Capítulo 55

1.4K 155 52
                                    

Eu me senti completamente invisível naquele estacionamento como em uma cena de um filme clichê. Sabe quando algo realmente te impressiona e você fica sem reação por algum tempo? Foi exatamente assim.

Só voltei a me mexer quando uma voz gritou atrás de mim:

- Ei, sai da frente!

Olhei para trás e era Dan Mathews e sua namorada Frances Rosewood, que parece me odiar pelo simples fato de me odiar. Sussurrei um "desculpa", que eles provavelmente não ouviram e comecei a andar para fora do estacionamento.

Comecei a me afastar da multidão que ainda tomava conta das calçadas, para ver se um pouco de silêncio e espaço me deixava pensar melhor, mas mesmo quando fiquei completamente sozinha a sensação de amortecimento não passou.

Me sentei em um banco de praça, talvez o mesmo em que encontrei Daisy no primeiro dia de aula, ou talvez não. E fiquei lá por alguns momentos, apenas pensando sobre "Harry e Daisy", o que me causava náuseas e também uma dor estranha no peito.

Mas a cena de Daisy subindo na moto, nossa, agora Harry tem uma moto, o sorriso dele, os lábios dela tocando a bochecha dele... Tudo isso me deu uma perspectiva diferente sobre Harry e sobre toda a situação:

Harry é bonito, é legal e certamente tem um bom papo. Daisy é bonita, é legal e ela sabe flertar como eu jamais conseguirei.
No final, Harry ainda é um homem. Homens gostam de garotas bonitas.

Talvez, nessas circunstâncias, seja melhor eu saber que Harry é como qualquer outro cara. E talvez a verdade me ajude a superar mais rápido, e não levar para o lado pessoal.
Mas isso não me impediu de olhar para o nada e perguntar o que eu teria feito de tão errado para merecer algo assim.

O único garoto de quem realmente gostei e a única garota que já considerei como melhor amiga. Isso só pode ser algum tipo de brincadeira do universo.

Respirei fundo antes de me levantar, a bola na minha barriga latejava, mas eu não chorei e senti orgulho por isso. Acho que ser realista te transforma em uma pessoa mais forte.

Coloquei os fones no ouvido e andei para a casa. Tranquilamente, como se eu não estivesse me sentindo traída pela vida.

*

No dia seguinte, eu tive menos vontade de sair da cama do que o normal, mas sabia que tinha que fazer algo para me distrair, ou ficaria louca dentro de casa.
Então peguntei á mamãe se ela precisava de ajuda na loja, ela disse que não, mas eu insisti tanto no assunto que ela acabou me deixando ir junto.

- Porque essa vontade de ajudar agora? - ela perguntou quando viramos a esquina de casa.
Diferente de outras mães, a minha não sorri ou debocha quando faz esse tipo de pergunta, ela geralmente está falando sério e ainda está acusando, como se tivesse uma outra razão por trás de tudo. As vezes eu gostaria que ela fosse um pouco mais como as mães da tv. Amorosa, divertida, e compreensiva.

- Sei lá. - dei de ombros - Acordei com vontade de fazer alguma coisa.

- Até que enfim. - ela respondeu seca. Acho que a sua inteção não é ser seca sempre, mas ela soa assim. - Você só fica trancada naquele quarto desde que o Ha... - ela parou. Então, até ela percebeu...

- Não tem nada á ver com Harry, mãe. - respondi baixinho.

E eu esperava que ela começasse uma conversa longa e constrangedora sobre o assunto, mas ela assentiu e se calou. E pela milésima vez em dois meses eu senti que ninguém dava a mínima para o que acontecesse comigo.
Minha mãe não se importa. Muito menos o meu pai. Beatrice tem as suas coisas para fazer, eu nem ouço falar de Alice e Lucas. Harry está com Daisy. Daisy está com Harry.

*

Ás 16:00 ajudei mamãe a fechar a loja. O dia foi calmo, consigo contar nos dedos da mão quantos clientes entraram na loja.
Não fomos para casa na hora do almoço, compramos croissants mornos da lanchonete do outro lado da rua, e comemos no meio de todo o pó da loja. Foi bom. Eu senti que tinha uma companhia, que não estava sozinha, mesmo que apenas por umas horas.

- Mãe, vou dar uma volta. - falei, enquanto mamãe trancava a porta da loja.

- Vai aonde?

- Só vou dar uma volta.

Dla franziu a sombrancelha para mim, mas me deu algumas notas, caso eu precisasse voltar de ônibus.
Eu sabia que a permissão para sair e o dinheiro eram um pagamento por ficar na loja. Minha mãe é assim, ela não nos deixa fazer favores. Nunca entendi muito bem, mas eu gosto.

Peguei um ônibus até o centro de Londres, parei em frente aquele café, mas passei reto por ele. Passei reto pela cabine em que Harry tinha entrado para tirar fotos, passei reto pelas lojas em que entramos e continuei andando até a Ponte Westminster.

Não sei porque exatamente estou aqui. Não é para sofrer mais do que já estou sofrendo. Com certeza não. Acho que só quero minhas lembranças boas de volta, talvez elas me façam sentir melhor.
Me debrucei sobre a pedra da ponte e fiquei observando a água vagarosa embaixo de mim.
O céu está azul e o ar fresco. Sem sol, mas definitivamente o tempo está bom, e isso é um bom pretexto para as pesssoas saírem de casa em um sábado.

A ponte está cheia de gente, mas eu não me importo tanto quanto um dia já me importei. Eu nunca mais vou ver essas pessoas, de qualquer forma.
Tiro o celular do bolso de trás do meu jeans e os desbloqueio. A bateria está cheia há duas semanas e a caixa de mensagens está vazia há mais tempo do que consigo me lembrar. Não tenho usado o celular com frequência. E não entrei na galeria até esse momento.

As primeiras fotos que aparecem são as que tirei com Harry ou as fotos que tirei dele.
Quando passo por algumas em que ele está sorrindo, não consigo evitar sorrir também. Seu sorriso é tão sincero e infantil, mesmo agora não consigo parar de acreditar nisso.

Acho que Harry foi sincero na última em que estivemos aqui. Acho que foi sincero quando disse que nada importava, nada mudava. Por mais que eu tente, não consigo não acreditar. Apesar de tudo ainda acho que ele foi a pessoa mais incrível que conheci. E isso faz o meu coração apertar.

Voltei a bloquear o celular sem apagar nenhuma foto. Acho que quero preservar os bons momentos da minha vida.
Guardo o celular no bolso e volto a me debruçar na pedra. Um raio de sol bate no meu rosto e a sensação é boa.
Decido neste momento que, de alguma forma, vou conseguir superar isso. Tudo isso.

*

Desculpem se houver erros.

All the love xx

Prisoners - h.sWhere stories live. Discover now