͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏08. beto ⋆✴︎˚。⋆

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— O time tá uma merda — reclama Henry.

— O time não anda muito bem — reconheço.

O treino hoje foi um desastre, o que não é um bom prenúncio para o jogo de amanhã contra Yale. Estava torcendo para que a viagem até Boston nos distraísse do quão mal estamos jogando, mas faz quase uma hora que estamos sentados neste bar e, até agora, só falamos de hóquei. O jogo do Bruins que está passando nas várias televisões à nossa volta também não está ajudando em nada — ver um time bom jogar bem é só a cereja de um bolo de merda.

Olho para minha longneck vazia e aceno para a garçonete trazer outra cerveja. Vou precisar de mais umas cinco dessas se quiser sair desse humor azedo.

Henry continua resmungando ao meu lado.

— Se a gente não ajeitar a defesa, pode esquecer o Frozen Four.

— A temporada tá no começo. Não vamos jogar a toalha ainda — comenta Fitzy, do outro lado da mesa. Está bebendo uma Coca, porque é o motorista da vez.

— Vocês não vão parar de falar de hóquei, não? — reclama Brody, irmão de Henry. Ele tem vinte e cinco anos, mas, com a cara lisa e o boné do Red Sox virado para trás, parece muito mais jovem.

— O que mais tem pra falar? Este lugar só tem cueca. — Henry atira uma bolinha de guardanapo no irmão.

Ele não está errado. Só vi duas mulheres no bar. Elas têm mais ou menos a nossa idade, são gostosas pra burro e estão se pegando numa mesa do canto. Noventa e cinco por cento dos homens aqui — incluindo eu — já lançaram olhares furtivos para as duas. Os outros cinco por cento estão ocupados se pegando.

— Tudo bem, seus manés. — Brody solta um suspiro exagerado. — Não gostaram do lugar? Então vamos embora.

—Pra onde? — pergunta seu irmão mais novo.

— Pra um lugar onde haja mulher.

— Boa.

Três minutos depois, estamos entrando no carro de Fitzy e seguindo o Audi prata de Brody pela cidade.

— Carrão — comento, apontando para ele.

— É alugado — me informa Henry. — Ele gosta de tirar uma onda com o que não tem.

— Uau — comenta Fitzy, do banco do motorista. — Lembra alguém que você conhece?

Nosso colega levanta o dedo do meio.

— Cara. Tiro mais onda que você, seu bunda-mole. Você nem pegou ninguém no seu aniversário, essa semana.

— Não estava querendo pegar ninguém. Vai por mim, se estivesse, você nem teria me visto aquela noite.

— A gente quase nem te viu! Você voltou mais cedo pra casa, pra jogar video game!

— Pra fazer uma demo do jogo que eu desenvolvi — corrige o outro. — Não vejo você fazendo nada de produtivo com o seu tempo.

— Na verdade, meu pau foi muito produtivo, tá legal?

Escondo um sorriso. Sempre me espanto com o fato de esses dois serem amigos tão próximos. Henry é um sujeito barulhento que só pensa numa coisa — mulher —, já Fitzy é sério e intenso, e também só pensa numa coisa — video game. Ou talvez duas coisas, considerando o quanto gosta de se tatuar. De alguma forma, a amizade funciona, embora pareça funcionar principalmente à base de provocações e dedos médios.

Entramos num estacionamento de cascalho e paramos na vaga ao lado de Brody. O Audi não parece fora de lugar, comparado aos outros carros, mas não combina nem um pouco com o bar. No alto do prédio despretensioso, brilha um letreiro de néon com as palavras “Boots & Chutes”, logo abaixo de uma menina seminua montando um touro.

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now