͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏16. beto ⋆✴︎˚。⋆

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Estamos todos meio bobos e tontos ao sair do bar com nossas telas embrulhadas embaixo do braço. Quer dizer, menos Fitzy — a professora fez ele deixar sua obra-prima para trás, para mostrar em aulas futuras.

Aqui fora, o ar está um gelo, mas isso não impede Thomas de dizer:

— Vi uma sorveteria no caminho. Vamos ver se ainda está aberta.

E, sim, nosso encontro duplo virou um encontro triplo, e, de repente, estamos indo tomar sorvete com um veterano de guerra e o seu docinho de esposa.

Pego na mão de Beatriz conforme caminhamos pela calçada. Não achei que fosse me divertir tanto hoje. Fala sério, aula de pintura? Tem um milhão de coisas — mais indecentes — que eu teria preferido fazer, mas isso não foi tão ruim. E nunca vi Fitzy rir tanto.

A sorveteria está fechando quando chegamos, mas o garoto prestes a trancar a porta fica com pena e abre a caixa registradora. Nós agradecemos efusivamente, fazemos nosso pedido e levamos nossas casquinhas para o estacionamento do bar.

Agora que já não estão brigando, Thomas e Doris nos deliciam com histórias sobre seus quarenta e seis anos juntos. Eles passaram por maus bocados, mas estou mais interessado nas memórias felizes.

Quarenta e seis anos. É surreal imaginar alguém ao seu lado por tanto tempo. Sou totalmente louco por querer isso?

Beatriz também parece fascinada pelas histórias, e quando o casal de idosos entra no pequeno carro e vai embora ela parece genuinamente decepcionada ao vê-los partir.

— Vamos terminar o sorvete no meu carro — diz Cora, e não tem nada de discreto na forma como ela anuncia isso. Com um sorriso malicioso, puxa Fitzy pela mão e o leva para o carro azul do outro lado do estacionamento.

Ele olha para trás por cima do ombro e sorri para mim.

— Certeza que eles vão ficar — diz Beatriz.

— É.

Puxo Beatriz para o meu próprio carro. No banco da frente, giro a chave e ligo o ar quente. Sorvete provavelmente não foi uma boa ideia — ela está tremendo enquanto esperamos a caminhonete esquentar.

— Então — digo.

— Então.

— Foi divertido.

— Que parte? Quando o cara com a camiseta do Red Sox pintou formigas no lugar dos pelos? Ou quando Thomas e Doris descreveram como foi viver a moda do silicone na década de oitenta?

— Minha nossa. E quando ela disse que pensou em “botar peito”?

— Meu Deus. Quase morri! — Beatriz está tendo um ataque do meu lado, e o som de suas risadas agudas provoca uma onda de calor em meu peito.

Droga. Gosto dessa garota de verdade. Ela é… incrível. Não é o monstro que Basílio insiste que é, longe disso. É inteligente, engraçada, afetuosa e…

E acho que posso estar me apaixonando por ela.

Minha risada morre.

— O que foi? — pergunta Beatriz, na mesma hora.

— Nada — eu minto. É isso ou dizer a ela o que estou pensando, e tenho certeza que ela não quer ouvir.

Não quero nem imaginar qual seria a reação dela se eu dissesse que estou me apaixonando. Transamos duas vezes e saímos uma vez juntos. Tá cedo demais para falar de amor.

— Tem certeza? — Ela parece preocupada. — Você tá com uma ruga enorme bem… aqui. — Ela passa dois dedos na minha testa.

— Certeza, tudo bem. — Eu me ajeito no banco e me aproximo dela. — Tô me divertindo muito.

— Eu também. — Seu lábio inferior se projeta num biquinho. — Queria…

— Queria o quê?

Ela suspira.

— Queria que a gente pudesse voltar pra minha casa, mas tenho que acordar às quatro. Não posso ficar acordada até tarde.

— Nem eu. Tenho treino às sete.

— Então, nada de sexo — conclui ela, decepcionada.

— A menos que você queira fazer na caminhonete de novo.

Seus olhos escuros brilham de interesse, que logo se transforma em resignação.

— A proposta é tentadora, mas ia ser esquisito transar com Cora a três metros de distância.

— Tenho certeza que Cora não tá prestando atenção na gente agora.

Beatriz balança a cabeça.

— Vai por mim, eles não vão demorar muito. Ela é muito rígida quanto a não transar no primeiro encontro. Fitzy vai só ganhar uns amassos. — Ela ri. — E uma bela dor nas bolas, provavelmente.

— E eu? Minhas bolas vão estar me odiando quando eu chegar em casa?

— Não sei. Me diz você. — Ela então se aproxima e me beija.

Quando sua língua envolve a minha de forma sedutora, sinto uma pontada de prazer nas bolas. Gemo contra os lábios macios.

— É — murmuro. — Definitivamente vou ter que botar gelo nelas essa noite.

— Ah. Tadinho — sussurra, e começa a me torturar com beijos famintos e um movimento preguiçoso da mão sobre minha virilha.

Ficamos assim por um tempo, nenhum de nós está ansioso para levar isso adiante. Mas é gostoso pra cacete. As janelas da minha caminhonete se embaçam, e estou duro feito pedra quando nos separamos.

— Melhor eu ir pra casa — diz ela, desanimada.

Faço que sim, abrindo um sorriso irônico.

— Par ou ímpar pra ver quem vai bater na janela deles?

Só que não chega a ser necessário, porque, de repente, ouvimos uma batida na minha janela. Baixo o vidro e vejo o rosto corado de Cora me fitando. Seus lábios estão inchados, os cachos loiros completamente embaraçados.

— Desculpa — diz, dando de ombros, envergonhada. — Mas a Bea falou que precisava ir embora às dez e meia. Já passou disso.

Com muita relutância, salto da caminhonete e corro para abrir a porta de Beatriz. Sua expressão é tão relutante quanto a minha.

Um Fitzy de cabelos desgrenhados está recostado na lateral da caminhonete, e Cora lhe dá um tapa na bunda no caminho até seu carro.

— A gente pode repetir isso? — murmuro para Beatriz.

— Aula de pintura? Não sei. Acho que uma vez basta.

— Outro encontro — corrijo. — Me liga quando tiver um tempo livre?

Meio que espero uma discussão, mas ela simplesmente fica na ponta dos pés, me beija nos lábios e me diz:

— Claro.

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now