͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏19. beto ⋆✴︎˚。⋆

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Saio do avião em Dallas, e minha mãe está me esperando no aeroporto, ao pé da escada rolante, com três balões. Parece até que estou voltando da guerra, e não de uma faculdade metida a besta na Costa Leste.

— Olha só pra você!  — exclama ela.

Levanto-a do chão e a giro num abraço. Ela se recosta em mim, envolvendo-me com o cheiro familiar de laquê.

— Olhar o quê?  — provoco.

Ela me abre um sorriso meloso de mãe antes de passar o braço magro pela minha cintura e me apertar.

— Você tá tão bonito. Tá ótimo.

Dou de ombros, e seguimos para a saída.

— Me sinto muito bem.

— Que bom. Achei que você ia estar chateado porque a temporada não está indo bem. — Nossos jogos não passam muito na televisão, mas ela acompanha os resultados pela internet.

— Os balões foram pra isso?

— Você acha que os balões são pra você? Porque não são.

— É por isso que o prateado diz “Bem-vindo, filho”?

— Tava na promoção. Teria comprado o que dizia “Sou a melhor mãe do mundo”, mas era cinco dólares mais caro.

— Caramba, o patriarcado tá arruinando até as vendas de balão?

Passando os balões na minha direção, ela ri.

— Esse mundo é um lugar cruel, por isso que a gente precisa de balões.

— Isso tá me lembrando muito o incidente do avental cor-de-rosa — digo, num protesto simulado, mas levo os balões assim mesmo e me abaixo para beijar sua testa. Como o avental que meus colegas de república me deram, carregar uns balões pelo aeroporto não vai ferir meu ego.

— Se eu fosse você, daria uma coisa rosa para cada um deles.

Lembro do vibrador rosa com que Basilio gosta de tomar banho.

— Não é má ideia. Tenho que comprar uns presentes antes de voltar. Vou tomar o cuidado de só comprar coisas rosa ou cheias de purpurina. Ou os dois, se conseguir. — Ulisses e Ronaldo iam morrer de rir da ideia de dar um vibrador rosa e brilhante para Basilio. Tenho que escrever para eles depois.

— Você não trouxe mala? — pergunta ela, quando passamos direito pela esteira de bagagens.

— Não, senhora. — Não preciso nem olhar para o seu rosto para saber que está decepcionada. — Você sabe que preciso voltar pro treino. Mesmo com a temporada indo por água abaixo, ainda tenho que comparecer. É o preço da minha bolsa.

Minha agenda lotada durante o fim de ano sempre foi uma fonte de mágoa para a minha mãe, que adora comemorações. Ela vive para o Natal, e é por isso que tive o cuidado de vir visitá-la, embora a maior parte dos caras tenha ficado na Briar.

— Como é o seu último ano e vocês não estão indo bem, achei que você ia poder passar as festas todas comigo.

— Não é assim que funciona. Além do mais, daqui a pouco você vai cansar de mim e ficar doida pra me ver pelas costas — aviso.

Mas, assim que termino de falar, penso em Beatriz. Ela vai passar os próximos três anos em Boston. Eu me pergunto como a gente vai fazer isso dar certo.

Isto é, se ela quiser que dê certo.

Teria sido muito mais fácil se a gente tivesse se conhecido no ano passado. Merda, ou até no semestre passado, mas agora a gente só tem mais uns poucos meses morando no mesmo estado, e, por razões que não estou totalmente preparado para avaliar, em especial com a minha mãe do lado, a perspectiva da distância entre nós me incomoda pra cacete.

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now