20- O Sofázinho

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Sexta-feira, dia dez de junho de 2016, véspera do final de semana com o dia dos namorados e me lembro que fui pro teatro exausta e feliz, pois havia tido uma ótima oportunidade numa emissora de televisão, mas nem tudo eram flores, pois, ainda pelo caminho, soube que Alice havia passado mal em meio a seus conflitos, então senti toda minha alegria se desfazer, pois tudo que queria era ter estado ali quando ela não estava bem.

Lembro de estarmos sentadas no sofázinho que havia no camarim e ali contei pra ela e pra outros como havia sido aquela "tal" oportunidade, mas quando vi as pessoas foram saindo e apenas nós duas fomos ficando. Não me lembro o porquê dela ter passado mal, mas me lembro que costumava acontecer por causa de sua mãe e às vezes por causa de Diogo.

Me partia muito o coração todas as vezes em que me dizia não estar bem, meu desejo em eliminar sua dor era imenso e a impotência me angustiava profundamente, pois não havia o que pudesse fazer além de elogiá-la e fazer-lhe um carinho, fora que, como vivia pisando em ovos, tudo se tornava mais difícil pra mim, pois tinha sempre receio de tudo que pudesse fazer ou dizer... eu não queria ser mais um problema, juro que não, apenas não sabia o que fazer.

Lembro também que Alice andava ensaiando para uma apresentação de Cosplay que ocorreria no final daquele mês, ela havia comentado uma ou duas vezes, mas não havia dito nem quando, nem valor e nem onde seria, então lhe perguntei ali, sentadas naquele sofá velho e desconfortável, a este respeito. Alice pareceu ficar um pouco sem graça, disse que estava para acontecer e falava com ar de quem diz "ah, não é nada muito importante".

– É importante pra você? – Perguntei.

– Sim.

– Me me diz então quando vai ser, porque quero ir te ver. – Sorri gentilmente.

Quarenta reais era a entrada, foi o que me disse, mas sustentei minha afirmação, pois de fato, se aquela apresentação era algo importante pra ela, também seria importante pra mim, pois queria vê-la bem e isso era o mais importante, até mais do que eu mesma.

Sozinhas no camarim, lembro dela comentar o perigo que corria todas as vezes que ia embora após as aulas, pois o metrô não ficava próximo a sua casa, o horário era tarde e as ruas desertas, disse inclusive que chegou a ser seguida umas duas vezes e aquilo me angustiou muito, então mais uma vez lhe disse:

– Se você quiser, ao menos nas quintas, você pode ir comigo pra minha casa ao invés de ficar se arriscando já que sua mãe te busca nas quartas e o Diogo faz o mesmo nas sextas, juro que até durmo em outro canto, porque lugar pra dormir é o que não falta dentro da minha casa.

Não me lembro de sua resposta, acho que apenas me agradeceu, mas essa era a minha ideia, mesmo que houvesse uma maldade no fundo da minha mente, até porque era algo inevitável, já que existem pensamentos que nos surgem sem nosso controle, mas não era esse o fundamento da minha proposta, eu realmente estava me preocupando com sua segurança. Meu respeito era tão imenso que sem dúvida minha boa intenção se sobressaía e no fim não faria nada... quem namorava era ela... o poder era dela e eu realmente me sentia prejudicando-a.

Aquele momento, pra mim, estava tão agradável que ficaria ali pelo tempo que pudesse ficar, só estávamos nós duas e havia um certo silêncio ao redor, já que os demais estavam todos em aula, inclusive os nossos. Ambas sentadas num pequeno sofá de dois lugares, ou seja, quando pra ela olhava, seu rosto estava a poucos centímetros do meu e estávamos conversando tão tranquilamente... sei lá... eu sentia um certo carinho no ar, entende? Tanto de mim, quanto dela, mas felicidade de pobre dura pouco, assim como costumam dizer, pois vieram nos chamar e então subimos.

Àquela altura eu já sabia o que sentia por ela, já havia assumido pra mim mesma e pra um amigo do trabalho de figuração que, uma vez, me perguntou:

– Você namoraria com ela?

Aquela frase entrou rasgando minha alma, senti meu peito arder e minha mente travar porque se dissesse que não seria mentira, mas se dissesse que sim estaria negando meu retorno pra Igreja... eu não pensava demais porque queria, pensava porque eram muitos os motivos que me faziam pensar.

– Namoraria. – Respondi.

Por Whatsapp lhe contei a esse respeito e ela achou fofo. Como você consegue esquecer alguém que acha fofo uma coisa dessa? Alice poderia não me dar condições, mas também não negava as que surgiam e eu seguia da mesma forma de sempre... seguia confusa.


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LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Unde poveștirile trăiesc. Descoperă acum