͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏38. beto ⋆✴︎˚。⋆

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Não tem sentimento pior neste mundo do que ver a mulher que você ama sentindo dor e ser incapaz de fazer alguma coisa a respeito.

Nas últimas oito horas, tenho sido tão útil quanto um peixe fora d’água. Ou um peixe dentro d’água, porque que merda os peixes têm pra nos oferecer?

Toda vez que tento incentivar Beatriz a fazer sua respiração, ela me olha como se eu tivesse matado seu bichinho querido de estimação. Quando ofereço uns pedacinhos de gelo para mastigar, ela me diz para enfiar na bunda. A única vez em que espiei as partes femininas de Beatriz por cima do ombro da dra. Laura, ela me disse que ia quebrar meu taco de hóquei ao meio e me apunhalar com ele se eu fizesse isso de novo.

Esta é a mãe da minha filha, senhoras e senhores.

— Quatro centímetros de dilatação — informa a dra. Laura na última checagem. — Ainda falta muito, mas as coisas estão progredindo bem.

— Por que está demorando tanto? — pergunto, preocupado. — Faz horas que a bolsa estourou. — Oito horas e seis minutos, para ser exato.

— Algumas mulheres dão à luz logo depois de a bolsa estourar. Algumas só começam a ter contrações lá para quarenta e oito horas depois. Cada parto é de um jeito. — Ela dá um tapinha no meu ombro. — Não se preocupe. Vai dar tudo certo. Beatriz, se a dor piorar muito, fale com a enfermeira, e a gente prepara a peridural. Mas não espere muito. Se o bebê tiver descido muito no canal de parto, não vai ser bom. Daqui a pouco eu volto para ver como você está.

— Obrigada, doutora.

O tom de Beatriz é doce feito açúcar, provavelmente porque a dra. Laura é quem controla as drogas.

E, sim, no segundo em que a médica vai embora, o sorriso desaparece do rosto da minha garota e ela me fulmina com os olhos.

— Foi você que fez isso comigo — rosna. — Você!

Luto contra uma gargalhada.

— Precisa de duas pessoas para procriar, princesa. Pelo menos de acordo com a ciência.

— Não se atreva a falar de ciência! Você tem noção do que tá acontecendo com o meu corpo agora? Eu… — Um ganido escapa de sua garganta. — Nãããão! Ai, Beto, outra contração.

Me ponho em ação, massageando a base das suas costas do jeito que Stacy, a hippie, ensinou. Mando-a respirar e conto as respirações, enquanto tomo o cuidado de conferir o monitor ligado a ela, que mede e cronometra as contrações.

Esta passa depressa, e a próxima demora a vir, o que me desanima. Fiz minhas pesquisas sobre o trabalho de parto, e parece que Beatriz ainda está nos estágios iniciais. Ela nem chegou ainda ao trabalho de parto ativo, e peço a Deus que esse bebê não leve dias para aparecer.

— Dói — reclama, depois que termina outra contração. Seu rosto tem um brilho de suor, e os lábios estão tão secos que estão ficando brancos.

Esfrego um pedacinho de gelo em sua boca e beijo sua têmpora.

— Eu sei, princesa. Mas já vai acabar.

+ + +

Menti. Mais quatro horas se passam antes que ela chegue a uma dilatação de cinco centímetros, e depois mais três para ela chegar a seis centímetros. Isso eleva o total para quinze horas, e posso ver a energia de Beatriz começando a se esgotar. Além disso, a dor está piorando. Na última contração, ela agarrou minha mão com tanta força que senti meus ossos se deslocarem.

Quando a contração passa, Beatriz desmorona na maca coberta de suor e anuncia:

— Quero a cesária. Foda-se, aceito até o fórceps do inferno. Tira essa criança de mim!

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now