05- Improvisação

355 26 0
                                    

Como já mencionei, já vínhamos conversando pelo celular, o que foi, inclusive, por onde Alice me contou uma de suas particularidades que muito me abalou quando soube.

– Eu tenho depressão. – Afirmou ela.

Houve uma junção de acontecimentos que a fez entrar nessa situação e prefiro não mencionar, ao menos por enquanto, mesmo que tenham me contado uma outra versão a respeito tempos depois, fato era que ela tinha esse problema e saber disso mexeu muito comigo, assim como também quando me disse estar também afastada de uma Igreja Evangélica, era como um choque de realidade e em minha mente veio uma voz perguntando "o que você está fazendo?"... me senti um monstro por causa disso.

Ela tinha um namorado, ela tinha uma doença séria e eu estava me enfiando em sua história sem motivo algum, parecia tão idiota porque, por mais que negasse, no fundo eu sabia a merda que estava fazendo, do contrário não teria tais pensamentos passando por minha mente, o problema é que eu já estava muito longe, enquanto achava não ter saído do lugar, mas não sabia como fazer pra voltar.

Eu era simpática e provavelmente galanteadora porque sou assim, sou extremamente gentil, ao menos tento muito ser, principalmente quando a pessoa me interessa, faz parte de quem sou, quando vejo já estou me comportando assim, sou "cavalheiro" e saber que a pessoa por quem estava nutrindo aquele tipo de sentimento sofria com uma tristeza profunda me fazia me preocupar ainda mais em vê-la bem.

Continuei tentando me enganar, até porque não sabia realmente o quão afundada estava naquele sentimento que surgia sorrateiramente, principalmente quando parava admirando sua foto de Whatsapp... como já comentei, ninguém via... ninguém sabia, mas nem eu assumia o que estava acontecendo.

A quarta-feira da semana seguinte chegou e, como sempre, Alice ficava muito com Lívia, elas pareciam muito amigas enquanto eu ia fazendo amizade com os demais e, se estou me lembrando bem, o que infelizmente não tenho certeza e nem muito como descobrir a respeito, mesmo depois de muito pesquisar e pensar, devia ser dia seis de abril de 2016, quando tive minha segunda aula de improvisação naquela turma, na qual era comum realizarmos exercícios em dupla, os quais já havia participado em minha turma anterior.

Durante o processo eu estava sentada próximo a Alice quando a mesma me puxou pra fazermos juntas uma cena dentro de um determinado momento do jogo. No improviso, temos em vista determinar coisas durante o que estivermos fazendo como: quem somos, onde estamos e o que queremos... mais ou menos isso. Não sei como aconteceu, até porque não é algo que se combine antes, nós apenas definimos, durante as ações, que eu era lésbica e que teria que paquerá-la... irônico não?

Detesto improviso, não tenho cérebro pra isso... foi complicado e isso já deveria me fazer saber o que estava acontecendo comigo, mas a gente sempre fica em negação, eu achava que era apenas curiosidade minha em saber se ela havia de fato demonstrado algum interesse, ou se estava apenas sendo simpática, quando na verdade a interessada estava sendo eu.

Fizemos o jogo, foram os cinco minutos mais longos da minha vida, parecia uma tortura estar naquela situação, não apenas por timidez, mas pela luta que foi tentar disfarçar o real interesse que eu tinha, mas fiz meu papel, fiz o que devia fazer, só não sei qual impressão passei... nunca soube na verdade.

Naquele tempo íamos embora juntos, Lívia, Alice, eu e Léo, o que era bastante divertido e válido, pois nós íamos pra mesma direção, não que eu precisasse, já que podia pegar um ônibus próximo ao curso e pegar outro mais distante gastando apenas uma passagem, mas escolhi caminhar por trinta minutos com eles na intenção de socializar e esta escolha era mesmo sem segundas intenções, ali de fato pensava na interação já que era nova na turma.

Pra fechar aquela semana, na sexta-feira, tive um trabalho exaustivo durante o dia que me fez chegar mega atrasada na aula de interpretação. Ao chegar na sala, meus colegas já faziam exercícios, mas eu estava exausta, então apenas me deitei no fundo e fiquei esperando a minha vez.

Enquanto descansava Lívia foi uma fofa trazendo água pra mim sem eu nem ter pedido, mas, por um momento, esse não foi o ápice desta breve observação... Alice surgiu, enquanto me mantinha de olhos fechados, acariciou minha cabeça e me beijou a testa.

Confesso que, se não me engano, me deitei próximo a beirada de onde estava de propósito e aquele beijo não me surpreendeu, por mais que pudesse não ter significado algum, já que, entre mulheres, é comum haver demonstrações físicas de carinho, mas, como eu disse, tudo estava pra acontecer, afinal de contas, como já foi mencionado lá atrás, nós transamos... faz sentido pra você? Pra mim não fazia. 


Obs: Comente, curta e compartilhe. Bju

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Where stories live. Discover now