De todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
Quando chego à biblioteca, estou um caos. O funcionário que guarda a chave da sala de amamentação a entrega para mim com o maior cuidado possível para não me tocar.
Tem uma mulher saindo quando entro.
— Toda sua — diz ela, alegremente.
— Obrigada — é a minha resposta contida.
Ela segura a porta enquanto me apresso para dentro da sala.
— Dia ruim?
Sua voz é tão gentil e compreensiva que quase perco o controle.
— Você não tem ideia — respondo, mas logo percebo que ela, de todas as pessoas, provavelmente tem ideia, sim. — Quer dizer, talvez tenha. Mas, sim, tá sendo um dia de merda.
— Espera um segundo. — Ela procura algo na bolsa. — Aqui. — E me entrega uma pequena embalagem de plástico. — Tenho um par extra e nunca usei.
— O que é isso?
Viro a embalagem, examinando os adesivos de silicone em forma de pétala.
— É pra pôr no mamilo, segura o vazamento.
— Sério?
Encaro-a, pasma.
— Sério. Não é perfeito, e, se você esperar muito, o leite acaba gastando a cola, mas funciona.
Aperto o pacote com força no punho cerrado, sentindo um alívio esmagador. Mais uma vez, tenho que lutar contra as lágrimas.
— Eu te abraçaria agora se não estivesse tão nojenta. Mas muito obrigada. — Vejo um livro vermelho com letras pretas e douradas na lombada saindo da sua bolsa. — Primeiro ano de direito? — pergunto.
— Terceiro, na verdade. Achei que ia consegui terminar a pós antes de isso acontecer. — Ela aponta a bolsa térmica que está carregando. Deve ser o leite. — E você?
— Primeiro ano.
Ela faz uma careta.
— Boa sorte, querida. É só lembrar que vai ficando mais fácil a cada ano. O primeiro é só uma guerra de exaustão. — Ela me dá um tapinha nas costas. — Você vai ficar bem.
Entro e coloco a bomba de sucção no peito. A biblioteca está a uma boa caminhada da faculdade de direito, mas é onde fica a bomba, o que significa que só tenho que trazer mamadeiras, válvulas e tubos, e não precisei gastar uma fortuna com uma bomba portátil. Minha conta-corrente já está chorando com o estrago que meus livros didáticos fizeram nela.
Abro os botões da blusa de seda e tiro o sutiã. Devia estar com nojo, mas estou cansada demais. Estou sobretudo ligeiramente irritada com esta máquina idiota, que leva vinte minutos para tirar do meu peito cinquenta mililitros de leite que Dandara nem quer tomar.
Balançando na cadeira, pego o celular para ler minhas mensagens. Hope e Cora me escreveram, mas ignoro e abro a mensagem de Beto.
Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.