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... irmão morreu, Marc não conseguiu se livrar da sensação de que o pai teria sofrido muito menos se ele estivesse no lugar de André naquele carro.
Suspirou e respondeu ao pai com resignação.
— Verei o que posso fazer.
— Obrigado. — O alívio na voz do pai era inconfundível.
Marc sabia que os dias de seu pai estavam contados. Não seriam ainda mais preciosos se pudesse segurar sua única neta nos braços?
— Talvez ela não queira me ver — Marc alertou, pensando novamente na carta ofensiva do pai. — Pensou nessa possibilidade?
— Faça o que for preciso para que ela enxergue a razão — Vito instruiu. — Qualquer coisa. Mulheres como Nadia Selbourne esperam uma negociação.
Uma transação comercial.
Que mulher era essa que barganharia a vida de uma criancinha?
Minutos depois, recolocou o fone no gancho e voltou-se mais uma vez para a vista lá fora. Estreitou os olhos por causa da luz do sol enquanto pensava no que teria que fazer.
Visitaria a pessoa que mais odiava no mundo: a mulher responsável pela morte prematura do irmão.

Capitulo 2
Não fazia muito tempo que Nina dera de comer a Geórgia quando a campainha tocou naquela manhã de segunda-feira. Dando uma rápida olhada na pequena sala, caminhou sobre o carpete surrado, imaginando o que sua vizinha idosa queria agora. Ellice Tippen já levara uma caixa de leite e meio pacote de biscoitos, e ainda nem era hora do almoço.
Abriu a porta com um sorriso no rosto, que desapareceu imediatamente quando seu olhar se ergueu de encontro a um par de olhos escuros, quase negros.
— Srta. Selbourne?
— Pois não? — ela respondeu, inconscientemente levando a mão à garganta.
O homem parado à sua porta era mais impressionante ao vivo do que na foto do jornal. Era mais alto que a maioria, com mais de 1,80m, os ombros largos e a postura nada menos que autoritária. O queixo severo e bem barbeado insinuava certa intratabilidade em sua personalidade, e os olhos não possuíam qualquer sinal de cordialidade.
— Imagino que saiba quem sou. — A voz era profunda e soava com certa aspereza.
— Eu. err. sim.
O que mais poderia dizer? O jornal com a foto dele ainda estava aberto sobre a mesinha de centro. Dizia a si mesma para jogá-lo fora sempre que passava pela sala, mas o deixara no mesmo lugar. Não sabia exatamente o porquê.
— Creio que está com a filha de meu irmão.
— Eu. sim, é isso mesmo. — A imagem das manchas escuras no corpinho de Geórgia vieram à mente de Nina, cujo pânico acelerou as batidas de seu coração a um nível quase intolerável. Tinha que mantê-lo longe de sua sobrinha!
— Gostaria de vê-la.
— Ela está dormindo no momento, então. — Deixou a frase no ar, esperando que ele entendesse a indireta.
Não foi o que aconteceu.
Marc sustentou o olhar dela por um bom tempo e, quando Nina começava a fechar a porta, ele usou o pé para bloquear a ação.
— Talvez não tenha me ouvido, Srta. Selbourne. — O tom endureceu ainda mais quando os olhos escuros encontraram os dela. — Vim ver a filha de meu irmão. Não partirei antes disso.
Nina sabia que ele estava determinado e, afastando-se da porta, encarou-o com frieza.
— Se a acordar, ficarei extremamente zangada. Por favor. Continue dormindo, Geórgia, Nina pedia silenciosamente enquanto ele entrava.
Marc a olhou de cima a baixo. Quando os olhos de ambos se encontraram, os dele estavam cheios de desprezo.
— André me contou tudo sobre você.
Nina ficou confusa. Nunca conhecera o amante da irmã gêmea. O romance de Nadia e André tinha sido breve e explosivo, como todos os outros.
Ele não podia estar pensando.
— Ele me disse que você representava problemas, mas não tinha idéia do quanto — Marc continuou, vendo que ela não dizia nada.
Nina o encarou por um instante, imaginando se deveria esclarecer que ele a confundira com a irmã, mas no fim deixou tudo como estava para ver quais eram as intenções dele. Afinal, que mal havia nisso? Só precisava fingir ser Nadia por alguns minutos e dizer que tinha mudado de idéia. Assim que o convencesse de que não tinha intenção de lhe entregar a "filha", talvez ele fosse embora.
Já tinha feito esse tipo de coisa antes. Muitas vezes ficara no lugar de Nadia para receber a punição que a alterada de sua mãe tinha para aplicar. Se conseguia enganar a própria mãe, Marc Marcello seria moleza.
— As críticas de seu irmão são irônicas, considerando o comportamento dele — Nina disse, incisiva.
Um brilho ameaçador surgiu nos olhos dele.
— Ousa difamar meu irmão morto? Nina ergueu o queixo.
— Ele era um farsante. Estava envolvido com outra quando concebeu Geórgia.
— Ele estava formalmente comprometido com Daniela Verdacci — Marc comentou rudemente. — Estavam juntos desde a adolescência. Você estava interessada nele só por causa do dinheiro, mas André só tinha olhos para Daniela. Acha mesmo que ele se casaria com uma mulherzinha oportunista que já dormiu com quase toda Sidney?
Nina ficou tensa de raiva. Sabia que a irmã era um pouco promíscua às vezes, mas Marc Marcello falava como se ela fosse uma prostituta, não a pessoa insegura e emocionalmente instável que realmente era.
— Isso é típico! — ela retrucou. — Por que os homens podem fazer loucuras e as mulheres não? Enxergue a realidade, Sr. Marcello. As mulheres possuem sexualidade própria e, nos dias de hoje, têm o mesmo direito de expressá-la.
Os indecifráveis olhos escuros a examinaram dos pés à cabeça novamente.
— Já que fala de direitos, precisamos conversar sobre a filha de André. Por mais que me aborreça o fato de a menina ser uma Marcello, ela tem o direito de conhecer a família do pai.
— Acho que esta decisão cabe a mim.
— Creio que não, Srta. Selbourne. — A voz se tornou ameaçadoramente baixa. — Talvez não tenha percebido com quem está lidando. A família Marcello não permitirá que uma mulherzinh ...

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