02- Será?

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Meu primeiro dia rendeu, pois naquela mesma noite conheci uma outra pessoa que faria parte dessa história de forma marcante, ela era uma jovem muito bonita, embora estivesse com uma aparência abatida. Não falei com ela mais do que num simples cumprimento, não havia nem abertura pros que já eram da turma, quanto mais pra alguém que era nova ali.

Sophia, pelo que dissera, não estava bem de saúde e, devido a isso, voltaria pra sua Cidade em busca de exames e tratamentos, pois todos os seus parentes eram de lá. Havia uma comoção por parte da professora e de alguns alunos, não me recordo muito bem, só me lembro do clima pesado que pairava no ar, pois era um dia de despedida, mesmo que fosse temporária, o que na verdade acho que ninguém sabia como seria.

Não me lembro também de ainda pensar naqueles olhos sorridentes depois que a jovem triste entrou na sala, acho que aquilo meio que me distraiu, de qualquer forma eu estava tensa pela ideia de estar "começando tudo de novo" mais uma vez... como não ficar? Começar tudo de novo já é chato, mas fazer isso mais de uma vez se torna ainda mais desagradável, só que desistir não é uma opção, então a gente levanta e segue a vida... fazer o quê?

Nossa primeira aula foi de ritmo, nessa aula, como o nome já sugere, nós aprendemos a esse respeito com o intuito de sabermos aproveitar melhor nosso tempo numa peça. Pra mim era meio difícil, pois ritmo é uma coisa que, fisicamente, me falta – Riu. – me ver dançando deve ser a coisa mais bizarra do mundo, sempre tive dificuldade em coordenar certos movimentos, me atrapalho durante o processo e isso me deixa muito chateada... muito mesmo.

Perfeccionismo, sofro muito deste mal, então realizar os exercícios que eram apresentados... nossa... quanta dificuldade... que tortura era aquilo, mas eu tenho pra mim que precisamos nos desafiar, precisamos enfrentar nossas dificuldades e superá-las, não que eu tenha superado. – Riu. – mas a gente tenta né.

Quando aquela aula terminou, juro que agradeci aos céus, então desci pra cantina, junto com Pedro, que havia me chamado e por lá sentamos. Conosco havia mais alguma pessoa e ela... desculpem, ainda não lhes contei seu nome, pois bem, Alice também desceu e se sentou junto ao balcão com uma marmita. Eu ainda não sabia, mas ela sempre levava sua comida pois estava fazendo alguma dieta, ou reeducação alimentar, creio que com o intuito de perder peso.

Houve um assunto entre as pessoas e a moça da cantina, alguma zoação a respeito de gostos e preferências. Pedro mencionava gostar de mulheres mais cheinhas quando eu desconfiei, ainda mais, sobre a sexualidade daquela moça de olhos sorridentes e tristes... sim... tristes... enfim... naquele momento ela disse:

– Dificilmente reparo em homens, reparo muito mais em mulheres, são tão mais lindas...

Confesso não lembrar exatamente da frase usada em meio a sorrisos e olhos brilhantes, confesso que pouco estava prestando atenção, mas quando Alice disse tais palavras e da forma com que fez, minha pulga gritou atrás de minha orelha, porque, mesmo que não tenha tido essa intenção, parecia que estava passando um recado, e aquele olhar que recebi voltou a minha memória e me fez pensar: "será?"

Pode parecer estranho, ou bobo, mas vivi muitos anos dentro da minha religião onde a maioria das pessoas são héteros e as demais nem tocam no assunto. Houve uma vez em que uma menina, a qual eu estava tentando ajudar, ficou interessada em mim, dizendo inclusive ter sonhado comigo... ela era muito bonita por sinal... mas na época eu era "hétero" e lembro que a passei pra outra pessoa ajudar justamente por causa disso, não por preconceito, mas porque essa atração dela por mim iria atrapalhar a ajuda que estava tentando lhe dar.

A questão é que sempre convivi com héteros na maior parte da minha vida, então estar entre pessoas homossexuais era algo muito novo pra mim, onde só na minha turma existiam pelo menos três, sendo dois rapazes e Alice, nem eu me considerava ainda, por mais que tenha tido um relacionamento homo, pra mim havia sido algo exclusivo porque realmente não me percebia sentindo atração por outras mulheres, senti só pela minha ex, então sim, aquilo me deixou intrigada e curiosa... o que me fez pensar mais nela.

Com isso prestei ainda mais atenção e notei que havia um ar estranho sobre Alice, era como se houvesse uma tristeza, não sei explicar, mas naquela época isso era bastante evidente pra mim, talvez por estar acostumada a ajudar as pessoas na Igreja... não sei, só sei que tanto no olhar, como no jeito, havia algo e eu não entendia o que aquela sensação me causava.

Assim se encerrou aquele meu primeiro dia de aula na turma nova. Havia uma mistura de pensamentos, de "achismos", no fundo da minha mente enquanto eu continuava me dizendo que nada estava acontecendo e que era tudo coisa da minha cabeça... "será?"

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LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora