Capítulo 68

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- Você está bem? - Todd pergunta quando abro a porta do banheiro, a maçaneta está gelada contra os meus dedos.

- Sim... Eu só preciso ir pra casa.

- Qual é, Liz! Você acabou de chegar

- Eu sei, mas Todd...- respiro fundo, sinto outra crise de chegando, crescendo e tomando conta de mim. - Minha mãe...

- Liz fica, por favor. - Todd pede. - Você nunca sai, ela não vai se importar.

- Eu não posso.

- Ah você vai ficar sim, garota! - o cabelo cacheado de Jesy aparece atrás de Todd, ela está todo suada e descabelada. Parece feliz e saudável.

- Eu não posso, sinto muito.- minha voz sai tão baixa que nem eu consigo ouvir. O barulho ao meu redor me deixa surda por um momento e o ar morno parece não chegar ás minhas narinas.

- Ah qual é! Pensei que você fosse divertida.- Todd começa, mas eu o interrompo.

- Eu preciso ir, Todd. - grito por cima da música - Desculpa, tá?

Começo à andar para longe deles e volto a me misturar a multidão. Está abafando e cheio. Tenho a sensação de quê estou sendo pressionada entre duas paredes em chamas, mas são só pessoas esbarrando em mim.
O caminho até a saída da boate parece mais longo do que consigo aguentar, e só fica pior com a falta de ar e o tremor nas pernas.
Não ligo para as pessoas que com certeza estão achando que eu estou tendo um surto psicótico, eu só quero sair daqui e respirar ar fresco.

O ar gelado da noite bate no meu rosto com força e eu sinto um alívio instantâneo. Respiro fundo e de canto de olhos vejo o segurança me olhar de um jeito estranho, como se eu fosse louca, como se tivesse algo de errado comigo.
Opensamento me dá vontade de chorar. Ainda com a respiração falha, eu olho para o segurança, ele desvia o olhar imediatamente para o outro lado da rua.
Talvez pessoas só entendam em filmes. Na vida real, pessoas como eu são só estranhos.

Sinto os meus olhos arderem e sei que é hora de ir para casa. Começo á andar, tentando lembrar o caminho de volta para o meu bairro. E é extremamente difícil quando a sensação é de quê tudo está borrado.

Ando na calçada, apressada, olhando para as minhas próprias botas.
Felizmente não há ninguém na rua, e eu posso me permitir algumas lágrimas.

Acho que nada disso importa. Não há tratamento, não há cura, não há tempo que ajude essa praga sumir. Acho que no final das contas, eu nasci para viver assim, nasci para ter medo. Nasci para ser apenas uma sombra na terra, destinada à viver com medo, destinada à afastar as pessoas de mim como fiz com Harry, e como fiz com Todd e Jesy agora, e como sempre vou fazer.

Deus, algum dia eu vou conseguir superar isso?

Minha mãe sempre acreditou em mim. Eu me lembro que ela sempre dizia ás minhas tias que dos quatro, eu era a que iria mais longe. Ela dizia isso com convicção, se gabava por eu ser muito responsável para a minha idade, por eu ser muito racional, e pelas minhas notas incríveis.
Eu ficava feliz, eram raras as ocasiões em que a minha mãe nos elogiava, mas então as minhas tias começavam á falar de Beatrice e Alice, e de como elas eram simpáticas e tinham o dom para fazer todos gostarem delas. E de como Beatrice era linda como uma modelo, e como Alice era sociável, e de como Lucas era inteligente e de como as namoradas dele eram bonitas.
Racional era a palavra que usavam para mim, e a conversa sobre mim acabava aí. Então passávamos para como Beatrice seria uma menina linda quando crescesse mais.
E isso dói até hoje, porque eu nunca quis ser racional. Eu queria ser a filha encantadora da Lydia, de quem todos gostavam, mas eu era apenas tímida e inteligente. Meu sonho sempre foi, e talvez sempre será, que um dia as pessoas olhem para mim e digam que eu sou especial, que a minha energia é contagiante e que eu encanto todos ao meu redor.

Prisoners - h.sWhere stories live. Discover now