— Beto disse que você tá amamentando e que o peso dela tá abaixo da média para a idade. Parece perigosamente baixo. Na minha época, todo mundo usava fórmula. Enchia a barriga e ajudava a crescer.
Resigno-me ao fato de que não tem uma coisa associada a mim na qual a sra. Sobral não vá encontrar uma falha.
Tentando recorrer ao meu último fio de paciência, digo:
— A maioria dos médicos hoje em dia insiste que é melhor mamar no peito. O leite materno é calibrado para coincidir com as necessidades da criança, e tem estudos…
— Tem estudos para provar qualquer coisa — interrompe ela, com desdém. Ela baixa o fogo e se move até a pia, onde começa a lavar as mãos vigorosamente. — Outro dia ouvi falar de um estudo que dizia que crianças que convivem com álcool têm um monte de problemas. Espero que não seja o caso de Dandara.
Piso um pé no outro com força, torcendo para que a dor sirva de distração, já que ranger os molares não está fazendo efeito. Tento lembrar que a sra. Sobral ama o filho e que todas as suas críticas, algumas com fundamento, vêm desse amor. Não por mim, mas por seu filho. Tenho de respeitar isso.
— Não vamos morar aqui pra sempre — digo, com falsa alegria.
Termino de guardar os pratos e caminho até a sala. Talvez a distância me impeça de dizer alguma estupidez por causa da raiva. O que só iria piorar a relação já difícil que tenho com a mãe de Beto.
Se vou ficar com ele, preciso fazer as coisas com ela funcionarem.
— O curso de Direito está indo bem. Estou num grupo de estudos excelente. Isso é muito importante, porque as pessoas ajudam umas às outras a visualizar um quadro mais completo. No começo, achei que não ia fazer amigos, mas foram dias de nervosismo para todos nós. — Estou divagando, enquanto arrumo meu material. — Tem um cara no grupo — Simon — que é um gênio. Ele tem uma memória fotográfica e a habilidade apurada de realmente se ater às questões mais importantes. Eu me enrolo demais com os detalhes.
— Simon? Você estuda com outros homens?
Endireito a coluna diante do tom desconfiado.
— Estudo, tem homens na turma — respondo, cautelosa.
— E o Roberto sabe disso? — Ela cruza os braços e me olha como se eu tivesse acabado de confessar que estou traindo seu filho com um colega de turma.
— Sabe. Ele conhece o Simon. Já estudamos aqui. — Bem, na verdade, no clube. Meu grupo de estudos gosta de vir aqui.
Ela sacode a cabeça, o cabelo dourado brilhando sob a luz da cozinha atrás de si.
— Isso é… — Outro movimento da cabeça. — Exatamente o que eu esperava — conclui.
Fecho a cara.
— O que você tá querendo dizer?
— Tô querendo dizer que você tira proveito do meu filho e faz isso desde o dia em que se conheceram.
Inspiro fundo.
— O… o quê?
— Quanto tempo você levou para resolver prendê-lo depois que soube da herança dele, hein, Beatriz? — Sua expressão é mais fria que gelo. — É muito conveniente ele pagar tudo enquanto você estuda com outros homens.
Como é que é?
Fico completamente tensa, a indignação borbulhando na minha corrente sanguínea.
Uma coisa é ela criticar a minha limpeza. Sou péssima em arrumação.
Posso lidar com a sua objeção à amamentação. Também estou preocupada com o peso de Dandara, embora o médico tenha me assegurado que é perfeitamente normal bebês que mamam no peito estarem abaixo do peso.
Ela pode ridicularizar minha habilidade como mãe, dona de casa ou educadora por todos os bairros de Boston, que não estou nem aí.
Mas não vou — ah, mas não vou mesmo — tolerar que ela enfie suspeitas horríveis e infundadas na cabeça de Beto.
Sou capaz de me manter sozinha. Não preciso de Beto — quero estar com ele. Quero tanto que daria tudo por ele e por Dandara.
Com toda a minha dignidade, encaro a sra. Sobral.
— Tenho muito respeito por você. Faz só quatro meses que tô fazendo esse negócio de ser mãe e provavelmente já errei mil vezes. É difícil, e tenho o Beto, seu filho maravilhoso, que me ajuda a cada passo do caminho. Não posso nem imaginar como você fez isso sozinha. Mas não vou deixar que insulte tudo o que faço neste lugar. Esta é a minha casa. É verdade, não sou perfeita, mas tô tentando. Amo a Dandara e amo o Beto, e se a qualquer momento Harvard, o trabalho ou qualquer coisa ameaçasse a felicidade deles de alguma forma, largaria tudo num minuto.
Ela arregala os olhos castanhos.
Mas ainda não terminei.
— Ele e a Dandara são as coisas mais importantes da minha vida — digo, com ferocidade. — E tô fazendo de tudo para mantê-los na minha vida e para poder contribuir com a nossa família e dar à Dandara uma infância melhor da que eu tive, mesmo que isso signifique estudar com um homem. Que, aliás, é muito bem-casado e tem dois filhos.
Ouço um barulho de sacolas atrás da sra. Sobral e o borrão atrás da sua cabeça entra em foco devagar. Levo um segundo para perceber que é Beto. Está de pé na porta da frente.
Ele apoia um dos braços no batente, um sorriso de um lado a outro do rosto.
— Você me ama, é?
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏44. beatriz ⋆✴︎˚。⋆
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