Os treinos estão uma merda. O time simplesmente não está dando liga nesta temporada, e o treinador Jensen cai de pau na gente, agora que temos algumas derrotas manchando a campanha. A de ontem mexeu com o moral de todo mundo — jogamos contra um time da segunda divisão que não deveria ter acabado com a nossa raça no gelo daquele jeito.
O novo técnico defensivo, Frank O’Shea, está só piorando tudo. Agradeço aos céus por não ser da defesa. O’Shea parece ter uma birra com Basilio e fica sempre chamando a atenção dele e pegando no pé por causa dos erros.
Toda vez que o cara abre a boca, Basilio fica mais vermelho que um camarão. Segundo Ronaldo, ele foi treinador do Basilio na escola. Os dois obviamente têm uma história, mas, seja qual for, Basilio não quer abrir o jogo. E também não está feliz. Além de sempre ter que ficar até mais tarde com os outros jogadores da defesa, também, ao que parece, foi forçado a treinar o time infantil da escola primária da cidade.
Deslizo até o banco depois do meu turno e pulo a mureta, em seguida esguicho um pouco de água na boca e observo a linha de Ulisses passar voando pela linha azul. O treino coletivo de hoje continua zero a zero. Sim, somos péssimos. Não conseguimos sequer marcar um gol contra nós mesmos durante o treino, e não é porque nossos goleiros estão no auge da forma — nenhum dos atacantes consegue dar uma dentro — incluindo eu.
Um apito soa. O treinador começa a gritar com um dos jogadores da defesa, um cara do terceiro ano, por cometer um impedimento.
— Que merda, Kelvin! Tinha quatro caras livres esperando o passe e você decide lançar a porra do disco!
O treinador parece prestes a arrancar os cabelos.
Não o culpo.
— Eu teria feito o passe, se não estivesse no banco — resmunga Basilio ao meu lado.
Olho para ele em solidariedade. Uma das primeiras determinações de O’Shea foi reorganizar as linhas de defesa. Ele pôs Basilio com Brodowski e Ronaldo com Kelvin, mas todo mundo sabe que Ronaldo e Basilio são insuperáveis juntos.
— O’Shea vai acabar percebendo o erro.
— Até parece. Isso é castigo. O filho da puta me odeia.
Mais uma vez, minha curiosidade é despertada.
— Por quê, hein?
Suas feições se tornam indecifráveis.
— Esquece isso.
— Não sei se você sabe — digo, brincando —, mas segredos destroem amizades.
Isso o faz soltar um riso de escárnio.
— Quer mesmo falar comigo de segredo? Onde você se meteu esse fim de semana?
Fecho a cara na mesma hora. Não ligo de me abrir com meus amigos sobre minha vida amorosa, mas não quero falar da Beatriz com Basilio, principalmente porque sei a opinião dele sobre ela. Além do mais, o que tenho pra falar? Ela me deu um fora. Chamei a garota para sair, e ela foi bem clara quando disse que não toparia.
Se eu achasse que havia a mínima chance de ela querer que eu corresse atrás, talvez não tivesse aceitado uma resposta negativa. Talvez aparecesse depois das suas aulas mais algumas vezes, comprasse mais alguns sanduíches, jogasse todo o meu charme pra cima dela e me valesse do sotaque sulista sempre que a sentisse se afastando de mim.
Mas vi a expressão nos seus olhos. Ela estava falando sério, Beatriz não quer me ver de novo. E, embora eu não tenha problema nenhum em correr atrás de mulher, não vou ficar perseguindo quem não está interessada.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
