14- Angústia

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Aquele sentimento me angustiava e confundia, eu não sabia o que pensar, precisava de uma outra opinião, mas não podia ir à minha melhor amiga, que também era minha ex, pois quando lhe contei a respeito de Rafael foi que comecei a descobrir que, depois de mais de um ano separadas e sem nem tocarmos no assunto, Amanda ainda me amava... eu não tinha ninguém.

Minha melhor amiga ainda não havia me esquecido, a pessoa que havia sido o grande amor da minha vida, mas que, por causa da religião, eu havia desistido... aquela havia sido uma das piores dores que já havia sentido, pois realmente queria permanecer na mesma fé e meu esforço foi tão grande que acabou com o que de melhor já tive em todos esses anos.

Eu estava sozinha e aquele era um sentimento horrível, havia, como comentei, tanta confusão em minha mente porque Alice era a primeira pessoa "não da Igreja" com quem eu havia me relacionado tão intimamente... eu não sabia mesmo o que pensar ou esperar, comecei a pensar coisas horríveis pra ver se assim conduzia meu psicológico de volta ao caminho certo, mas não conseguia.

Não falo assim como se eu tivesse pudores, ou problemas com relação a ter uma experiência de sexo casual, juro que não tenho, a questão é que as três semanas que passei conhecendo-a me faziam rejeitar completamente que ela, sendo comprometida, pensasse, ou se comportasse assim, mas não podia pensar que eu seria tão avassaladora que em tão pouco tempo teria causado uma traição... era muito pro meu ego.

A visão que tinha de Alice era muito boa e por várias vezes pensei coisas como "ta incomodada por que se a corna não foi você?!"... "esquece essa história, não teve importância, foi só sexo"... "você foi apenas mais uma que passou pela vida dela"... "a corna não é você, para de palhaçada!".

Quando a olhava e sentia seu olhar a mim não via putaria, não sei explicar, mas aquilo que eles emanavam me corroía ainda mais por dentro e ainda mais forte eu me perguntava... "vai fazer o que se existir mesmo alguma coisa? Não vai mais voltar pra Igreja não? Pára de pensar nisso pelo amor de Deus!"... eu não conseguia, ainda mais tendo que vê-la... tendo que conviver com ela.

Tentei conversar com um amiga, também afastada da Igreja, que há alguns anos assumiu relacionamento com uma outra mulher, pensei que ela talvez me ajudasse, talvez entendesse e pudesse me passar seu ponto de vista da história, mas seu olhar era tão superficial que não consegui manter a ideia, o problema era o quanto aquilo estava me consumindo, inclusive religiosamente.

Por um momento em meu quarto, fechei minha porta como sempre faço quando vou dormir, mas, antes de me deitar, me ajoelhei e chorei, não por Alice, não tinha haver só com ela àquele momento, tinha haver com Deus, percebi ali que havia um chamado, como se Ele estivesse dizendo em meu coração para que eu voltasse... não era agressivo, era gentil como Ele sempre faz, então lhe disse:

– Não posso ser hipócrita, não posso ir e dizer que vou mudar, se sei que não vou fazer... pelo menos não agora.

Em minha mente surgiu:

– Não precisa fazer nada, eu só quero fazer parte da sua vida.

– Eu sei. – Chorei. – Não queria que as coisas ficassem assim.

– Sinto sua falta. – Me veio.

– Não quero que você entenda, ou concorde, só peço que você respeite, eu preciso desse momento, por favor, só me guarda e me ajuda.

No mesmo instante senti um alívio que a dias não sentia e percebi que havia muito mais em mim do que apenas o que pensava haver, eu estava com muita saudade de Deus, porque não adianta o que possam me dizer, cada um possui a sua fé, cada um acredita no que acredita... eu acredito na Bíblia... acredito em muita coisa que vi e ouvi durante a minha vida e o que faço hoje é por escolha minha, mas a minha crença continua a mesma.

Com isso gostaria de dizer que depois daquela oração passei a ser uma pessoa bem resolvida com aquela história, mas é como tomar um remédio, o efeito sempre tem prazo de validade, e aquele efeito também teve prazo de validade porque mergulhei novamente naquelas dúvidas que rondavam a minha cabeça... "Afinal, pra Alice foi apenas uma transa, ou existiu algo a mais?"

Por mais que pareça, não sou uma pessoa confusa, o problema é que sou uma pessoa prática e o fato de não haver uma real clareza me confundia, fora que não tinha o costume de estar apaixonada, na verdade ainda nem sabia que estava, e com isso não sabia o quanto aquele sentimento influencia nossas emoções e nossa razão, porque por mais que a mente te explique o óbvio, vem o coração e te inunda de esperança, só que um dia passa... dois dias passam... três e você não vê nada acontecer, então que raio de olhar era aquele que ela me havia dado?

Gosto de jogo limpo e aberto, gosto de verdades e clarezas, não tenho mais idade pra perder tempo com joguinhos, não tenho paciência, mas não digo que tenha sido isso o que Alice tenha feito, na verdade acredito que ela tenha tentado ser o mais honesta possível comigo, mas tanta coisa aconteceu... eu fui burra... me iludi só Deus sabe o porquê, só sei que é muito difícil controlar pensamentos influenciados por emoção, principalmente quando não se tem experiência com isso... não é mesmo?


Obs: Comente, curta e compartilhe. Bju

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Where stories live. Discover now