Sessenta e três.

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Jota 💣

Mais uma vez tive que soltar minha neguinha, deixando ela cheia de preocupação pra ir pro confronto.

Nesses 5 meses foi só de guerra, polícia invadindo de um lado, os ADA tentando se infiltrar do outro, eu fica doido, mas num tinha pra nenhum não, comando vermelho tá no sangue!

As vezes ficava puto a ponto de descontar na morena, que não tinha nada com essas histórias, era um bagulho ruim quando ela ficava triste por minha causa, mas ela tá muito emocionada.

Jota: Bora, atividade! Não morram, valeu!? -Falei quando terminamos nossa oração.

Cadu: Nunca! É nós sempre, parceiro.

-Comando vermelho, rl até o fim.- Cantamos todos juntos como de costume e partimos pra luta.

Saímos matando todos os cuzoes que tentaram chegar na minha favela de novo, era só tiro na cabeça, tem espaço pra nenhum não!

{...}

Cheguei em casa todo sujo de sangue pensando na merda que eu tinha feito, se minha dona descobre ela me mata!

Jú: Amor..? - Perguntou toda manhosa levantando do sofá, respirei fundo e me sentei no sofá.

Jota: Fala aí, desculpa de novo .- Passei a mão nos cabelos dela.

Jú: Eu já me acostumei, os barulhos já viraram música pra mim.- Brincou e olhou meu corpo todo me analisando, como sempre.- Você tá bem? Meus irmãos se machucaram?

Jota: Tamô todos bem, fé no pai. Logo isso acaba. Vai subindo que eu vou tomar um banho e me acalmar.- Ela me olhou fazendo bico.

Jú: Vai fumar?

Jota: O de sempre pô.- Ela me olhou triste, como sempre.

Jú: Vamos tomar banho e ficamos juntinhos, você não precisa fumar, eu prometo tentar de fazer relaxar. Mas, só por hoje não fuma? -Pediu alisando meu rosto,mesmo cheio de sangue.

Jota: O que tu não me pede sorrindo que eu não faço chorando?

Jú: Um pônei, eu pedi um pônei e você não deu! -Cruzou os braços se levantando.

Jota: Quando nós tiver um pivete, eu te dou.- Pisquei e ela subiu com a mão na barriga, toda estranha.

Os pensamentos na merda que eu fiz voltaram, pensar nele implorando pra mim parar e não fazer nada, mas mesmo assim eu fiz.

Eu num gosto de esconder nada dela não, mas não quero que ela me largue, num dá porra!

Jú: Me fala o que você fez.- Pediu quando nós já tava embolado na cama.

Jota: Nada.- Beijei o ombro dela e ela se levantou sentando no meu lado.

Jú: Eu te conheço, como ninguém! Não quero que você guarde segredos de mim, assim como não guardo com você.

Jota: Tu vai me odiar, me achar um merda, vai me largar.- Me sentei de frente pra ela.

Jú: Não vou, eu sou sua mulher, lembra? Eu no máximo vou ficar muito chateado e com raiva, mas vou te aconselhar da melhor forma possível, eu vou te ajudar mesmo que depois eu vá pra casa do meu irmão ficar por um tempo lá.- Deu os ombros.

Jota: Eu... eu matei.- Baixei o olhar.

Jú: Infelizmente disso eu sei, você não ganha invasões dando abraços nas pessoas e pedindo paz.- Eu ri fraco.

Jota: Matei um moleque.- Ela se calou e se levantou com lágrimas nos olhos, sabia! - Tu disse que não ia me deixar.

Ela passou a mão nos cabelos deixando algumas lágrimas caírem.

Jú: De quantos anos ? Por que? Droga, João!

Jota: Ele tinha 12.- Ela suspirou.- Ele apontou a arma pra minha cabeça, destravou e tudo, ele era cria dos pcc. Era eu ou ele, porra!

Ela ficou calada, com a mão na boca chorando. Agora ela vai me achar um mostro, num dava pô, eu ou ele! Me levantei vestindo meu moletom e fui me saindo.

Jú: João Pedro.- Me gritou e eu parei no último degrau da escada.- Eu não vou dizer que apoio, nem que eu estou feliz.- Cruzou os braços.- Mas eu sei que agora, tu precisa de mim do teu lado, agora! Vem cá, bixinho feio.

Sorri de lado e abracei ela com todas as minhas forças, a barriga dela estava meio grandinha. Já mandei o papo que ela tá grávida, mas ela negou até o fim e ainda chorou, mas pra mim, o nosso pivete tá aí.

Lá No Morro.Where stories live. Discover now