três semanas depois.
Quando chego ao Della’s, tem uma mesa vazia no canto. Bom sinal. Puxo a lateral do casaco para me cobrir. Está ficando quente demais para usar sobretudo, mas minha barriga está começando a aparecer. Bendito seja quem inventou a calça legging. Não sei mais por quanto tempo vou poder usar roupas normais.
Andei pesquisando tudo o que podia sobre gravidez, e infelizmente descobri que nenhuma gestação é igual a outra. Para cada mulher que ganhou só o peso exato do bebê mais uns poucos quilinhos, tem cinco que juram que engoliram toda uma plantação de melancia. Muitas delas admitiram que em algum momento tiveram que desistir de dirigir, porque o volante apertava a barriga, sem falar que cintos de segurança não foram feitos para grávidas. Já sei por experiência própria.
Tudo está mudando, e isso me deixa assustada. Ainda não contei para minha avó nem para minhas amigas. Beto ainda não contou pros amigos dele, só porque eu pedi. Sei que é irracional, mas é como se uma parte de mim acreditasse que, se não dissermos nada, então a vida não tem que mudar. Quando disse isso a Beto no telefone ontem à noite, ele respondeu com uma risada suave e um: “Já mudou, princesa”.
Aí acordei hoje de manhã e não consegui entrar na calça jeans, e a realidade desabou na minha cabeça feito o martelo do Thor. Não posso mais esconder essa gravidez. O negócio tá ficando sério.
Então hoje é dia de jogar a bomba-bebê. Estou torcendo para que, quando eu parar de me esconder, consiga recuperar o controle da minha vida. Talvez então eu seja capaz de dormir uma noite inteira sem acordar suando frio.
— Quer fazer o pedido agora ou vai esperar as suas amigas? — pergunta a garçonete, Glória, quando me acomodo no banco.
Meu olhar cai involuntariamente na sua cintura fina, e sinto uma pontada de inveja. Será que a minha vai voltar a ser o que era antes? Meu corpo está começando a ficar estranho. O caroço duro na minha barriga não é algo que eu possa eliminar com dieta. Tem um ser humano lá dentro. E essa barriga só vai crescer.
— Leite — digo, ainda que com relutância. Refrigerante está na lista de coisas que são ruins para mim, junto com tudo o que tem de gostoso neste mundo.
Assim que Glória se afasta, Hope aparece.
— E aí? Sua mensagem soou tão séria. — Ela tira o casaco e senta na minha frente. — Ainda tá tudo certo pra Harvard, né?
— Vamos esperar a Cora chegar.
Ela franze a testa profundamente.
— Você tá bem? Sua avó não tá doente, tá?
— Não, tá bem. E tudo certo com Harvard.
Olho para a porta, ansiosa para que Cora chegue.
Hope continua a me pressionar.
— Ray caiu de um penhasco? Não, isso seria uma notícia boa. Ai, Deus, ele quebrou a perna e você vai ter que ficar literalmente de babá.
— Fica quieta. E vira essa boca pra lá, não preciso de mais problema.
— Ah, ela ainda sabe fazer piada. O mundo não tá acabando. — Hope chama Glória antes de fixar o olhar em mim. — Tá bom, se não é a sua avó, e tá tudo certo com Harvard, e Ray continua sendo o mesmo idiota de sempre, o que foi? Faz semanas que não te vejo.
— Quando a Cora chegar eu conto.
Ela levanta as mãos em sinal de frustração.
— A Cora tá sempre atrasada!
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
