De todos os jogadores do time de Hóquei da universidade de Briar, Beto Sobral se destaca por ser o mais sensato, gentil e amável. Diferente de seus amigos mulherengos, ele sonha mesmo é com uma vida tranquila: esposa, filhos e, quem sabe um dia, abr...
Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
Visualizo Beto com outra mulher, segurando outro bebê ao lado de Dandara, e uma dor lancinante brota em meu peito. Cora não está nem um pouco errada. Não me sinto pronta para ver Beto seguindo em frente, não importa o quão indiferente e insensível eu tente ser.
Dandara dá um grito agudo, olho para baixo e vejo sua boquinha linda procurando meu mamilo de novo.
Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.
Dandara abre a boca, e o volume que seus pulmões alcançam surpreende até a mim. É como se tivesse um amplificador na sua garganta.
— Shhhh. Shhhh.
Levanto e pego a manta da cadeirinha do carro. Preciso de algumas tentativas até conseguir enrolar Dandara feito um pacotinho. O tempo todo, estou sussurrando shhhh. Tem um monte de gente na internet que defende um sistema de cinco passos: sussurrar baixinho, enrolar numa manta, ninar, deitar de lado ou de barriga para baixo e… Droga, não lembro o último.
Dandara não parece aprovar meu esquecimento. Seu rosto se contorce de infelicidade, e ela berra para o mundo sua opinião sobre minhas habilidades maternas.
— Sussurrar, manta, ninar, de lado, de barriga pra baixo… Qual era o último? Cantar?
Cantarolo algumas notas.
Dandara continua gritando.
— Cacete, que merda tá acontecendo aí dentro? — Ray acordou e está batendo na minha porta.
— Vamos, Dandarazinha. Para de chorar. Mamãe tá aqui.
Dandarazinha não dá a mínima. Grita mais alto ainda.
— Chupar! — exclamo, em triunfo. — O último passo é chupar alguma coisa!
Corro até a cômoda no canto, onde estão todos os itens de Dandara. A porta se abre, e minha avó entra às pressas.
— O que você tá fazendo com essa criança? — grita mais alto que a bebê.
— Eu disse que ela ia foder tudo. — Ray está logo atrás dela, doido pra se meter onde não foi chamado.
— Ray, já chega. Vai comer sua rabanada. — Minha avó me empurra para o lado. — O que você tá procurando?
— A chupeta.
Vasculho por entre macacões, mantas e cueiros até encontrar uma chupeta.
— Pensei que você tava amamentando — comenta minha avó, quando tento enfiar a chupeta na boca de Dandara. Sua língua é mais forte que a da namorada de Beto no nono ano. Depois que ela cospe pela quinta vez, eu desisto.
— O que eu faço? — pergunto para minha avó, desesperada.
— Ela quer o peito — diz Ray da porta.
Será que ele está certo? Em pânico, levanto a camiseta, sem me importar que Ray vai ver meu peito nu. Dandara gruda em mim quase que imediatamente, o corpo todo tremendo de chorar. Pequenos soluços interrompem a mamada, mas pelo menos o choro parou. Afundo na cama de alívio.
No meio do quarto, minha avó balança a cabeça.
— Você não deveria ter deixado a menina viciada em peito. Agora só vai querer isso.
— Eu tô gostando. — Ray me faz um sinal de positivo com o polegar. — Belos peitos, Triz.
— Sai daqui — retruco, soltando a camiseta. Dandara dá um gritinho quando o tecido cai sobre seu rosto. — Sério, sai agora. Vó, por favor.
— Você deveria ter dado mamadeira — repreende minha avó.
— Você deveria tirar a camiseta — é a sugestão útil de Ray.
Cerro os dentes.
— Preciso de um pouco de privacidade. Por favor.
— Como você vai dar de mamar quando estiver na aula? — pergunta minha avó.
Dandara começa a chorar de novo. Levanto a camiseta, apesar de Ray estar me vendo. Dou outro olhar suplicante para minha avó, que finalmente se move em direção à porta.
— Anda, Ray. Seu café vai esfriar.
— Isso não vai funcionar, Carmen — murmura ele. — Essa criança não pode ficar grudada no peito da Triz o dia todo.
— Deixa as duas em paz. — Minha avó olha feio para ele antes de se voltar para mim. — Bebês choram.
Levanto a camiseta antes mesmo de a porta se fechar. Dandara se acalma quando levo meu mamilo à sua boca. Quando ela começa a sugar de novo, a tensão começa a se esvair de mim.
Puta merda.
Não sei se vou conseguir sobreviver a isso. Sua cabecinha parece ainda menor diante do meu seio gigante, mas, quando seus olhos se abrem e sua mão começa a me apertar, o amor inunda meu corpo com tanta força que chego a me sentir mole.
O processo inteiro de amamentação leva menos de quinze minutos. São os únicos quinze minutos de paz que tenho pelas próximas duas horas. Não consigo colocá-la no berço. Toda vez que tento, Dandara começa a chorar, o que desencadeia um ataque de gritos entre mim, Ray e vovó. Então acabo carregando-a pela casa, aprendendo a comer só com uma das mãos e gastando três fraldas na primeira troca, porque arranquei as fitas adesivas das duas primeiras.
Quando Beto liga ao meio-dia, estou exausta.
— Papai tá ligando — digo para Dandara, que me olha com olhos semicerrados. Estou no chão, segurando o pacotinho nos braços.
— Como tá indo? — pergunta ele, quando atendo.
— Já tive dias melhores. — Levanto Dandara um pouquinho mais no ombro. Seu rosto está enterrado no meu pescoço. — Mas acho que você tinha razão. A gente não deveria ter saído do hospital.
— Agora não tem mais volta.
— Você não tem ideia.
— Me conta do seu dia.
E fico tão agradecida de ouvir sua voz calma que quase caio no choro. De alguma forma, consigo me conter e conto sobre como Dandara vai ganhar medalhas olímpicas em levantamento de peso, porque já é forte pra cacete, ou como poderia ser mágica, porque consegue escapar de todas as mantas com que tento envolvê-la.
Beto ri e me encoraja, e, quando desligo, estou convencida que sou capaz.