Capítulo 24

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Na noite seguinte eu me aproximei da minha mãe como quem não quer nada. Devagar como um filhote com medo.

Em dias de semana eu só a vejo de manhã e na hora do jantar e foi na cozinha que eu a encontrei. Minha mãe estava mexendo molho de tomate em uma panela e o macarrão fervia em outra.

Peguei uma maçã da fruteira e me inclinei na bancada.

- Não coma antes do jantar, Elizabeth. - ela repreendeu maternalmente, eu a ignorei e mordi a maçã.

- Quer ajuda? - perguntei ainda mastigando a maçã. Imaginei a minha mãe fazendo careta por eu estar falando com a boca cheia.

- Não.

Eu assenti e comecei a reformular as palavras na minha cabeça.

Era para eu estar tão ansiosa dessa maneira para fazer algo tão simples?
Eu tenho dezesseis anos, posso sair. Ela tem que me deixar sair. Estou repetindo essas palavras pra mim mesma durante o dia todo, mas agora diante da minha mãe, as palavras não parecem fazer sentido algum.

Um frio desagrádavel se acomodou na minha barriga desde que ela chegou em casa.

Eu não tenho medo da minha mãe, acho que só tenho medo das conclusões á que ela pode chegar.

Vamos, Elizabeth. Ela é sua mãe. Pergunte.

- Mãe, posso te perguntar uma coisa? - perguntei timidamente, pousando a maçã mordida na bancada.

- O que é? - a sua voz soou desinteressada, enquanto ela adcionava pedacinhos de salsicha ao molho.

- Harry me chamou para sair... - ela se virou pra mim, atônita. Eu continuei rapidamente antes que ela explodisse em gritos - Como amigosm Ele me disse que se sente preso aqui.

- E o que você tem a ver com isso? - perguntou ríspida.

Hum.. então agora ela não liga mais para o bem estar do filho da sua melhor amiga.

- Bem, a mãe dele não quer que ele saía sozinho, tenho certeza que ela te falou isso. - ela não respondeu - Só queria saber se eu posso sair?

- Claro que não! - minha mãe exclamou indignada. Parece que eu pedi permissão para fumar um baseado.

- Pode ser no sábado á noite, mãe... - Ela me interrompeu com um aceno de mão grosseiro. Os olhos castanhos escuros frios como um iceberg.

- Eu disse não. Você não vai sair com esse garoto!

Agradeci mentalmente por Harry não estar por perto para ouvir como ela disse 'esse garoto". Quase com repugnância.

O que faz dele um garoto tão ruim aos olhos da minha mãe agora?

- Achei que quisesse que ele se sentisse bem.

- Não vou envolver minha filha nisso. Fique longe dele, Lizzie. - ela disse com a voz falsamente mais suave e tentou se aproximar de mim, mas eu e minha maçã nos afastamos com a cara feia.

Odeio quando ela me trata como criança.Droga, eu já sou quase uma adulta!

Minha mãe não quer que eu saía ou que eu tenha amigos, ela só quer que eu seja a filha perfeita que o Lucas e nem a Alice conseguiram ser, mas não se preocupa com o fato de que eu tenho quase dezessete anos e quase nunca saio de casa.
Isso é me irrita tanto quanto me magoa.

As vezes me pergunto se mudaria alguma coisa se ela soubesse como realmente me sinto. Me consolaria? Me diria que eu sou linda e que as outras pessoas que perdem por não serem minha amigas, como fazem todas as mães? Me mandaria para uma sessão com um psicólogo, como fazia quando eu tinha seis anos, roía as unhas, rangia os dentes e as professoras reclamavam porque eu não gostava de interagir com as outras crianças?

Prisoners - h.sTahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon