04- Só Que Não

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As coisas aconteciam e pareciam durar semanas, mas quando vejo duraram apenas algumas horas, ou poucos dias tipo... três... o que faz com que sempre me surpreenda, por isso pretendo informar datas, pra que você, leitor, possa acompanhar junto comigo como milhões de coisas são possíveis de acontecer em tão pouco tempo e também perceber as causas de muitas coisas... enfim.

Sexta-feira e me lembro que no intervalo, como de costume, Alice foi até a cantina comer e eu fui atrás, de propósito, com o meu "motivo", situação que apenas me dava uma razão, que não fosse mal intencionada, para fazê-lo, embora houvesse segundas intenções sim.

Lá estava ela, sentada com sua marmita, quando me aproximei, me sentei ao seu lado e disse:

– Tava falando com a Lívia ontem e ela me disse que você gosta muito de Buffy, a caça vampiros.

Seu rosto se iluminou ao falar daquilo dizendo o quanto amava aquela série e, como eu também amava, nossa conversa girou muito em torno disso durante quase todo o intervalo, até que tive a completa certeza do que eu meio que já sabia.

– Eu fiz a minha ex assistir tudo de novo comigo! – Disse ela rindo. – No fim ela ficou apaixonada também.

Todas as intenções de sua frase referindo-se a alguém no feminino, então não havia mais dúvida, no mínimo ela era bissexual, mas não era por isso que eu estava ali, só que meu objetivo era tão firme em falar do meu trabalho que nem toquei no assunto, – Riu. – ao menos não me lembro mesmo de ter falado a respeito, não de início, apenas muito depois.

Infelizmente Alice não tinha como me ajudar, pois não conhecia ninguém que se fantasiasse do personagem o qual eu estava precisando, mas dali puxei assunto com ela pelo Whatsapp, não mais apenas sobre minha capa, talvez sobre livros, séries e Cosplay, pois antes dela aquilo era algo do qual nunca havia ouvido falar.

Cosplay, pra quem não conhece, assim como eu não conhecia na época, é quando as pessoas se fantasiam como personagens de filmes, séries ou desenhos, existem eventos em várias partes do País com disputas e premiações, e este era mais um assunto que Alice adorava falar a respeito e, como lhe disse uma vez referindo-me aos seus problemas, não importava o motivo que fosse, ou o assunto, se era importante pra ela, eu respeitava.

Então surgiu um detalhe interessante e confesso não lembrar de quando descobri, provavelmente um pouco depois de ser incluída no grupo de Whatsapp da turma e desta conversa sobre Buffy no intervalo da aula, apenas sei que não soube por Alice, mas sim pelo Facebook, que tudo vê e tudo sabe, e que pouco mexia, que ela tinha um namorado.

Ela não havia mencionado este fato em nenhum momento anterior que descrevi e nem depois de ter estado em sua companhia ao menos duas vezes naquela semana por conta das aulas, mas tudo bem, nada demais a esse respeito, acabaria fazendo eventualmente e eu na verdade nem fui atrás, apenas nos adicionamos, o que já era de se esperar, e lá estava a informação, então tentei me convencer que este era mais um forte motivo pra não pensar mais naquele assunto... tentei.

Conheci um rapaz no final de semana, num trabalho de figuração em que participei, durante um dia lindamente romântico que tivemos, pois era uma novela de época e por fim, na saída, nos beijamos... pensei que talvez pudesse surgir algo dali, comentei com Amanda, minha ex e atual melhor amiga, mas o máximo que aconteceu foi que recebi um grande esporro dela, afinal, ainda não estava declaradamente afastada da Igreja.

Com Alice mantive o contato pelo celular, haviam outros assuntos que começaram surgir, assuntos mais pessoais dela inclusive, onde provavelmente, e finalmente, ela tenha mencionado o tal namorado, mas quando paro e penso, ou até releio o que escrevi, parece que realmente interpretei tudo errado, afinal as pessoas podem apenas ser simpáticas umas com as outras, sempre soube disso, até porque tento ser também, o problema é que meus "achismos" e meu ego estavam sendo mais forte do que a minha razão.

Eu abria meu Whatsapp e lá estava aquele cabelo vermelho se destacando entre as demais pessoas... eu fechava, abria novamente e fechava de novo, abria sua foto, admirava quieta os contornos de seu rosto... de seu pescoço... sua mão... fazia sem ninguém perceber, até que não resistia, enviava uma mensagem e ela logo respondia.

Conversar com Alice era fácil, era bom, ou era apenas a ilusão que criava pra mim mesma, mas fosse real, ou ilusório, era muito bom, gostava das coisas que ela gostava, achava interessante essa vida de anime japonês, filmes, séries e demais desenhos, fora a preocupação e carinho que cresceu em mim por causa de seus problemas pessoais, eu a conhecia há tão pouco tempo e já sabia de detalhes que não cria ser de conhecimento de todos... ela tinha depressão.

As vezes tenho o receio de estar apenas jogando informações aqui, mas é difícil expressar em palavras todo o ocorrido... me sentia atraída, não sei bem pelo quê, hora penso que fosse meu ego, mas enquanto descrevia e pesquisava sobre minha história, comecei a perceber coisas a mais do que isso, então creio que tenha sido uma junção de alguns fatores.

Sobre minha nova turma, nos dávamos muito bem, eles eram uns fofos, nós zoávamos e conversávamos, fosse pessoalmente ou no grupo, com isso me sentia muito mais a vontade ali do que em minha turma anterior, talvez fosse pela compatibilidade das idades, já que na outra as pessoas eram, em sua maioria, bem mais novas, mas naquela as idades eram semelhantes... talvez fosse isso, não sei.

Assim se encerrou aquela semana, minha primeira semana na turma nova. Tudo estava prestes a acontecer, faltava bem pouco e eu não fazia ideia, até porque, pra mim, como já disse, era tudo apenas uma viagem da minha cabeça, fruto da minha imaginação e ego... só que não.


Obs: Comente, curta e compartilhe. Bju

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Onde histórias criam vida. Descubra agora