͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏44. beatriz ⋆✴︎˚。⋆

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dezembro.

Me arrasto até o apartamento depois do grupo de estudos, uma hora atrasada e me sentindo culpada. Grito um pedido de desculpas para Beto ao entrar, os braços cheios de livros e uma pequena sacola de compras com apenas metade dos itens que eu devia ter trazido para casa uma hora atrás.

— Mil desculpas. O celular tava desligado e…

O restante da desculpa morre em minha boca quando vejo a mãe de Beto na minha cozinha.

Detrás da bancada, ela lança um olhar gélido na minha direção e avisa:

— Roberto saiu pra comprar algumas coisas. Tentou mandar uma mensagem pedindo pra você passar no mercado no caminho de casa, mas você não respondeu.

Suas palavras são mais frias do que os ventos do inverno na baía. Tremo sob o casaco felpudo.

— Achei que você só chegasse na sexta — gaguejo.

— O casamento em que eu ia fazer cabelo e maquiagem foi adiado, então decidi aproveitar e vir mais cedo. Assim posso passar mais tempo com a minha neta.

— Ah. Legal. Que… bom.

Já virei uma tonta. Mas não consigo evitar. A mãe de Beto é intimidante demais. Não a vejo desde a visita desastrosa no verão, e, embora Beto mande mensagens diariamente para ela e faça chamadas com vídeo para mostrar Dandara, ela nunca pediu para falar comigo.

— Por que você se atrasou?

É uma acusação, e nós duas sabemos disso.

Engulo em seco.

— Estava num grupo de estudos. As provas finais estão chegando.

Ela aponta a sala de estar com a cabeça.

— Por isso que este lugar não está tão limpo quanto deveria?

Sigo seu olhar, cada vez mais aflita. A semana foi uma correria, e o apartamento está cheio de provas da minha distração. Os armários da cozinha estão vergonhosamente vazios. Na bancada, há uma pilha de pratos — pelo menos estão limpos. Ia guardar hoje à noite, depois que Dandara mamasse. Na sala, livros, documentos e guias de estudo complementares ocupam todas as superfícies disponíveis. O banheiro de Dandara — que a sra. Sobral vai usar — parece um furacão. Está tudo um caos, porque achei que ainda teria dois dias para arrumar.

E é isso que digo a ela.

— Planejava arrumar antes de você chegar.

Sua sobrancelha arqueada indica que minha desculpa é vergonhosa.

— Você está fazendo o melhor que pode, não é?

O punhal me atinge fundo. Meu melhor não é bom o suficiente aos olhos da sra. Sobral.

Começo a ofegar, tiro as botas lentamente e percorro a curta distância da sala até a cozinha arrastando os pés cobertos pela meia-calça. O apartamento é maior do que a minha casa de infância, e, na maioria dos dias, fico tonta com o excesso de espaço, mas a sra. Sobral tem o dom de sugar todo o ar da sala.

Em silêncio, guardo o leite, os ovos e a manteiga. A loja de conveniência é mais cara, mas fica bem perto, e eu estava me sentindo meio desesperada. E agora estou me sentindo pequena e incompetente.

— A Dandara está com o Beto? — pergunto. O apartamento está tão silencioso quanto a biblioteca de Harvard.

— Tá dormindo no berço — responde a sra. Sobral, lacônica, sem erguer os olhos das cebolas que está cortando.

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⏰ Last updated: Sep 16 ⏰

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A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now