A cozinha está tão silenciosa que parece que estou na igreja. Não que eu tenha ido à igreja com muita frequência. Minha mãe chegou a me arrastar para algumas missas de domingo quando eu era criança, até enfim admitir que preferia dormir até tarde nos fins de semana. Concordei totalmente com ela.
Mas agora nem Deus nem o padre Dave estão me julgando — são meus melhores amigos:
Ulisses: “Por que você não contou antes?”.
Ronaldo: “Tem certeza que vai ter esse filho?”.
Basílio: “Beatriz Dourado, caralho?”.
Aperto um pouco mais a garrafa de cerveja que estou segurando e faço uma cara feia para Basilio. Esta pequena reunião é culpa dele. Dois segundos depois que dei a notícia para ele e Flora, o babaca mandou um S.O.S. para Ulisses e Ronaldo, chamando-os de volta para casa com urgência. Os dois iam dormir no alojamento com as namoradas, e agora me sinto um idiota por ter estragado a noite deles.
— Gente, por que vocês não deixam o Beto falar em vez de ficar jogando um monte de pergunta na cara dele? — diz Flora, num tom cauteloso.
Sei que ela não queria participar disso, mas Basilio a arrastou para a cozinha com a gente, segurou a mão dela e não a deixou sair. Não consigo entender por que ele está tão chateado com isso. Não é ele que está prestes a virar pai. E tenho certeza absoluta de que não está a fim de Beatriz, porque olha para Flora como se fosse a única mulher no planeta. Os dois passaram por maus bocados depois da morte de Beau, mas nos últimos dois meses estão tão apaixonados que chegam a ser enjoativos.
— Beto? — insiste Flora, colocando o cabelo atrás da orelha.
Dou um gole contido na cerveja.
— Não tenho muito que falar. Beatriz e eu vamos ter um filho. Fim de papo.
— Há quanto tempo vocês estão saindo? — pergunta Ronaldo.
— Faz um tempo. — As caras feias me dizem que não gostaram da resposta, então acrescento: — Desde o início de novembro.
Ronaldo parece assustado. Ulisses não, o que me faz estreitar os olhos para ele, exigindo uma explicação.
— Já tava suspeitando. — admite.
Os outros se viram para ele com um olhar acusatório.
— Como assim você tava suspeitando? — exclama Ronaldo.
— Tava suspeitando, ué. — Ulisses me encara do outro lado da mesa. — Vi você segurando a mão dela no velório do Beau.
Vejo um lampejo de culpa brilhar nos olhos de Basilio e sei que está pensando em como ficou enchendo a cara no próprio quarto em vez de ir ao velório de um dos melhores amigos.
Ronaldo se vira para mim.
— Então é sério o negócio entre vocês dois?
Uma gargalhada me escapa.
— Vamos ter um filho. Claro que é sério.
Ou pelo menos estou planejando que seja. Mas Beatriz ainda precisa de tempo. Tempo para se acostumar com a ideia da gravidez. Tempo para baixar a guarda e perceber que pode confiar em mim. Tempo para baixar essa guarda ainda mais e perceber que me ama. Porque sei que ela me ama. Ela só está apavorada demais para admitir ou reconhecer isso, para mim e para si mesma.
— Por que ela não aborta?
A pergunta de Basilio faz Flora engasgar. Os rapazes franzem a testa, e eu fecho a cara para ele.
KAMU SEDANG MEMBACA
A Conquista | BETRIZ
Fiksi PenggemarDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
