página 6

645 46 0
                                    

... nada a conversar com você.
— Quero ver minha sobrinha. — O tom determinado fez Nina erguer a cabeça. — Quero ver a filha de meu irmão.
Nina pressionou os lábios ao ver o quanto ele lutava para manter as emoções sob controle. Podia notar isso na voz, na postura rígida, no brilho úmido dos olhos.
Não esperava deparar-se com sentimentos tão profundos e envergonhou-se por julgá-lo tão mal. Aliás, Marc perdera o irmão sob trágicas circunstâncias. Mesmo que Nadia tivesse muitos defeitos, Nina ficaria muito abalada se estivesse na mesma situação.
— Sinto muito. — A voz saiu desigual. Ele contorceu os lábios.
— Mesmo?
Nina não respondeu, seguiu até o carrinho ulto à única janela. Sentia a presença de Marc atrás de si ao afastar as mantas de Geórgia para que ele pudesse ver seu rostinho.
Marc se aproximou, o braço roçando no dela ao se abaixar para ver a filha de seu irmão. Ele ficou muito tempo sem falar. O silêncio era tão grande que Nina podia ouvir a respiração controlada de Marc, na tentativa de dominar a emoção por ver a sobrinha pela primeira vez.
— Posso segurá-la?
Era como se o coração de Nina tivesse dado uma cambalhota. E se ele segurasse Geórgia da maneira errada e ela chorasse?
— Bem. não creio.
— Por favor. — O tom entusiasmado chamou a atenção de Nina. — Gostaria de segurar a filha de meu irmão. Ela é tudo que restou dele.
Nina ergueu a menina adormecida, embalando-a gentilmente antes de entregá-la a Marc.
Viu milhares de emoções passarem pelo rosto bonito quando ele apoiou o pequeno embrulhinho no peito largo, o olhar pensativo ao admirar a perfeição do rosto sereno de Geórgia.
— Ela é. linda. — A voz estava rouca.
Nina teve dificuldades em evitar a emoção na própria voz.
— É sim.
Os olhos de Marc encontraram os dela rapidamente.
— Como ela se chama? Nina baixou um pouco o olhar.
— Geórgia.
— Geórgia — ele repetiu, como se o experimentasse. — Combina com ela.
Nina se surpreendeu ao ver a facilidade com que Marc segurava o bebê, uma das mãos a ampará-la enquanto a outra lhe explorava as feições, como se ele estivesse completamente maravilhado.
— Ela tem nome do meio?
— Grace — Nina respondeu, imaginando se deveria revelar que este também era o seu nome, mas no último instante desistiu. Ficara emocionada quando Nadia contou os nomes escolhidos. Por um instante teve esperanças de que a irmã finalmente iria assumir suas responsabilidades. Mas, poucas semanas depois do nascimento de Geórgia, Nadia voltou a freqüentar festas e beber, deixando a criança com Nina com uma freqüência tão grande que Geórgia começou a chorar sempre que Nadia se aproximava dela, como se pressentisse sua completa inadequação para a maternidade.
Nina sentia-se desconfortável com o pesado silêncio. Marc ainda segurava Geórgia, o olhar fixo no rostinho da criança.
Resolveu dizer a primeira coisa que lhe veio à cabeça.
— Ela se parece com André, não acha?
Marc a encarou, a expressão obscurecendo instantaneamente. Nina pensou que ele concordaria com ela, mas Marc simplesmente voltou a admirar a criança em seus braços.
— Ele a viu alguma vez?
— Não.
Nina ficara furiosa quando Nadia contou que André não queria ver o bebê. Não deixava de pensar que isso explicava por que a irmã nunca se sentira ligada à filha. Durante toda a gravidez, Nadia nutrira esperanças de que André se apaixonaria pela filhinha assim que a visse, assegurando-lhe um futuro seguro ao torná-la sua esposa. Quando ele se recusou a fazer o teste de paternidade, Nadia entrou em depressão profunda e em seguida se entregou despreocupadamente à uma rotina de diversão.
— Não — Nina repetiu, a voz carregada de amargura. — Acho que estava muito ocupado cuidando do casamento.
Marc não respondeu, mas Nina pôde ver como ele parecia aborrecido.
Observou-o recolocar a menina no carrinho, o toque firme e gentil ao acomodá-la.
Sob seu olhar penetrante, Nina achou difícil encará-lo sem pensar na maneira como o estava enganando. Subitamente lhe ocorreu que estava brincando com algo perigoso. Não havia uma lei contra usurpação de personalidade? Marc Marcello não era idiota. Se descobrisse que fora enganado, ela sofreria graves conseqüências.
— Srta. Selbourne. — A voz profunda atraiu o olhar dela novamente.
— S-sim? — Nina umedeceu os lábios, pressentindo as intenções dele, todos os seus instintos avisando-lhe que não gostaria nada do que estava por vir.
— Quero ver minha sobrinha com freqüência e, mesmo compreendendo sua aversão a tal arranjo, conseguirei isso através da justiça caso não queira cooperar.
— Sou mãe dela. Nenhum juiz na Austrália a tiraria de minha custódia.
—Acha que não? — Marc sorriu. — E se eu contasse a eles sobre seu casinho com certo político poucas semanas depois de dar à luz?
Que caso? Que político? O que Nadia andara aprontando?
Marc parecia ter visto uma ponta de medo no rosto dela, pois acrescentou em tom deliberadamente calmo:
— Vê, Srta. Selbourne? Pretendo usar tudo que tenho contra você para conseguir o que quero. Ouvi dizer que tentou extorquir dinheiro do pobre coitado quando ele decidiu interromper o relacionamento. Teve sorte de seu caso não ter atraído a atenção da imprensa, mas bastaria uma palavra minha e. — Ele fez uma breve pausa para causar efeito. — Já sabe o resto.
Nina respirou fundo, sentindo o pavor espalhando-se pelo corpo.
— O que quer dizer exatamente?
Marc esperou um pouco antes de responder. Antes de ver a menina — e bastou uma olhada para saber que era mesmo filha de André —, só tinha pensado em oferecer uma enorme quantia de dinheiro à mulher e levar o bebê. Mas vendo a maneira amorosa de Nina com Geórgia, duvidou estar fazendo o melhor por sua sobrinha ao separá-la da mãe. Precisava ter certeza de que Nina era incapaz de criá-la. Isso se realm ...

Romance Proibido Onde as histórias ganham vida. Descobre agora