͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏ ͏40. beatriz ⋆✴︎˚。⋆

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Embaixo da mensagem, ele mandou uma foto de Dandara dormindo na dobra do seu braço. Meu coração se aperta, e o lugar entre as minhas pernas — que eu achei que tinha morrido no trabalho de parto — pulsa descontroladamente. Não tem nada mais sexy do que um pai dedicado.

Beto põe meus hormônios para fazerem uma dancinha feliz.


Porque não quero te afugentar

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Porque não quero te afugentar.

Claro que não escrevo isso.

Claro que não escrevo isso

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Hope e Cora compraram para mim um livro chamado Go the Fuck to Sleep [Vai dormir, porra]

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Hope e Cora compraram para mim um livro chamado Go the Fuck to Sleep [Vai dormir, porra]. Já li para Dandara uma centena de vezes. Não funciona. Uma porcaria. No fim de semana, Dandara decidiu que é alérgica a sono. O único momento em que fecha os olhos é quando estou em movimento.

Embora eu consiga ler e andar ao mesmo tempo, dormir e andar simultaneamente está além das minhas habilidades, e é por isso que começo minha terceira semana na faculdade de direito atrasada em oitocentas páginas. Me arrasto para a aula de contratos sem ter lido uma palavra sequer para a matéria. Consegui me virar com direito penal, mas foi só isso.

Tomara que o professor Clive chame qualquer um além de mim hoje.

— Na semana passada, analisamos os dois primeiros elementos que formam um contrato. Sr. Bagliano, por favor, explique para a turma esses dois elementos e a resolução do caso Carlill, de 1898.

O sr. Bagliano, que parece tão italiano quanto o sobrenome sugere, recita obedientemente os dois princípios que aprendemos na última aula.

— Oferta e aceitação. O caso Carlill, de 1898, questionou se um anúncio publicitário poderia ser interpretado como uma oferta. O caso foi julgado pela Corte Inglesa de Apelações, que considerou que se tratava sim de uma oferta de vínculo unilateral que poderia ser aceita por qualquer pessoa que respondesse ao anúncio.

— Excelente, sr. Bagliano.

O professor Clive consulta uma folha de papel que imagino conter todos os nossos nomes.

Fecho os olhos e rezo para que meu nome desapareça magicamente da lista.

— Srta. Dourado, explique para nós qual é o terceiro elemento de um contrato e a resolução do caso Borden.

Com o coração na boca, olho à minha volta, desesperada, como se de alguma forma pudesse ler a resposta nos olhos de um dos meus colegas. Nenhuma lâmpada aparece sobre a cabeça de ninguém, muito menos na minha.

Ao meu lado, um cara cujo nome não me dei o trabalho de aprender tenta me soprar alguma coisa. Parece confederação. Isso não faz sentido. Ele tosse “confederação” de novo na mão. Um riso nervoso se espalha pela sala, e minhas bochechas queimam feito duas fogueiras.

Lá embaixo, no palanque, o professor Clive comprime os lábios em desaprovação.

— O que o sr. Gavriel está tentando dizer, srta. Dourado, é consideração. — Ele volta o olhar para o pobre rapaz ao meu lado. — Sr. Gavriel, já que sabe a resposta, talvez possa explicar a resolução do caso.

O sr. Gavriel me lança um olhar de piedade antes de pegar as anotações impecáveis e passar a discutir mutualidade, promessas ilusórias e umas outras merdas que não tenho a menor ideia do que sejam.

Casualmente, pego um caderno e cubro meus garranchos, escondendo o lugar em que a tinta borrou e manchou a página seguinte por causa da minha baba, de quando dormi em cima do papel, além de uma boa dose de leite materno e baba de bebê.

É difícil prestar atenção ao final da aula com a vergonha rugindo em meus tímpanos, mas faço milhões de anotações, na esperança de que, quando revisar essa porcaria mais tarde, tudo vai fazer sentido.

Ao final da aula, o professor Clive me chama até a frente da sala.

Ele leva os dedos estendidos ao queixo.

— Srta. Dourado, a professora Fromm compartilhou comigo sua circunstância familiar, e, embora eu entenda o quão difícil deva ser para você, os padrões em sala não são modificados devido à maternidade.

Rígida, respondo:

— Não achei que seriam. Peço desculpas por hoje e prometo que não haverá mais lapsos no futuro.

— Certamente espero que não, mas nosso sistema de avaliação é comparativo, e alguém tem que ficar em último.

Ergo a mão para esfregar o pescoço, não porque está coçando, mas por causa do impulso irresistível que tenho de mostrar o dedo do meio para ele.

— Não serei eu — asseguro.

Ele me olha por um longo e desconfortável momento antes de me dispensar com um leve aceno de cabeça.

— Veremos.

A Conquista | BETRIZ Where stories live. Discover now