pagina 16

568 36 2
                                    

... ina estava prestes a oferecer a mamadeira à sobrinha quando viu a maneira como Marc a olhava.
— Quer dar a mamadeira? — perguntou. Marc hesitou brevemente.
— Claro, por que não? — ele enfim respondeu. Ver como Marc segurava Geórgia causou uma sensação estranha em Nina. Ela se remexeu na cadeira e olhou o cardápio que a garçonete deixara na mesa, mas as palavras pareciam borradas, pois seus pensamentos disparavam para todas as direções.
Marc cuidava da sobrinha com tanta tranqüilidade que fez Nina imaginar se um dia ele desejara ter seus próprios filhos. Se fosse o caso, por que se prender a um casamento de conveniência?
Nina sabia que os italianos valorizavam muito a amília.
Mas se casar com uma estranha, mesmo sendo mãe de sua sobrinha, não era levar os deveres familiares longe demais?
Talvez ele anulasse o casamento no futuro e exigisse a custódia de Geórgia. Era uma idéia inquietante, mas Nina não teria chances quando sua verdadeira identidade fosse descoberta. Seria considerada uma mentirosa, e nenhum juiz lhe concederia nem mesmo visitas à sobrinha.
A fome desapareceu subitamente. Nina afastou o cardápio, dando de ombros.
— Não está com fome? — Marc perguntou.
— Só quero um café. — Ela desviou o olhar.
— Preto.
A garçonete veio anotar o pedido, aproveitando para dar uma olhadinha no bebê que já tinha terminado sua mamadeira.
— Qual a idade dela? — a moça perguntou.
— Quatro meses — Nina respondeu.
A garçonete sorriu enquanto olhava do bebê para Marc.
— Ela se parece com pai, não?
Nina estava prestes a dizer que Marc não era o pai de Geórgia, mas mudou de idéia no último minuto.
— Sim — respondeu, espantada por não ter percebido a semelhança antes.
A garçonete foi buscar o café, e Nina ficou observando Marc colocar Geórgia para arrotar como se tivesse feito isso milhares de vezes.
— Nunca pensou em ter seus próprios filhos? — perguntou sem pensar.
A expressão de Marc revelava pouca coisa, mas Nina tinha certeza de ter visto uma ponta de arrependimento naqueles olhos escuros.
— Não. — Ele apoiou Geórgia no outro ombro.
— Não planejava me casar e constituir família.
A resposta a deixou intrigada. Sabia da existência de vários solteirões declarados, mas Marc não parecia um deles.
— Este casamento foi idéia de seu pai? Marc firmou os olhos nos dela.
— Por que diz isso?
Nina brincava com a ponta da toalha de mesa, evitando os olhos dele.
— Um palpite, acho. Ouvi dizer que italianos se preocupam muito com crianças.
— Suponho que foi por isso que mandou aquela carta, para dar o golpe final — ele disse, inclinando-se sobre a mesa para que outras pessoas não ouvissem a acusação. —Não pensou no quanto estava magoando um idoso que mal consegue lidar com a própria dor?
Nina gostaria de poder contar a verdade. Ficava magoada por Marc pensar assim dela, quando na verdade a culpada era a irmã.
— Não. — Ela largou a ponta da toalha e ergueu os olhos. — Não, foi muito insensível de minha parte. Sinto muito.
A resposta pareceu surpreendê-lo. Até ela ficaria surpresa ouvindo uma coisa dessas saindo da boca de Nadia. Não lembrava da irmã se desculpando por coisa alguma. "Sinto muito" não estava no vocabulário dela.
— Às vezes isso não basta — Marc disse, recostando-se novamente na cadeira, acomodando Geórgia melhor no ombro. — Uma vez que o mal está feito, não há como voltar atrás.
Nina sentiu-se enjoada pela verdade daquela curta frase. Quanto estrago já não tinha causado com as mentiras que vinha contando por causa da irmã?
— Sim, eu sei. Acho que estava muito confusa na época. Mal sabia o que estava fazendo.
O silêncio era quebrado apenas pelos murmúrios de Geórgia, que tinha descoberto o bolso da camisa de Marc, os dedinhos puxando o tecido com animação.
— Tentou pegar meu irmão numa armadilha, não foi? Usando o truque mais velho que existe.
Queria poder negar, mas isso seria outra mentira. A irmã decidira agarrar André Marcello de qualquer jeito. Nina ficara chocada quando Nadia revelou o plano, comentado como estragara toda uma caixa de preservativos para engravidar como se tudo não passasse de um jogo. Nina ainda se sentia culpada por não ter conseguido convencer a irmã a desistir. Talvez se tivesse passado mais tempo com ela, se a tivesse aconselhado a pensar melhor nas conseqüências.
— Foi uma atitude impulsiva. — ela murmurou, olhos voltados para o chão. — Não tinha idéia de que tudo se voltaria. contra mim.
A resposta surpreendeu Marc novamente. Nina o fitou de relance e percebeu que o ar acusador tinha se suavizado um pouco.
— Poucos de nós passam pela vida sem arrependimentos.
Nina sorriu com tristeza.
— Não me diga que o grande Marc Marcello admite ter cometido alguns erros?
Marc a fitou antes de se concentrar na criança quase adormecida em seus braços.
— Cometi alguns erros no passado, mas não pretendo repeti-los.
Nina se perguntava se as mágoas de um antigo relacionamento haviam feito com ele se tornasse cauteloso quanto a qualquer comprometimento emocional. Quanto mais pensava nisso, mais a idéia se tornava provável. Que maneira melhor de evitar qualquer envolvimento do que casando por conveniência, não por amor? Poderia se relacionar com quem quisesse sem a pressão de um compromisso formal já que ela seria sua esposa. Sua esposa.
Ficou em pânico ao pensar no que aquele relacionamento acarretaria. Mesmo que Marc tivesse declarado veementemente que o casamento não seria consumado, estariam vivendo sob o mesmo teto e certas intimidades seriam inevitáveis.
Podia imaginá-lo numa roupa menos formal, talvez enrolado numa toalha após o banho, expondo o corpo forte.
Nina afastou tais pensamentos da mente, o olhar culpado encontrando o olhar indagador de Marc.
— Algo errado?
— Não, claro que não.
— Você me parece estranha — ele comentou.
— ...

Romance Proibido Onde as histórias ganham vida. Descobre agora