͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏25. beatriz ⋆✴︎˚。⋆

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Fevereiro.

Caminho pela trilha coberta de neve do parque Boston Common num frio cortante. Estou de luvas e com as mãos enfiadas no bolso do casaco, e puxei tanto o gorro vermelho de lã para baixo que ele quase cobre meus olhos.

Está tão frio aqui fora hoje. De repente, me arrependo de ter sugerido a Beto para nos encontramos no parque. Ele queria ir até a minha casa, mas tanto a minha avó quanto Ray estão lá, e eu não podia correr o risco de um dos dois bisbilhotar nossa conversa e descobrir sobre a gravidez. Não contei para eles ainda. Não contei para ninguém.

Achei que Beto tocaria no assunto logo de cara, mas quando chego ao Chafariz de Brewer, cinco minutos depois, a primeira coisa que ele diz é:

— Odeio chafariz.

— Hum. Certo. Tem algum motivo específico pra isso?

— Não servem pra muita coisa. — Então me puxa para um longo abraço, e me vejo amolecendo contra ele, agarrada ao seu corpo quente e firme.

Não o vejo desde o velório de Beau. Faz duas semanas. Duas semanas. Eu juro, Roberto Sobral tem o tipo de paciência que eu não tenho nem em sonho. Não insistiu que a gente devia se encontrar. Não me forçou a falar da nossa situação. Não fez nada além de ficar ao meu lado e aproveitar minhas deixas.

— Mas são bonitos — murmuro em resposta à sua observação.

Seus lábios roçam os meus num beijo breve.

— Não tanto quanto você. — E então me abraça mais apertado, e faço muita força para não chorar.

Estou um caos hormonal ultimamente. Sempre à beira das lágrimas, e não sei se é a gravidez ou porque sinto saudade de Beto.

Sinto tanta falta que é de doer o coração, mas não sei o que dizer quando estou com ele.

Não sei que merda fazer.

O abraço enfim termina, e nós dois damos um passo sem jeito para trás. Vejo uma dezena de perguntas em sua expressão, mas ele não verbaliza nenhuma delas. Em vez disso, sugere:

— Vamos andar. Se a gente se mexer, talvez não congele até a morte.

Rio de novo, deixando-o passar o braço à minha volta, e seguimos pelo caminho, o solado das botas esmagando a fina camada de neve sob elas.

— Como estão as aulas? — pergunta ele, bruscamente.

— Bem, acho. — Estou mentindo. Não estão nada bem. Está impossível pensar em outra coisa que não as mudanças sutis no meu corpo. — E você?

Ele dá de ombros.

— Não muito bem. Tô com dificuldade de me concentrar desde…

Ele para de falar.

— Desde isso aqui? — Aponto para a barriga.

— É. E Beau também. Basilio não está nada bem, as coisas estão tensas lá em casa.

— Sinto muito.

— Vai melhorar — é tudo o que ele diz.

Nossa, queria ter essa fé. E a capacidade de resiliência. E a coragem. Todas essas coisas me faltam agora. Só de pensar em abrir a boca e mencionar o bebê-elefante rosa ou azul entre nós me faz querer vomitar. Ou talvez sejam só os enjoos da gravidez.

Mas, como de costume, Beto não insiste no tópico. Simplesmente muda de assunto.

— Você vinha muito aqui quando era criança?

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now