quatro de julho.
— Numa escala de um a “estou prestes a pular deste carro em movimento”, o quanto você diria que está pirando agora?
Beatriz desvia o olhar da janela num sobressalto. Estava fitando a paisagem de Boston como se nunca tivesse visto antes, embora tenha morado aqui a vida inteira.
— Dá pra ver que estou ansiosa? — Ela faz uma careta, achatando os lábios carnudos.
— Seus dedos estão brancos, então ou você está sofrendo de uma condição grave que precisa de cuidados médicos imediatos, ou está cortando o fluxo de sangue intencionalmente.
De canto de olho, vejo-a desenrolar os dedos devagar até eles estarem esticados e rosados de novo.
— Nunca conheci os pais de um namorado antes — admite, brincando com os botões do rádio.
— Ainda bem que só tem a minha mãe — brinco. Então assimilo suas palavras. — Espera, nunca?
Lembro que ela me disse que nunca teve um namorado antes, mas achei que estivesse falando da faculdade. Beatriz é linda. Se a conhecesse no colégio, teria batido cartão na frente do seu armário todos os dias até ela concordar em sair comigo.
Agora tudo faz sentido, o motivo pelo qual está tão à flor da pele desde que eu disse que minha mãe vinha conhecê-la. Primeiro, eu e Beatriz pensamos em ir para o Texas, mas pagar duas passagens de avião e um aluguel de carro não fazia sentido, mesmo que minha mãe tivesse que remarcar alguns compromissos. Além do mais, várias companhias aéreas se recusam a levar mulheres grávidas. Acho que não gostam muito da ideia de partos a bordo.
A vantagem de ficar em Boston é que posso trabalhar neste feriado e ganhar um pouco daquela hora extra de que Beatriz sempre se gabava. Tenho trabalhado meio período numa equipe de construção da cidade e estou ganhando um dinheiro razoável, o que é ótimo, porque estou tentando não usar minhas economias, a menos que realmente precise.
— Já falei — murmura Beatriz no banco do passageiro. — Nunca tive namorado.
Abandonando o rádio, ela se recosta com um suspiro. A barriga está grande o suficiente para que não consiga mais cruzar os braços, a menos que os apoie no abdome. Que não é uma prateleira, segundo ela mais de uma vez já me lembrou.
— Achei que você tava falando da faculdade. Os meninos do seu colégio eram cegos, surdos e mudos?
— Não. Eles vinham atrás de mim, mas eu não tinha tempo pra eles. — Ela massageia distraída a curva da barriga.
Toda vez que olho para ela, fico impressionado mais uma vez com o fato de que minha filha está dentro do seu corpo. O que também me deixa com tesão pra caralho. Graças a Deus estamos transando regularmente de novo.
— Eu estava o tempo todo correndo atrás do dinheiro da bolsa — continua ela. — Trabalhei quase que em tempo integral no correio desde que tinha dezesseis anos. No verão, trabalhava de garçonete à noite e no correio de dia. Homens eram… desnecessários. Tirando “você sabe pra quê” — ela aponta vagamente para a virilha. — Além do mais, eles não sabiam usar o equipamento direito na escola. Eu ficava melhor por conta própria em casa.
Meu pau se contrai debaixo do zíper. A ideia de Beatriz brincando consigo mesma me deixa tonto, e tenho que esperar um pouco até o sangue voltar ao meu cérebro.
— E você? Namorava muito na época do colégio? Era o ídolo da turma? — brinca ela.
— Não. Namorei três meninas. E os ídolos no Texas sempre são jogadores de futebol americano.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
