Capítulo 79

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A chave tilintou nas minhas mãos quando a coloquei na fechadura e abri a porta de casa.Acredito que seja pouco mais de nove horas da noite. Pois tudo já está escuro e silencioso.
Harry fez questão de me trazer até a porta de casa, o que me deixou bastante aliviada.

Deixo a chave no balcão da cozinha escura e adentro a sala.
A luz da sala está acessa, dando uma iluminação estranha ao resto da casa.
Estranho que as luzes ainda estejam acessas mesmo sem ter ninguém ali, até ver minha mãe sentada em um dos degraus da escada. Ela está com um pijama de verão, deixando suas pernas grossas á mostra. A sua cabeça está baixa então não consigo ver a sua expressão. Só sei que a imagem faz meu coração apertar, independentemente do que aconteceu há algumas horas.

- Mãe?

Ela ergue bruscamente os olhos para mim, como se tivesse sido puxada à força para fora dos seus pensamentos, eles estão levemente vermelhos e o topo da sua bochecha está inchada. Minha mãe não chora com frequência, foram poucas as vezes em que a vi desse jeito, e todas as vezes envolvia o meu pai e o álcool. Mas não importa qual seja a razão, ver a minha mãe chorar ainda é horrível.

- Liz. - sua voz saiu rouca - Que bom que você apareceu. Eu estava tão preocupada.

Suspirei em resposta e me encostei ao pilar de cimento ao lado do balcão.

- Eu só precisava sair um pouco.

- Ah, Liz. Eu sinto muito.

- Mãe, não precisamos falar sobre isso.

É claro que eu gostaria de conversar e resolver isso, mas está tudo tão fresco. Não sei se quero fazer isso agora.

Eu saberia lidar com discussões sobre a faculdade, sobre as minhas escolhas ou sobre qualquer outra coisa trivial, mas ela realmente me chamou de louca.
De certa forma, é difícil ouvir isso.

- Liz. - ela disse meu nome suavemente - Precisamos conversar sim. Por favor, senta aqui. - ela apontou o espaço ao seu lado no degrau.

Inadequadamente imaginei se o degrau de madeira aguentaria a soma dos nossos pesos juntos. E embora não seja o momento, senti vontade de rir por pensar em algo assim.

Andei até ela e contra a minha vontade me sentei ao seu lado.Meu braço raspou ligeiramente no seu, até ela se inclinar para frente em seus joelhos.

- Eu deveria te dar um gelo por alguns dias.

- Sim. Eu sou uma mãe horrível. Eu..- ela travou - Não deveria ter dito aquilo.

- Não diga isso.

- Não estou dizendo isso para você sentir pena- ela olhou para mim rapidamente - Estou dizendo porque é a verdade.

Tive que engolir meu orgulho e dizer as palavras á seguir, porque, apesar de tudo, é verdade.

- Você não é uma mãe horrível.

- Também não sou uma boa mãe. - ela murmurou baixinho.

- Todos temos defeitos.

- Não, Liz. Eu nunca ouço o que vocês dizem, nunca considero as suas decisões, nunca percebo o que acontece.Eu só... Eu só finjo que não temos problemas, que não há nada para discutir e que somos uma família perfeita, quando na verdade...

- Não precisa dizer isso.

- Não, eu sei que é verdade. Eu te magoei agora pouco e sinto muito por isso, de verdade.

Não respondi nada quanto à isso.
Aquelas palavras foram como flechas no estômago. Minha mãe disse o que eu sempre temi ouvir algum dia.
Se fossem outros tempos eu teria chorado até sentir dor de cabeça e no outro dia cancelaria as consultas com a Dra.Greene, simplesmente para provar que não sou louca ou porque a minha mãe não concorda. E estaria dando dois grandes passos para trás na minha vida.

Prisoners - h.sTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang