͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏23. beatriz ⋆✴︎˚。⋆

100 36 20
                                        

Fico olhando para Beto, incapaz de compreender o que está dizendo. Quando ele mandou uma mensagem falando que estava vindo me ver em Boston esta noite, achei que teríamos uma conversa séria sobre a nossa gravidez não planejada. Entrei em pânico, disse a ele que estava estudando, e ele não deu a mínima. Acho que suas palavras exatas foram: Tô indo aí. A gente vai conversar.

Passei os sessenta minutos de espera tentando me animar. Disse a mim mesma que estava na hora de agir feito gente grande e lidar com esta gravidez como lido com tudo na vida — de cabeça erguida. Lembrei que Beto tinha dito que ia me apoiar em qualquer escolha que eu fizesse.

Mas nada disso conseguiu me livrar do pânico fechando a minha garganta.

Agora o pânico é ainda pior, mas por outra razão.

— Beau morreu? — Meu coração bate perigosamente rápido. Estou com medo de que pule para fora.

Estou com medo da dor que vejo nos olhos de Beto.

— É. Ele se foi, princesa.

Não consigo entender. Não consigo. Beau é o quarterback titular da Briar. Beau é meu amigo. As covinhas do Beau sempre aparecem quando ele dá aquele sorriso travesso. Beau…

Morreu.

Acidente de carro, parece. O pai sobreviveu, mas Beau morreu.

As lágrimas contra as quais eu estava lutando escorrem por meu rosto em filetes salgados. Tento respirar entre os soluços, mas é difícil, e acabo ofegante. Então Beto me envolve num abraço quente e apertado.

— Respira — sussurra ele contra o meu cabelo.

Eu tento, de verdade, mas o oxigênio não está entrando.

— Respira — ordena, com mais firmeza desta vez, e suas mãos se movem para cima e para baixo em minhas costas, num carinho reconfortante.

Consigo inspirar uma vez, e depois outra, e outra, até que não estou mais tão tonta. Mas as lágrimas continuam caindo. E parece que abriram meu peito e o estão espetando com uma lâmina quente.

— Ele é… — Engulo. — … era. Ele era um cara tão bom, Beto.

— Eu sei.

— Ele era bom e jovem e não deveria estar morto — digo, irritada.

— Eu sei.

— Não é justo.

— Eu sei.

Beto me aperta mais forte. Me aninho contra ele até não haver mais nenhum espaço entre nós. Seu corpo forte e sólido é a âncora de que preciso agora. Isso me permite chorar, xingar e esbravejar contra o mundo, porque sei que Beto está aqui, escutando, dando apoio e me lembrando de respirar.

Uma batida forte nos faz dar um pulo.

— Dá pra fazer silêncio? — diz a voz horrível de Ray. — Como é que vou ver o jogo, com essa choradeira toda? Tá de chico ou alguma coisa assim?

Um soluço estrangulado me escapa da boca. Ai, Deus. Nada como uma interrupção de Ray para realçar o caos emocional que sou — um caos emocional que não menstrua mais. Porque está grávida.

Minha respiração falha de novo.

Beto, sem parar de acariciar minhas costas, responde ao meu padrasto.

— Se você não tá ouvindo a TV, aumenta o volume — grita, com firmeza.

Há uma pausa, e em seguida ele pergunta:

— É você, atleta? Não tinha percebido que a Triz tinha companhia.

— A gente passou bem na frente dele quando você abriu a porta — Beto murmura para mim.

Sim, passamos. Mas Ray está mais bêbado que o normal hoje. Passou o dia num bar de esportes com os amigos enchendo a cara enquanto assistia aos jogos de futebol da tarde.

— Ele mal tava conseguindo andar em linha reta quando chegou — murmuro de volta.

Ray fala de novo, enrolando a língua loucamente:

— Deve tá fazendo alguma coisa de errado, se a vadia tá chorando!

Seguro o braço de Beto antes que ele se levante.

— Ignora — sussurro. Então grito para Ray: — Vai ver o seu jogo. Vamos fazer silêncio.

Depois de mais alguns instantes, ouvimos seus passos se afastando.

As lágrimas molham meu rosto quando me aninho em Beto de novo.

— Você… você… — Limpo a garganta dolorida. — Você pode passar a noite comigo?

— Não precisa nem pedir — murmura ele, antes de dar um beijo suave em minha testa. — Vou ficar aqui pelo tempo que você precisar, linda.

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now