19- Rafael

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Não me lembro de haver algo relevante entre maio e início de junho, embora eu creia que deva haver sim, até porque, quando observo o histórico e percebo que não se passava uma semana sem algo acontecer, presumo então que haja, – Riu. – mas a gente segue a vida.

A única coisa que tenho quase certeza que ocorreu, ainda em maio, foi num dia de sexta-feira em que me sentei ao lado de Alice enquanto Sophia se aproximou e se sentou na minha frente, nossa turma falava sobre nossa peça de segundo período quando a professora, do nada, olhou pra mim e disse:

– Você tem cara de quem não consegue resistir a uma tentação. – Riu.

Não sei de onde veio aquele comentário, até porque não tinha nada haver com o assunto em questão, mas Alice sorriu pra mim com cara de quem concordava, até porque, não sei se antes ou depois do que foi dito, eu estava alisando sua perna com segundas intenções enquanto tentava ser discreta, mas antes que você, leitor, pense a respeito, não creio que eu tenha sido notada pela professora, é que muitos dizem que realmente tenho cara de safada, o que provavelmente deve ser por causa do meu excesso escorpião. – Riu.

Enfim... – Riu. – sábado, dia quatro de junho de 2016, tive mais um dia de trabalho como figurante já sabendo que o dia seria longo e cansativo, pois de lá iria direto pra casa do meu pai, a qual já comentei ser bem distante, ou seja, ficaria mais de três horas a caminho de lá, mas antes disso resolvi ceder aos pedidos de Rafael.

A gravação daquele dia acabou no meio da tarde, o que era ótimo, então lhe enviei mensagem avisando da minha disponibilidade e nos encontramos pelo caminho. Rafael era um homem bonito, quase perfeito quanto as características que me atraem em um homem, mas não falo de um "Deus grego", não, ele tinha uns dez ou quinze centímetros a mais do que eu, era magro e razoavelmente definido, moreno claro, três anos mais velho e com um sorriso lindo.

Fui recepcionada com cheirinho de pasta de dente – Riu. – e com um abraço apertado, pois não nos víamos a vários dias, várias semanas na verdade. Fomos então pra sua casa, local que dividia com outros amigos, pois nem ele era daqui, assim como várias outras pessoas que conheci ao longo do tempo envolvida com a arte, ou seja, ele também veio de outra cidade.

Entramos em seu apartamento e ele me apresentou todos os cômodos possíveis antes de irmos pro seu quarto. Meu coração estava inquieto, pois é lógico que ele esperava por sexo e nem vejo isso com maus olhos, ambos somos adultos, não estávamos em 1950 e muito menos estávamos vivendo um conto de fadas.

Seu quarto tinha um colchão de casal no chão e um armário. Rafael fechou a porta enquanto eu colocava meu celular pra carregar, foi quando precisei jogar ainda mais aberto com ele. Respirei fundo, me aproximei, o abracei, o beijei e disse:

– Preciso te contar uma coisa... eu passei a maior parte da minha vida seguindo o máximo que pude da minha religião, consequentemente sou virgem. – Sorri. – Por isso não me leva a mal, não é que eu não queira, eu só não queria perder agora porque tenho hora pra ir embora, não acho que vai ser o melhor momento.

Rafael me beijou e disse:

– Não tem problema, respeito, a gente fica aqui então se curtindo um pouco antes de você ir, pode ser?

– Pode sim.

Foi o que fizemos, nos deitamos, nos curtimos e foi muito bom, muito bom mesmo, meu corpo reagia ao seu toque e era muito gostoso estar ali com ele e vê-lo reagir ao meu também, mas, infelizmente, eu teria que ir embora, teria que ir pra casa do meu pai por causa do aniversário da minha avó paterna.

Alguns poderiam dizer "ah, mas aniversário tem todo ano, não se desperdiça uma oportunidade de sexo assim"... então... – Riu. – minha avó, minha única avó existente, era a última viva em minha família e faleceu a dois meses a contar por hoje, dia dois de outubro de 2018, sem dizer que, naquele ano, fazia apenas um ano que eu havia perdido minha avó materna.

Quando deu minha hora nós descemos e fomos de mãos dadas até o ponto de ônibus onde ficamos abraçados, mas antes que surjam esperanças, Rafael estava de viagem marcada, pois havia comprado um pacote de intercâmbio na Europa, com o intuito de estudar inglês e eu já era ciente disso desde o primeiro dia que nos vimos, então não, não teria como me iludir com ele pra depois ficar mais um ano longe.

Peguei então meu primeiro ônibus, depois o outro, depois mais um, o qual ficaria por duas horas, pra então meu pai me buscar no centro e me levar pra casa dele, e menciono pra ser ter noção da viagem que eu tinha pela frente naquela noite engarrafada.

Passei todo o trajeto pensando em Rafael e Alice, alternava e me lamentava pela ideia de que seria tão mais fácil estar com ele, se o mesmo não fosse embora, mas creio que mesmo que não fosse, não daria em nada, porque meu coração já estava preenchido e ficar com ele não fez o efeito que esperava... eu continuava apaixonada por ela... fazer o quê?


Obs: Comente, curta e compartilhe. Bju

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora