Tento esboçar um sorriso.
— Gostou de conhecê-la pessoalmente?
— Que pergunta é essa? Claro que gostei. É minha única neta.
Meu meio sorriso desaparece. Engulo em seco de novo. Ai, Deus, esta visita vai ser brutal.
— Vou dar uma olhadinha nela. — Enfio uma caixa de suco na geladeira antes de fugir da cozinha.
No quarto de Dandara, a cama desfeita que Beto e Fitzy trouxeram na semana passada escarnece de mim. A pilha de lençóis numa ponta só serve para realçar minha inépcia como mãe e dona de casa. Se essas são características que a sra. Sobral valoriza numa nora, então estou falhando terrivelmente.
Dandara está dormindo em paz no berço, bem enroladinha no lençol. Resisto ao desejo de pegá-la, apesar de saber que segurar seu corpinho lindo e incapaz de críticas vai fazer com que eu me sinta muito melhor. Mas ela precisa dormir, e eu tenho mais o que fazer.
O mais silenciosamente que posso, arrumo a cama e saio do quarto para me juntar à sra. Sobral na cozinha.
— Quer beber alguma coisa? — ofereço. Ela está refogando a cebola numa panela, enchendo o apartamento com o cheiro perfumado de ervas e alho.
— Não. Estou bem assim.
— Posso ajudar com o…
Aponto para o fogão.
— Ensopado? — completa ela. — Não.
Certo. Umedeço os lábios e considero minhas opções. Minha preferida é me esconder no quarto até Beto chegar, mas, quando meu olhar cai na pilha de pratos, decido que devo arrumar as coisas primeiro. Mesmo que tenha que conversar com alguém que obviamente me acha o cocô do cavalo do bandido.
— Beto já te mostrou o clube? — pergunto, empilhando as tigelas primeiro. — Ele fez um trabalho incrível e já tá ganhando um dinheiro bom.
O bar tem lotado desde que abriu.
— É cedo ainda. A maioria dos clubes fecha em dois anos. Não era com isso que eu queria que ele gastasse o dinheiro do pai. — Ela franze os lábios. — Teria dito, se ele tivesse me perguntado.
Ainda bem que não perguntou. Está na cara que Beto ama o clube. Já está até falando em comprar outro, pois, pelo fluxo de caixa estimado do primeiro ano, vai ter lucro suficiente para investir em outra coisa. Ele é um homem de negócios, não um barman, como qualquer um que o escuta por cinco minutos é capaz de atestar. Ele fala de alavancagem financeira, retorno de investimentos, margem de lucro e oportunidades ocultas.
— Acho que vai ser um grande sucesso — declaro, confiante.
— Por que não acharia? — Ela bufa. — Beto podia ter comprado a imobiliária da nossa cidade. Ele deveria estar trabalhando num escritório, não num bar.
Ela pronuncia bar como se dissesse prostíbulo.
— E agora está morando em cima dele. — E solta mais um suspiro enorme de decepção. — O pai dele não teria gostado.
Não sei como responder, então volto a conversa para Dandara, porque certamente ela não poderia criticar Dandara.
— Dandara estava acordada quando você chegou? Ela é tão inteligente. Lemos para ela todos os dias. Vi um artigo que diz que se você ler pra sua filha por pelo menos duas horas por dia, ela vai se tornar uma leitora avançada.
Estou começando a soar como a minha avó, soltando pseudofatos de sites duvidosos como se fossem o evangelho.
A mãe de Beto ignora minhas observações.
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A Conquista | BETRIZ
FanfictionDe todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏44. beatriz ⋆✴︎˚。⋆
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