͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏18. beatriz ⋆✴︎˚。⋆

90 38 24
                                        

A língua de Beto está na minha boca antes mesmo de eu fechar a porta da frente. Apesar das ondas de calor que me tomam o corpo, me forço a interromper o beijo. Vovó está na cozinha, e não preciso dela testemunhando isso.

— Minha avó tá em casa — murmuro.

Imaginei que ele ficaria decepcionado, mas Beto apenas assente com a cabeça.

— Legal. Quer me apresentar?

Se tem uma coisa que aprendi neste último mês em que tenho saído com Beto é que nada afeta esse cara. Ele leva tudo na boa, e se adapta conforme necessário. Não sei nem como ele é quando fica irritado.

— Deixa eu te avisar:  vovó é meio… direta. — É a minha forma delicada de dizer grossa. No caminho da cozinha, torço para que ela não seja rude com Beto.

Ela está à mesa quando entramos, folheando um exemplar da US Weekly.

— Ray esqueceu a chave de novo? — pergunta, sem erguer os olhos.

— Hum. Não. — Eu mudo o peso de perna, sem jeito. — Vó, este é o Beto.

Sua cabeça voa na direção dele. Imediatamente, os olhos se enchem de interesse. Ela estuda Beto da cabeça aos pés, devorando-o de uma forma tão descarada que sinto o rosto corar.

— Vó! — repreendo.

Ela parece despertar.

— Muito prazer, Beto.

Ela enfatiza a palavra muito.

Ótimo. Minha avó está dando em cima do meu… bem, não sei o que ele é. Mas o tom sedutor da vovó não é legal.

— Sou Carmen, avó da Beatriz.

— Prazer em conhecer, senhora. — Ele estende a mão, e ela a aperta por tempo suficiente para ele parecer pouco à vontade quando recua.

— Beatriz não falou que tinha um namorado.

— Somos só amigos — respondo.

Os ombros de Beto ficam tensos.

Ah, droga. Não queria machucá-lo. Só não quero minha avó se intrometendo e perguntando quando é o casamento, ou alguma merda assim.

— Achei que você era ocupada demais pra ter amigos. — Ela levanta a sobrancelha, zombeteira.

Cerro os dentes.

— Não sou ocupada demais para ter amigos. Saio com Hope e Cora, não saio?

Em vez de responder, ela se vira para Beto.

— Então, o que os dois amigos vão fazer hoje?

Respondo antes que ele diga qualquer coisa.

— Vamos ficar no meu quarto um pouco. Talvez ver um filme ou algo assim.

Um sorrisinho sabido desponta em seus lábios.

— Então tá. Mantenha o volume baixo, tá bom?

E todos nós sabemos que ela não está se referindo ao volume da televisão.

Com as bochechas pegando fogo, arrasto Beto para fora da cozinha.

— Desculpa — digo, quando chegamos ao corredor. — Ela às vezes é meio indelicada.

Ele me encara com um olhar firme.

— Por que seria indelicadeza ela perguntar o que somos um para o outro?

Desvio o rosto. Ele me pegou.

A verdade é que o motivo pelo qual não quero minha avó fazendo perguntas é porque não tenho nenhuma resposta. Não sei o que Beto e eu somos um para o outro. Só sei que sinto falta quando ele não está por perto. Que toda vez que aparece uma mensagem dele no meu celular, meu coração flutua feito um balão de gás. Que quando ele me olha com aqueles olhos castanhos de pálpebras pesadas, esqueço meu próprio nome.

Vamos até o meu quarto, e ele senta na beirada da cama enquanto fecho e tranco a porta. Dois segundos se passam. Então ele dá um tapinha nas coxas e me chama:

— Vem aqui, princesa.

Estou em cima dele num piscar de olhos, as pernas envolvendo sua cintura e os dedos enfiados em seu cabelo dourado.

— Senti muita falta de você — sussurro, apertando os lábios nos seus.

Beijar Beto é como entrar numa banheira quente. Faz minha pele formigar e transforma meus membros em geleia, envolvendo-me num casulo de calor do qual não quero nunca mais sair. Sua língua saboreia o meu lábio inferior antes de entrar na minha boca. Suas mãos estão quentes e firmes quando ele as desliza por baixo da minha camiseta e acaricia meu quadril nu.

Quando me dou conta, estamos entrelaçados na cama, arrancando as roupas um do outro sem desgrudar as bocas. Logo que ficamos nus, meu corpo se aperta contra o dele, ansiando por algum alívio. Beto está tão frenético quanto eu. Não há preliminares, nem trocamos uma única palavra. Pego uma camisinha na mesa de cabeceira e jogo para ele, que a coloca depressa.

É o sexo mais silencioso que já fizemos. Tem que ser, porque vovó está bem ali no corredor. E tem algo de muito excitante e devasso nessa transa silenciosa. Ele me enche por completo, entrando e saindo do meu corpo pulsante num ritmo lento e doce que me deixa louca.

— Estou quase — sussurra, no meu ouvido.

Abro os olhos e vejo seu rosto bonito contraído, os dentes cravados no lábio inferior num esforço para não fazer barulho.

A visão fenomenal despedaça a tensão dentro de mim. Com o orgasmo despontando, arfo e agarro seus ombros largos, apertando-o com força, enquanto ele treme em cima de mim.

Depois, ele vira para o lado e me puxa para junto de si. Seus dedos enroscam no meu cabelo, e eu passo uma perna sobre a parte inferior do seu corpo. Ficamos abraçados em silêncio por um tempo, até que Beto enfim começa a me contar o que tem feito. Trocamos mensagens regularmente, então já conheço a maioria das histórias, mas a voz dele é tão sensual que o ouviria recitar o cardápio de um restaurante para ter o seu sotaque arrastado do Texas no meu ouvido.

Abafo o riso com a palma da mão quando ele me conta como a namorada do Basilio — quem diria — apagou o cara com um peso de papel ontem à noite. Beijo seu ombro quando ele confessa o quanto está ansioso para ver a mãe nas férias de fim de ano. E, quando admito como estou estressada com as provas finais, ele acaricia minhas costas e garante que vou me sair bem.

Por fim, nos vestimos e colocamos um filme, mas só ele assiste. Abro um livro e começo a sublinhar os trechos que quero usar no meu artigo. Beto ri baixinho da comédia obscena passando na pequena televisão pendurada na minha parede.

De vez em quando, ele se debruça e beija minha têmpora, acaricia minha bochecha, brinca com meu mamilo.

De vez em quando, eu me debruço e chupo seu pescoço, mexo com sua barba, aperto sua bunda.

É a noite mais perfeita que eu jamais poderia ter imaginado. E, lá no fundo, uma pequena voz fica sussurrando: “acho que eu conseguiria me acostumar com isso.

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now