06- Éramos Apenas Amigas

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Sexta-feira, dia quinze de abril de 2016, estávamos na aula de interpretação quando a professora nos pediu um exercício e me pegou de cobaia, me sentou no meio da sala, chamou Alice e disse pra que ela entrasse pela porta dos fundos, enquanto eu teria que reagir a sua entrada.

Aquilo foi tão de repente que me senti constrangida, não sabia o que fazer e não sei de verdade o que foi visto, até porque, quando fico envergonhada meu rosto logo se avermelha... me senti sem o controle, me senti vendida e exposta, foi horrível... Alice entrou pela tal porta e veio caminhando enquanto o máximo que fiz foi sorrir. A professora então mandou todos entrarem com a mesma ideia e a cada um tive uma reação, mas era muito mais fácil com eles.

Todos passamos por aquele exercício, mas, por fim, quando o último participou e começamos a retornar pra sala, logo me sentei, ficando de frente pra professora, em um cubo de madeira retangular localizado no centro da sala, pra prestar atenção e ver o que ela falaria a respeito daquela experiência.

Alice surgiu e se sentou ao meu lado... eu ainda me sentia constrangida... ela parecia confiante, sorridente, não sei explicar, mas desconfio que tenha percebido sim que havia algo a mais naquela minha reação, ou falta, de reação. Pra melhorar, além de se sentar ao meu lado no pequeno cubo, ela pôs seu braço por cima de meus ombros, abraçando-me pelo pescoço e, por causa de tal ação, meu rosto ficou mais próximo do dela, fazendo com que cada segundo parecesse uma eternidade... vida difícil a minha, tô rindo enquanto me lembro da cena. – Riu.

Não faço ideia do que a professora falou, minha atenção era exclusiva à proximidade de nossos rosto, ao toque de nossas peles, mesmo que houvesse roupa entre nós, e ao que estava acontecendo em mim, ao que aquilo causava em meu corpo. Sentia arrepios, meu coração estava inquieto, mãos suavam e minhas partes íntimas latejavam... fiquei sem ação... sem reação... algo que poderia ser mais erótico, se não fosse tão caótico. – Riu.

Fomos embora e creio que não tocamos naquele assunto, o que agradeço aos céus, pois minha vergonha era imensa e meu desassossego ainda maior, não havia mais dúvida sobre o que acontecia comigo, ao menos no sentido físico, eu sabia, não era besta, aquele momento foi como um choque de realidade, um tapa na minha cara, e doeu.

A essa altura eu quase não estava indo na Igreja e o conflito dentro de mim era imenso... as pessoas não compreendem o que isso representa, elas falam sobre abominação como se fosse uma escolha ser ou gostar. Não escolhi gostar de chocolate, odiar jiló, até alguns anos eu odiava queijo, enquanto a maioria dizia amar, até que me acostumei com seu gosto e consegui comê-lo junto com outras coisas, mas ainda assim não é opcional.

As pessoas chamam de doença o que você sente por alguém do mesmo sexo, mas são as primeiras a traírem seus parceiros pelo mesmo sentimento, seja por desejo ou amor, então você se sente mal, mesmo que tente ignorar ou superar, você ainda se sente mal, porque ninguém em sã consciência fica feliz em ser rejeitado, ou tratado de forma ruim. Ver dois homens de mãos dadas é considerado ofensa por muitas pessoas, enquanto vários casais héteros passeiam, se beijam, se abraçam, deitam um sobre o outro em locais públicos como parques e etc... são felizes... mas você, homossexual, só pode fazer isso, em paz, entre quatro paredes, pois ninguém pode ver, o teu amor é ofensa e te consideram uma aberração.

Espero que um dia as pessoas compreendam que o problema não é a religião, porque cada um segue aquilo que quer e acredita, o problema é querer forçar o outro a viver da forma que você acredita ser o certo e isso é falta de respeito, não creio que seja isso o que se ensina em suas religiões.

Enfim... os feriados de abril estavam chegando e eu ficaria sozinha em casa, foi quando tive a brilhante ideia: "vou chamá-la pra vir aqui ver filme". Na mesma hora em minha mente veio a seguinte frase: "se você fizer isso e ela vier, vai dar merda". Então pensei que aquilo era bobagem, porque "nada" estava acontecendo, ao menos da parte dela, era tudo coisa da minha cabeça e chamei.

Primeiro ela não podia vir no domingo, dia dezessete de abril de 2016, por causa de um workshop que fazia e por causa do namorado, então pensei: "sinal de Deus, agora fica quieta na sua". Fiquei? Não. Sugeri então, após algum tempo de meditação e conflito interno, que viesse na segunda e ela aceitou... "Olha o que você está fazendo, você não pode brincar com a vida da menina" – Pensei, mas não voltei atrás porque ainda tentava acreditar que era só um achismo meu, afinal... éramos apenas amigas... certo?


Obs: Comente, curta e compartilhe. Bju

LGBT - Aos Meus Olhos - 2016 Parte 1Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang