12- Demônia

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Sophia, apelidada por Felipe "carinhosamente" de "demônia", voltou de sua cidade e na quarta-feira, dia vinte e sete de abril de 2016, ela apareceu no Teatro, mas o que me lembro deste dia, a princípio, foi que cheguei mega atrasada por causa de um trabalho, mesmo sabendo que teríamos prova na aula de ritmo, e bastou passar pela porta que vi, depois de mais de uma semana sem vê-la, os olhos de Alice se encontrarem com os meus e seus lábios sorrirem, mesmo que sutilmente, como quem diz "oi" apenas com as expressões faciais. Não havia nada demais naquilo, mas era ela quem me olhava e não a máscara que a via usar no dia a dia pra se esconder, ou proteger, e adorava quando isso acontecia.

Entrei afoita por causa da prova, mas não me lembro bem do resto, sei apenas que Sophia parecia elétrica e empolgada, super simpática comigo, provavelmente por eu ter passado todos aqueles dias puxando assunto no privado, perguntando como estava, se havia tomado seu remédio ou não, até porque sou assim, mas não faço isso com qualquer um, não passo meu dia mandando mensagem pra todo mundo perguntando como está e etc, é que quando crio algum carinho pela pessoa, eu realmente tenho esse tipo de atitude, o que talvez não tenha sido muito bem compreendido por Alice, pois, devido a sua história de depressão, nasceu em mim uma necessidade em saber se a mesma estava bem, independente de todo o resto.

Sobre Sophia, permitam-me falar um pouco a respeito desse novo ser... ela era uma menina de vinte anos, consequentemente muitos anos a menos do que eu e que sempre se declarou uma pessoa de personalidade forte, abusada, teimosa, do tipo que fala o que pensa e que se diz extremamente sincera, resumindo, uma criança grande, maior de idade, magrela, mimada, loira de farmácia e fisicamente linda.

Se eu disser que nunca pensei em pegá-la estaria mentindo, mas Sophia era tão hétero e tão infantil que meu interesse se desfez... não no mesmo dia, – Riu. – mas ao longo de alguns outros que vieram, embora que, é claro que não deixaria passar se a situação acontecesse. Eu estava gostando de Alice, mas ela namorava, eu não e, percebendo meu atual estado, o que mais queria era conseguir tirar aquilo da minha cabeça... como se só estivesse na minha cabeça.

Fato é que Sophia retornou marcando presença, pois todos comentavam o quão diferente ela parecia estar, já que antes seu comportamento era muito mais agressivo e antipático, isso pelo que compreendi das histórias contadas, histórias que a própria "demônia" contava aos risos, parecendo sentir orgulho de ser como era.

Ela não curtia as coisas que eu postava no Facebook, pra quem olhasse talvez nem desconfiasse de sua existência na minha vida, mas de vez enquando surgia, do nada, no meu Whatsapp dizendo:

– Eu vi o que você postou.

Fosse sobre o que fosse, ela simplesmente comentava, como se quisesse dizer "eu não curti, mas eu vi ta bom.". Sophia se mostrava interessada mesmo quando eu nem estava pensando a respeito e acho que essas atitudes foram as que foram me conquistando, pois pareciam sinceras, pareciam verdadeiras, e não é que não fossem, até acredito que sim e confesso que, naquele momento, ou até mesmo hoje, era, ou é, mais fácil acreditar em Sophia do que em Alice, porque as intenções daquela menina sempre foram extremamente mais claras do que as da outra... sendo boas, ou não.

Enfim... sou de escorpião, meu sol está em escorpião, minha lua está em escorpião, meu Vênus e meu Saturno também estão em escorpião, por isso Alice chegou a me apelidar "carinhosamente" de Anticristo... foi brincadeira, mas o apelido pegou por um tempo. Desconfiança? Nem faz parte de quem eu sou não é mesmo... – Riu. – mas falando sério, dizem que quando alguém de escorpião desconfia de algo, normalmente está certo e eu não sei mesmo se isso pode ser possível, mas sempre achei impressionante como as coisas acontecem comigo.

Quando quero muito saber de uma coisa, normalmente é muito difícil descobrir, mas quando alguma coisa pode simplesmente me deixar muito chateada, ou muito triste, ela do nada surge na minha frente, seja porque alguém comentou a respeito pra pessoa "certa" que vai trazer aquilo à mim, ou sou eu que estou em tais situações e vejo o que preciso ver, ou ouço o que preciso ouvir... não que "precise", mas enfim, as coisas parecem simplesmente acontecer e eu fico sabendo, mesmo que não queira.

Sobre esta história digo uma coisa: É impressionante como as coisas se embaralham e quanto mais você pesquisa, mais algumas coisas vão te surpreendendo e você percebe o quanto simplesmente não sabe de tudo que imaginava saber. – Riu. – Eu poderia apenas chegar aqui e inventar mil coisas, inventar diálogos, conversas, olhares, expressões, mas não é essa a minha intenção, porque esta história não é sobre uma fantasia e sim sobre algo real, algo que realmente aconteceu.

Falo isso e posso garantir o quanto não tem sido fácil relembrar e reviver cada acontecimento, juro que gostaria de conseguir expressar tudo o que tudo isso me fez sentir, mas sei que será impossível, o bom é que, revendo algumas coisas, percebo alguns exageros meus, o problema é que sempre cogito todas as possibilidades e, por fim, prefiro suspeitar da pior opção justamente pra me decepcionar menos caso esteja certa... o que normalmente estou, infelizmente.


Obs: Comente, curta e compartilhe. Bju.

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Where stories live. Discover now