07- Eu

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Estive pensando e concluí que talvez seja importante dar um pouco mais de informações a meu respeito. Confesso ter uma sensação desagradável quanto a isso, não porque seja algo ruim, mas pela ideia de exposição, sou uma pessoa reservada, sou uma pessoa complexa e vou explicar um pouco.

Quando eu tinha dezesseis anos entraram duas mulheres na Igreja e estavam desesperadas, me pediram oração, pois uma estava jurada de morte por um agiota e seu prazo findava no dia seguinte... essa era minha função, meu dever, estava ali pra ajudar as pessoas no máximo que pudesse e, dali pra frente, várias foram as vezes em que estive com o papel determinante sobre a vida e a morte de algumas pessoas.

Algumas me ligavam dizendo que estavam prestes a cometer suicídio, outras me procuravam por serem dependentes químicos, por precisarem de ajuda e eu não era uma pessoa relapsa, eu sentia cada dor, me preocupava com cada vida... mas eu só era uma criança.

Com isso o que posso dizer é que não tive adolescência, não tive juventude, havia uma grande responsabilidade sobre mim e a tinha por escolha própria, pessoas dependiam de mim, pessoas se espelhavam em mim e com isso, eu precisava ser o mais perfeita que conseguisse ser... não era fácil.

Outro dia escutei que dentro de casa eu era cheia de defeitos, mas a mesma pessoa me disse:

– Talvez fosse assim por ser o único lugar onde você podia ser você mesma.

Não posso dizer que não amava o que fazia, pelo contrário, quantos foram os sorrisos que recebi e quantas vezes escutei:

– Agora me sinto bem melhor, me sinto mais leve.

Isso era a melhor coisa do mundo, só que por isso eu precisei ver a vida de uma forma bem séria desde nova... não era fácil... haviam dias que só queria me trancar em meu quarto e mergulhar em meu mundo... todos os dias saía de casa por volta das seis e meia da manhã e chegava por volta das dez ou onze da noite... eu amava o que fazia, mas como fica o psicológico?

Devido a religião e devido a necessidade de ser sempre um "bom exemplo", cheguei a ficar cinco anos sem dar um único beijo na boca, pois só podia fazê-lo se estivesse namorando e quando falo "namorando" é namorando mesmo, pois na Igreja não existe o famoso "ficar", por isso creio que minha mente tenha se tornado um tanto quanto mecânica pra algumas coisas, pois eram bem simples certos detalhes, por exemplo, ninguém se aproximava de ninguém sem a intenção de namorar, então todos sabiam no que ia dar.

Essas sãos as ideias do que seria o correto, lógico que nem todos se comportam assim, mas foi assim que aprendi que deveria ser e era assim que eu vivia... como fica o psicológico?

Namorei e noivei duas vezes com pessoas que não me interessavam de início porque estava cansada de estar sozinha, e quando digo isso não me refiro a desejos, eu realmente estava sozinha, como comentei, as vezes por cinco anos e poxa, não sou de ferro... andar de mãos dadas... ir a um cinema juntos... ter alguém que se preocupe e cuide de mim... que se importe.

Cheguei a amar meus exs, mas nunca senti por eles o tipo de paixão que te dá sentido à vida, isso só vim a ter com a minha ex, mas que, por causa justamente da religião, nós tivemos que nos separar, nós decidimos que íamos esquecer... eu esqueci... acabei sem ela e sem a religião.

Haverão frases como "Você pensa demais"... como não pensar?... como entender o "talvez" quando você passa dez anos aprendendo que só existe "sim sim não não", eu era uma típica beata, uma criança que precisou amadurecer rápido, que não podia ser fraca, que não podia ter dúvida, que não podia sentir medo... não era fácil.

Tudo que fiz de bom foi por puro instinto, eu simplesmente era sincera e aprendi que a sinceridade era a chave pra muita coisa boa, mas nós vivemos num mundo de mentiras, de joguinhos, de pessoas com medo de expor seus sentimentos e pensamentos... de máscaras... só que eu não tinha uma... pelo menos acho que não... tentava não ter.

Muitos podem me considerar chata... eu sou como um "Sheldon", tenho dificuldade em ler as pessoas quando se trata de mim, pois levanto todas as hipóteses possíveis e no fim, sempre acredito na que me desfavoreça porque penso que é melhor as vezes um pouco de pessimismo, do que me decepcionar com uma esperança, mas ninguém me contou que quando a gente se apaixona, o coração cria esperanças sozinho sem nem te consultar.

Não sou a melhor pessoa do mundo, tenho meus defeitos, mas juro que tento acertar, ou tento pelo menos não prejudicar ninguém... enfim... ta aí um pouco mais de mim, agora vamos ao real início dessa novela adolescente. 


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LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora