setembro.
A maternidade é difícil pra cacete. Mais difícil do que jamais imaginei que qualquer coisa pudesse ser. Mais difícil do que estudar para o vestibular. Ou para a faculdade de direito. Mais desafiador do que o artigo que tive que escrever para o curso de estudos feministas no primeiro ano, que voltou para mim parecendo que duas canetas vermelhas tinham se envolvido em um assassinato/suicídio bem em cima das palavras impressas. Mais cansativo do que ter dois empregos e fazer faculdade por quatro anos.
Meu respeito por minha avó subiu até os céus. Se eu tivesse de criar uma criança depois da outra, também ficaria meio rabugenta. Mas, com a ajuda dela e de Beto, consegui entrar numa rotina que parece funcionar, e, na segunda semana de aulas, estou convencida de que posso dar conta. Afinal, fico em sala três horas por dia — no máximo. E não tenho mais dois empregos.
Eu sou capaz de fazer isso.
Sou capaz.
Até a sexta-feira desta segunda semana, quando saio da última aula carregando mamadeiras, tubos, dois quilos de livros, meu computador e mais de mil páginas para ler no fim de semana. Elas ficam só acumulando. Quando o professor Malcolm avisou que tínhamos que ler o capítulo inteiro sobre culpabilidade e intenção, fiquei esperando que alguém — qualquer um — se queixasse. Mas ninguém falou nada.
Depois da aula, nenhum dos meus colegas parece afetado pelo fato de que basicamente temos que ler em dois dias o que parece ser o conteúdo de um semestre inteiro. Em vez disso, três alunos da minha fileira decidem entrar numa discussão intensa sobre o sistema de avaliação de Harvard, que já deveriam conhecer antes mesmo de se inscreverem.
Espero com impaciência que encerrem a conversa para que todos possamos sair da sala. Preciso começar a ler, mas, mais importante, meus seios parecem a ponto de estourar. Faz quase três horas que não dou de mamar, e, se não chegar à sala de amamentação da biblioteca, vai acabar vazando na camisa inteira.
— Não gosto dessa coisa de não ter notas. Aprovado com honras, aprovado, aprovado com restrições e reprovado? — resmunga o menino loiro de nariz pontudo ao meu lado.
— Ouvi dizer que ser aprovado com restrições é muito desencorajador. O negócio é ficar nas duas primeiras categorias. E você tem que fazer muita merda pra ser reprovado — diz a menina ao lado dele. Ela tem os ossos das maçãs do rosto tão pontudos que poderiam cortar meu livro inteiro.
Faço um grande estardalhaço para recolher todas as minhas tralhas e enfiar na bolsa, mas ninguém se mexe. Em vez disso, uma outra menina, usando uma saia comprida que me traz lembranças ruins da Stacy Hippie, entra na conversa.
— Meu primo se formou aqui no ano passado e disse que as Big Law calculam as nossas notas com base na nossa aprovação, então dá no mesmo. Ser aprovado com honra é igual a tirar dez, e por aí vai.
— A minha principal queixa é que só uma pessoa consegue se formar summa cum laude. Em qualquer outra faculdade de direito, se você tira boas notas, ganha a honra. Dar o título só pra uma pessoa é uma merda — declara a srta. Maçã do Rosto.
A srta. Saia Comprida a tranquiliza.
— Mas dá pra conseguir o prêmio de bolsista do reitor.
— Mesmo assim, só uns gatos pingados conseguem.
— Eles são tão mesquinhos com as notas — acrescenta o rapaz.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
