Capítulo 7

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Perdi a conta de quantas batidas na porta ouvi até o fim daquele jantar.
Minha mãe, Beatrice, Alice. Não abri a porta para nenhuma delas, apenas escondi a cabeça embaixo do travesseiro para abafar as vozes insistentes e o meu choro baixo.

Mas depois que nossos convidados foram embora e, sem dúvidas, depois que Harry foi para o seu quarto, mamãe bateu na porta.Eram quase murros na porta, na verdade.

Sua voz soou baixa, mas irritada:

- Elizabeth, abra a porcaria da porta. Eu não vou pedir outra vez!

Não respondi.

- Não precisa falar comigo, - disse áspera - mas Beatrice precisa dormir. Se quiser choramingar vá para outro lugar!

Foi o suficiente. Estou magoada, sim, mas meu orgulho é maior que isso.

Limpei as lágrimas e o rímel borrado em baixo dos olhos, e vesti um casaco por cima do vestido, guardei meu celular no bolso do casaco e depois abri a porta bruscamente.

Minha mãe estava furiosa como eu sabia que estaria. Sua cara era uma carranca feia e ela abriu a boca para dizer algo, mas eu não a deixei falar nada, passei correndo por ela e desci as escadas, sem olhar para trás.

- Para onde você vai? - minha mãe gritou estridentemente.E eu sai pela porta da frente. A porta abafou o som dos gritos ao fechar-se.Minha mãe consegue ser bem escandalosa quando quer.

Lá fora o ar estava tão frio e o vento tão espesso que a minha pele começou a pinicar assim que entrou em contato em contato com o ar noturno. A rua estava deserta. Eu literalmente só podia ouvir o som da minha respiração.
Parei no meio da rua suja por um momento pensando em qual seria meu próximo passo.
Essa é a primeira vez que realmente saio de casa depois de uma discussão, e sinceramente nunca soube menos o que fazer.

Ouvi o ruído da porta se abrindo atrás de mim. Seja quem for, eu tenho que sair daqui. Poderia ficar em qualquer lugar agora, mas não em casa, ouvindo a minha mãe tagarelar sobre como sou indiscreta e como fui má com Harry, porque eu já sei de tudo isso e não preciso que ela jogue na minha cara. Nesse momento eu não suportaria ouvir tudo sem romper em lágrimas.

Caminhei apressada pela rua iluminada apenas pelas luzes laranjas nos postes, ouvindo apenas o som das minhas sapatilhas tocando o chão asfaltado e os gritos da minha mãe pedindo para que eu voltasse para casa.

Os gritos finalmente pararam quando eu virei a esquina Então me sentei em um canto na calçada, que eu teria achado repugnante á luz do dia, encostada a parede de uma padaria falida, que fora fechada há alguns meses, e as lágrimas desceram descontroladas e sem permissão pelas minhas bochechas.

É libertante não ter que sufocar os soluçosque estão presos na minha garganta, não ter medo de que alguém ouça.

As lágrimas embaçaram a minha visão, abracei meus joelhos e escondi a cabeça entre eles, me enrolando como um bichinho com medo.

As o pensamentos vieram como sempre, uma puxando a outra.  O meu pai bêbado e como isso nos impede de viver uma vida normal em família, o sentimento de inutilidade e ódio para comigo mesma que eu não consigo evitar

Eu sou tão egoísta e hipócrita e, no fundo, eu sei que não penso em ninguém além de mim mesma. Eu e meu pequeno e penoso mundo.Sentindo pena de mim mesma o tempo todo.

Quer dizer estou aqui chorando pelo que chamo de dor, mas eu não respeitei a dor do Harry há alguns momentos atrás.
O divórcio é para ele,o que as brigas dos meus pais são para mim. E é hipocrisia da minha parte, achar que a sua dor dói menos que a minha.

Deixei que tudo viesse sem medo da dor que isso causaria, porque pela primeira vez eu posso deixar que as lágrimas rolem até que não haja mais nenhuma para cair.

Duvidei da minha própria sanidade várias vezes, enquanto passava as mãos nos cabelos. Amassando os fios entre os dedos, como um gesto nervoso.

Depois que as lágrimas pararam eu me levantei, mas senti ficar tonta e precisei me escorar na parede para conseguir ficar em pé.
O meu rosto e a minha cabeça doíam, mas comecei a andar de volta.
Não sei quanto tempo se passou desde que sai de casa, mas é melhor voltar antes que minha mãe chame a polícia ou algo.
É estranho ninguém ter vindo atrás de mim. Talvez ninguém se importe o suficiente.

Caminhei de volta á passos lentos com as mãos nos bolsos do casaco e as pernas expostas e dormentes por causa do frio. Mas eu nem sequer percebia o vento gelado batendo no meu rosto, tudo em que conseguia pensar era em como seria o dia de amanhã.

A minha mãe ainda estaria brava e como eu encararia Harry sem sentir vergonha e culpa?

Caminhei de cabeça baixa, apenas vendo os meus pés tocarem o asfalto sujo. Não há nada de novo e muito menos belo, para se observar em um bairro onde tudo é igual para todo mundo e onde nem um rato gosta de andar á noite.

Quando finalmente avistei minha casa, desejei ter ficado mais alguns minutos andando por aí.
Harry estava sentado na escada da varanda, com um cigarro aceso entre os dedos.

               *

Prisoners - h.sTempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang