03- Motivo, ou Desculpa?

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Havia uma outra questão em minha mente... meu livro... sim, sou escritora, quem poderia imaginar? – Riu. – Sou escritora e precisava criar uma capa pra um outro livro meu, queria algo baseado num personagem de uma série de televisão antiga e esse foi o meu grande foco durante todos aqueles dias que antecederam minha primeira aula na turma nova, cheguei a tentar aprender a usar photoshop, mas não estava conseguindo me resolver muito bem por conta própria.

Pensei então em Lívia, a outra menina que havia conhecido na porta do Teatro, pois haviam comentando que ela era maquiadora e concluí que talvez pudesse contratar seus serviços, com isso, no dia seguinte, quinta-feira, fui pro Teatro com este objetivo, embora que, inconscientemente, sentia uma ansiedade com a chegada de Alice, mas ela não apareceu naquela noite, então fui até sua amiga, perguntei sobre o que precisava e foi quando recebi a seguinte ideia:

– Fala com a Alice, ela ama essa série que você tá falando e ama Cosplay, por isso acho que ela deve conhecer alguém que já tenha o que você precisa, porque pra isso não basta maquiagem, tem que ter uma prótese pra colocar no rosto também, então acho que alguém que já faça o Cosplay desse personagem seja uma melhor opção.

Aquele momento que você descobre que a pessoa que te causa pulga atrás da orelha ama a mesma séria que você também ama de paixão. Como lidar? Lívia tinha acabado de me dar um motivo pra conversar com Alice em particular.

É engraçado, as coisas vão acontecendo e você vai tentando se convencer de que tudo continua sendo apenas imaginação sua... eu tentava fazer isso... parece repetitivo falar esta frase, mas é porque era desta forma que acontecia dentro de mim, tentava me dizer que meu motivo era puro, que era só por causa da capa do meu livro, que não havia nenhuma outra razão pra querer me aproximar da menina de cabelos vermelhos... eu sei, cada hora a chamo de um jeito diferente, mas me deixa – Riu.

Naquela noite fui embora somente com Lívia. Não pensava em outra coisa depois da sugestão que havia recebido, havia uma ansiedade em mim, queria que a aula seguinte chegasse logo e que desse a sorte de Alice comparecer pra poder tratar do "meu motivo", ou desculpa... enfim.

Sophia já havia viajado e eu já havia sido incluída no grupo de Whatsapp da turma desde a noite anterior. Confesso que entrei no perfil do grupo, pois queria ver os integrantes do mesmo, entrei me dizendo que queria apenas vê-los, salvar seus contatos em minha agenda, mas fui pra ver o dela e só piorou. – Riu.

Sua foto era linda, com um outro ar do que aquele que demonstrava pessoalmente e fiquei alguns segundos admirando-a... o olhar... o sorriso... os lábios pequenos, belamente desenhados pela natureza e por um batom vermelho... a delicadeza em si... a cor gritante de seu cabelo... minha pulga se moveu no fundo da minha mente, ela estava lá e só eu sabia, embora fingisse não saber, me achando o último biscoito do pacote... idiota.

Eu ainda procurava por séries e filmes temáticos, escondida no meu quarto, usando o modo anônimo do computador pra ninguém encontrar minhas pesquisas, não que o compartilhasse com outras pessoas, era apenas uma prevenção, mas assim ia assistindo, principalmente nos momentos sozinha, como nas quintas em que o apartamento ficava só pra mim, e sentia todas aquelas informações encherem meu coração... já havia alguns meses que fazia isso.

É impressionante como existem poucas coisas realmente boas disponíveis na internet a esse respeito, me refiro a filmes de qualidade, com boa interpretação e imagem, ou com uma história realmente marcante. Lembro que cheguei a assistir uma série americana antiga, exclusiva desta temática, muito boa por sinal, mas algo novo mesmo não encontrei muitas coisas infelizmente.

Sentia tudo isso, mas ainda sentia também que o fato de não estar indo à Igreja me deixava triste, como se estivesse perdendo um pedaço de mim, pois era assim que via, de fato era como se fosse um pedaço meu que se perdia com o passar do tempo e já o sentia acontecer a mais de dois anos.

– E como é se sentir livre? – Me perguntou Lívia naquela noite em que fomos embora sozinhas, pois ali lhe contei que estava afastada da Igreja.

Livre?... Deus é o maior amor da minha vida, eu sou completamente apaixonada por Ele, a pergunta certa poderia ser "E como é sacanear a pessoa que você mais ama na vida por egoísmo?"... você não precisa concordar, mas só quem viveu o que eu vivi consegue entender o que quero dizer... meus pais não sabem da minha sexualidade, ao menos o meu pai não, o que pretendo mudar em breve, mas se o que está escrito na Bíblia realmente for verdade, Deus não apenas sabe, Ele vê... Ele não gosta... eu sofro... mas essa é a minha realidade.


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LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Where stories live. Discover now