Sempre achei que, se engravidasse alguém, seria capaz de contar para os meus amigos. Mas faz quase uma semana que sei que minha namorada está grávida e ainda não falei nada para ninguém.
Na verdade, ninguém nem sabe que tenho uma namorada.
Aliás, nem eu.
Desde que Beatriz fez xixi nos três palitinhos e teve três resultados positivos, está evitando me ver. Trocamos mensagens todos os dias, mas ela insiste que está ocupada demais para me encontrar, porque quer adiantar os estudos para o semestre que vem. Tenho tentado dar a ela o espaço de que obviamente precisa, mas minha paciência está se esgotando.
A gente tem que sentar e discutir isso. Quer dizer, estamos falando de um possível bebê. Um bebê. Meu Deus. Estou enlouquecendo. Sou o cara que não se abala por nada, o cara que aguenta levar qualquer pancada, chute e batida, mas a única coisa batendo agora é o meu coração — e acelerado.
Não sei lidar com isso. Beatriz disse que não podia ter um filho, e pretendo apoiar qualquer decisão que ela tome, mas quero que ela me inclua, caramba. Fico arrasado de pensar nela passando por isso sozinha.
Ela precisa de mim.
— Você vai cozinhar alguma coisa ou vai só ficar olhando pro fogão?
A voz de Ulisses me desperta do sofrimento. Meu colega de república entra na cozinha com Ronaldo a reboque. Os dois vão direto para a geladeira.
— Sério — reclama Ronaldo, olhando o interior da geladeira. — Faz alguma coisa, Beto. Não tem nada pra comer aqui.
Pois é, não comprei nada essa semana. E, quando você mora numa casa cheia de jogadores de hóquei, deixar de fazer compras é uma má ideia.
Fico olhando a panela vazia que coloquei na boca do fogão. Não tinha um cardápio em mente quando entrei na cozinha, e a escassez de ingredientes à mão não me dá muita escolha.
— Acho que vou fazer macarrão — digo, desanimado. Carboidrato a esta hora não é a ideia mais inteligente, mas não estamos em posição de escolher.
— Obrigado, mãe.
Estremeço diante da palavra. Mãe. Ele podia muito bem ter dito pai. Pode ser que eu vire pai, porra.
Inspiro fundo e encho a panela com água.
Ronaldo sorri para mim.
— Não esquece o avental.
Mostro o dedo do meio para ele no caminho até a despensa.
— Seus preguiçosos, um de vocês podia tomar vergonha na cara e picar umas cebolas — murmuro.
— Pode deixar — se prontifica Ulisses.
Ronaldo senta à mesa da cozinha e, feito um idiota, fica observando a gente preparar um jantar tardio.
— Faz pra cinco — diz ele. — Basilio tá treinando com Hunter hoje. Pode ser que ele venha pra cá.
Ulisses me olha, zombeteiro.
— Que nada… Acho que a gente vai fazer só pra quatro; né, Beto? Se o Hunter aparecer, ele come no lugar do Ronaldo.
— Boa ideia.
Nosso colega de república revira os olhos.
— Vou contar pro treinador que você tá tentando me matar de fome.
— Faça isso — diz Ulisses, com gentileza.
Ponho a panela no fogo. Enquanto espero a água ferver, vasculho a gaveta da geladeira em busca de algum legume. Encontro um pimentão e duas cenouras. Que seja. Posso muito bem picar e jogar no molho.
KAMU SEDANG MEMBACA
A Conquista | BETRIZ
Fiksi PenggemarDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
