Prisoners - h.s

Capítulo 9

Eu tinha razão, não tinha nada de familiar no quarto que tinha sido meu há tão pouco tempo.
As paredes do pequeno espaço estavam pintadas de azul claro ao invés de lilás, a cama era diferente e estava posicionada no lado oposto de onde costumava ficar. No lugar das cortinas brancas haviam cortinas pretas cobrindo a janela, ou talvez fossem azul marinho, é difícil perceber no escuro. A única coisa que permanecera intacta era meu guarda-roupa de madeira, ele é grande e pesado demais para transportar e seria perda de tempo, já que tem espaço de sobra no guarda-roupa de Beatrice.

Acendi a luz e pude ver melhor a mudança. Meu abajur decorado também não estava mais no criado-mudo, assim como não haviam mais posteres nas paredes, nem as pequeninas molduras com recortes de revista aleatórios em outro canto da parede. O criado- mudo era diferente e mais gasto, o antigo de Lucas. Na verdade, o quarto era a réplica quase exata do de Lucas, só faltavam a pequena televisão em cima de uma cômoda, o videogame, gibis e as embalagen vazias de salgadinho.

Ao contrário do que eu imaginava o quarto não estava tão bagunçado, apenas algumas roupas fora das gavetas e a cama desfeita. O lugar cheirava á homem.

Sei que quero de uma noite no meu quarto, porque ele foi a coisa mais próxima de meu lugar que eu já tive, mas este é o quarto de Harry agora. É a sua cama, as suas roupas dobradas no guarda-roupa, seu aroma no ar.
Não tem nada meu aqui, na verdade parece meio errado invadir o espaço dele dessa maneira.

Mas mesmo assim tirei o casaco e o larguei na cama, não sem antes pescar o meu celular do bolso, e deixei as sapatilhas em um cantinho perto da cama. Parece que vou ter que que dormir de vestido essa noite.

Afastei o edredon da cama de Harry e deitei. Talvez pelo cansaço a sensação de deitar em algo macio foi divina.

Depois de um suspiro alto de apreciação, eu apurei os sentidos.O cheiro de Harry dominava por todo o quarto. Uma mistura de fragância amadeirada, pasta de dente de menta, sabonete e algum aroma natural. Suor, talvez.
O cheiro é peculiar de uma forma boa. Não conheço tantos rapazes e digamos que meu irmão não cheira exatamente bem.

Programei meu celular para despertar ás 6:00 e o pousei na mesa de cabeceira. Tenho tudo planejado na minha cabeça, mamãe jamais vai saber que dormi na cama de Harry.
Isso poderia causar mais de um problema já que a minha mãe é a pessoa mais mente fechada do mundo.

Puxei o edredon para cima e ajustei o travesseiro em baixo da minha cabeça, a sensação é totalmente diferente de como era na minha cama.
Demorou pelo menos meia hora para que eu finalmente adormecesse. Estava cansada, mas o sono não vinha. Enquanto esperava ele chegar eu observei o teto de madeira acima de mim, as vigas de madeira pareciam ser a única coisa que ainda era familiar ali.
No fim das contas mesmo com o quarto estranho e o vestido apertado dormi maravilhosamente bem.

O despertador tocou ás 6:00 como estava programado para fazer. Tão cedo que eu tinha certeza de que ainda estava escuro lá fora, as cortinas de Harry não deixam passar nada de qualquer forma.

Queria dormir mais algumas horas, mas estava determinada a levantar antes dos meus pais.
Vesti o casaco e calcei as sapatilhas, arrumei a cama e depois fui na ponta dos pés até o banheiro ao lado.
Lavei o rosto, limpando toda a maquiagem borrada da noite passada, escovei os dentes e penteei o cabelo.

Estava tão natural, literalmente sem nada no rosto, nem um creme hidratante. Todas as manchinhas minúsculas e vermelhas de velhas cicatrizes de espinhas e todas as sardas estavam expostas, e os lábios e as bochechas sem a cor adicional da maquiagem. A sensação não é exatamente confortável.

Desci as escadas sem fazer barulho. Todas as luzes da casa ainda estavam apagadas, então acendi apenas a luz da sala e andei até Harry. Seu corpo estava jogado no sofá, com um braço apoiado no encosto, como se estivesse se segurando para não cair e o outro balançava para fora, o cobertor estava enrolado nas pernas longas e a sua cabeça pendia em um ângulo estranho.
Me aproximei e toquei seu ombro:

- Harry. - sussurrei - Acorda!

Chamei-o mais duas vezes, mas ele sequer se mexeu.
Droga. Eu não posso fazer muito barulho. Diferente do Harry meu pai tem sono leve, ele fica alerta com o mínimo ruído.

Me ajoelhei ao seu lado, mais perto do que eu estaria se ele estivesse acordado.
Observei sua face enquanto dormia, as pálpebras estavam fechadas, os lábios entreabertos e vi algumas pintinhas espalhadas pelo seu rosto, principalmente uma perto da boca, e descobri que nele elas não parecem tão ruim quanto em mim.
Nunca tinha olhado para um garoto assim tão de perto, na maioria das vezes eu prefiro não encarar, mas Harry está dormindo.

Eu também nunca dormi na cama de um garoto antes.
Muitas coisas novas!

Deixei esses pensamentos bobos de lado e balancei o braço de Harry mais uma vez. Com mais firmeza, mas ainda delicada.

Seu rosto se contorceu e antes que eu pudesse tocá-lo mais uma vez, seus olhos verdes se abriram.

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