia, minha "best friend forever", insistiu pra que eu dormisse em sua casa após o ensaio, mesmo depois daquela semana que ficou sem falar comigo, pra irmos a uma festa junina que iria ocorrer no Campus de uma faculdade... seria minha primeira festa... a primeira da minha vida, digamos assim.

Parece idiota ela ficar uma semana sem falar comigo e eu voltar a ser sua amiga sem nem termos conversado a respeito, mas na época considerei infantilidade dela, muito por causa de sua idade, então sim, quando retornou o contato, mesmo sem conversarmos a respeito, deixei passar, pois não achei que poderia ter algum significado importante o que houve por causa de Alice.

Enfim... eu não sabia o que vestir, até porque não era apenas por causa do meu processo de perda de peso que não tinha roupas de festa, eu era crente muito pouco tempo antes daquele dia, então não tinha como já ter várias peças de roupa, sem dizer que o convite foi em cima da hora, então o máximo que fiz foi tomar um banho, me maquiar e pegar uma blusa emprestada com Sophia, que, como sempre, ficou bem gostosa.

Àquela altura eu já não olhava pra ela com olhar de cobiça, ou interesse, não que não a pegasse caso a mesma quisesse, mas ela era tão hétero que se tornava chata, pois seus assuntos sempre rodavam em torno de homens e homens, sem dizer que vê-los babando por ela enquanto eram esnobados me dava preguiça. Uma vez lhe disse:

– Graças a Deus que você é hétero, porque se você se apaixonasse por mim tu ia ser muito chata. – Ela riu.

Fomos pro local, passando da meia noite, parecendo duas idiotas pela rua tentando pegar algum ônibus, sendo que nenhum estava passando, então acabamos indo a pé mesmo morrendo de medo que algo nos acontecesse, mas rindo muito de tudo aquilo, porque, por sorte, nem era tão distante assim.

Conseguimos chegar vivas e inteiras, encontramos na entrada Cíntia e mais uma outra menina que estava de passagem pela Cidade, elas estavam nos esperando, embora já estivessem profundamente alcoolizadas... ao menos uma delas estava... mas foi ali onde a conheci, me referindo a Cíntia, e confesso que de primeira não simpatizei muito, pois era do tipo "alfa", todos meio que a rodeavam enquanto eu não fazia ideia de quem era.

Ainda na entrada fui abordada por um rapaz cheio de elogios a minha pessoa, tanto que chegou a dizer:

– Porque temos a mesma idade...

– Quantos anos você acha que eu tenho? – Perguntei interrompendo-o e rindo.

– Vinte e um? – Perguntou sorrindo e confuso.

Eu ri muito e respondi:

– Sério? Pega isso então e guarda pra você! Tá ótimo assim!

Quem me dera ter vinte e um anos. – Riu.

– Mas sério, eu gostei de você, a gente podia ficar, foi o destino que fez com que a gente se encontrasse aqui! – Disse ele.

– Faz assim, se for o destino, a gente vai se encontrar de novo, tá bom?! – Rindo. – Agora vou entrar, depois a gente se fala.

De fato nós nos encontramos novamente, mas confesso que num momento em que não consigo me lembrar se fiquei ou não com ele, e nem é muito por causa da bebedeira, mas também porque já tem tanto tempo que né... difícil... mas acho que peguei ele sim... como disse recentemente pra um amigo, minha boca é puta, meu corpo não... enfim. – Riu.

Lá dentro bebi e pela primeira vez cheguei ao estágio da bebedeira, mesmo que controlada, porque sempre tive o receio de perder o domínio das minhas ações e acabar fazendo e falando merda, mas bebi, dancei, quase peguei um rapaz gay muito lindo que estava com o nosso grupo, só que Léo, que estudava comigo, atrapalhou, e creio que tenha feito isso provavelmente porque também queria pegar o rapaz.

Durante a festa outro rapaz me abordou, falou meia dúzia de bobagens achando que iria me conquistar, bobagens mesmo, tentava quase ser poético numa balada com funk tocando. Me aproximei de seu ouvido rindo e disse:

– Tenta de novo porque tenho certeza que você pode melhorar!

Ele tentou, mas não ia sair nada que prestasse dali, então me afastei pra olhá-lo e vi que seu rosto não era lindo, mas também não era feio, e seu corpo parecia bom, então resolvi que ele seria meu primeiro beijo de "balada"... perguntei seu nome depois... ele me disse... virei as costas e já não lembrava mais. – Riu.

Quando contei pro meu irmão caçula que havia ficado com este tal rapaz, ele me perguntou:

– Mas por que você não pegou o telefone dele?

– Não fui lá fazer amigos não André, eu hein. – Respondi rindo.

Sophia ficava o tempo todo perto de mim, trazia cerveja pra gente, pra não bebermos da lata, ou do copo de ninguém por motivos óbvios, mas não saía, sempre estava por ali, mesmo quando parou pra ficar com um rapaz e ele simplesmente não desgrudou dela, ainda assim ali ela estava... por sinal ela também me atrapalhou a pegar o rapaz gay lindo que o Léo parecia estar de olho.

Aquela sensação era maravilhosa, a muito tempo não me sentia tão bem e livre como naquele momento, era como se vários dos meus bloqueios psicológicos estivessem desligados, estava me sentindo leve, tranquila, muito de boas enquanto curtia com meus colegas e a doida da Sophia, não pensava em problemas e tristezas, mesmo que eles ainda estivessem lá.

Pra virmos embora foi estressante porque o rapaz com quem Sophia ficou realmente não desgrudava, queria porque queria que ela o acompanhasse, inclusive que entrasse no carro onde estaria ele e seus amigos. Eu via em seus olhos que ela não queria ir enquanto o rapaz insistia e tentava me convencer, ou a ir junto, ou a deixar ela ir com ele... dizia ser um bom rapaz.

– Se você fosse um bom rapaz você já teria parado de insistir a muito tempo e respeitado o que estou dizendo. – Disse pra ele sorrindo com ironia. – Ela não vai com você, ponto.

– Eu estou apaixonado por ela. – Disse ele.

– Pega o telefone dela então meu filho, mas daqui ela não sai com você. – Respondi começando a ficar puta, mas ainda sorrindo.

Sophia me olhava com um leve sorriso no canto da boca, mas o rapaz só foi embora depois que nossos amigos se aproximaram, afinal, por mais que fossem gays, o que não lhes faltava eram músculos, aí sim o bom rapaz decidiu respeitar e partir, permitindo então que viéssemos embora com nossos amigos, todos bêbados, gritando, zoando e tudo mais que tínhamos, e não tínhamos direito pelas ruas.

Aquela noite foi muito divertida, chegamos por volta das sete horas da manhã em casa... no quartinho dela no caso. Eu estava exausta, bêbada, cheia de sono e... bem, e vazia. Deitei no meu colchão de sempre, no chão em frente aos pés da cama de solteiro dela... a ouvi dormir... mas antes que meu corpo desligasse, meu coração ardeu e em minha mente apenas uma pessoa surgiu... Alice.

Trocaria todas as bocas, todos os corpos, só por ela, mas eu era quem precisava esquecer, afinal, a apaixonada era eu, não ela, não é mesmo?

Obs: Comente e vote. Bju ;)

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Where stories live. Discover now